segunda-feira, 29 de março de 2010

22

Este fim-de-semana foi maioritariamente meu. Com partilhas incorporadas. Mas foi mais meu. Mais horas para dormir. Mais horas dedicadas a tratar das minhas coisas. Tem-me acontecido momentos de introspecção. Talvez por um aniversário estar mais próximo. Tem sido um ano duro. É um facto. Muita coisa para lidar. Guerras interiores que me levam ao chão. Não são poucos os sentimentos menos bons que se apoderam de mim. Mesmo que contrabalançados com sensações bonitas, leves e capazes de modificar o ser humano mais descrente.

No decorrer deste fim-de-semana dei comigo a pensar naqueles momentos únicos que se estabelecem entre duas pessoas. Como é raro existir um entendimento único logo na primeira vez em que há um cruzar de olhares. palavras. sensações.

E isto levou-me a ti. Tanta coisa que me leva a ti. A história que nunca escrevi é a nossa. Foi a única que me cegou os olhos e me bloqueou as mãos. Guardei tudo dentro dos meus olhos e o acesso deixou de acontecer. Foi uma praga tua? Não seria estranho que assim fosse. A tua postura relativamente a mim foi sempre pautada de loucura. A loucura de quem ama e de quem teme a perda. Eu sempre fui mais leve. Optei por outra forma de ver as coisas. Sim, corroía-me por dentro que um dia acontecesse deixaresde me amar. ou que fosses embora. Mas fui discreta nesses tormentos. Não os deixava escritos pela casa como declarações de amor. não acordava a meio da noite à tua procura. Não tinha ataques de pânico. Tu e os teus dramas. E o tanto que eles me assustavam.

Acabei por ser eu a perder-te. Sabes, agora que não estás aqui posso dizer-te que nunca antevi uma eternidade para nós. no entanto, achei sempre que serias tu a perder-me. e não ao contrário. O egocentrismo sempre entalou muita gente. não é verdade, minha querida? Não quis acreditar da primeira vez que o ouvi. Primeiro sorri quando soube que eu era o teu número de emergência. depois não consegui dizer nada. enquanto o tipo do hospital me contava que tinhas tido um acidente. tu, um acidente? A condutora mais calma e pacifica de Lisboa. Vim a descobrir que a culpa não tinha sido tua. Não duvidei nunca do contrário. Mas morreste. Logo ali no local, sem qualquer possibilidade de te despedires. Sem qualquer possibilidade de nada. Confesso-te que depois do abalo inicial, só me questionava quem é que ia cuidar do teu gato. Eu não podia ser. O mais certo era que morresse à fome. Os teus pais quiseram ficar com ele. Disseram que seria a tua vontade. Sabiam eles lá qual era a tua vontade. A tua vontade era que ele ficasse na casa onde vivemos durante quatro anos. E que eu tivesse a coragem de cuidar das coisas. Era o expectável. Eu sempre fui contra as expectativas alheias. Mesmo contra as tuas. Sempre me achei mais confortável na desilusão. A minha sorte foi ter uma inteligência que me avisava quando o momento ideal para surpreender. Portanto, tiveste-me assim entre os sucessos e os fracassos. Entre as discussões irrisórias e os momentos de amor denso e quente.

Passado dois meses decidi sair daquela casa. Não suportava acordar todas as noites com a tua voz. Vivia numa selva. Safou-me a D. Maria José que continuou a lá ir uma vez por semana. Dizia-me: "Sabe o que podia fazer menina? Fingir que ela ainda está viva. E que continua a zangar-se consigo porque não arruma as coisas.". Achava-lhe graça. Mal sabia ela o quanto eu te ouvia e como as minhas acções eram o contrário do suposto. Portanto, mudei-me. Continuei a pagar a renda da outra casa. Só para lá guardar as tuas coisas. Não mudei nada de sítio. Nada. E de vez em quando, vou lá para te sentir. Só me permito pensar em nós quando estou deitada no nosso sofá. Tive de me organizar, sabes? E apenas pensar em ti naquele espaço. Acho que falo contigo enquanto vemos a tua colecção de clássicos. A um passo da loucura, é onde provavelmente estou. Não faz mal. Não me sinto mal por isso.

A casa já era tua antes de ser nossa. Levaste-me lá da primeira vez que nos conhecemos. Eu não achei estranho. Ia muitas vezes à casa de mulheres logo no primeiro encontro. Achei-te alguma graça. Não sei bem porquê. Aliás, levei tempo a perceber o porquê. Não eras propriamente bonita. Ou interessante. Tinhas qualquer coisa, isso tinhas. Era sábado à tarde. Conhecíamos-nos de vista. E esse é um ponto confortável para podermos proferir um olá. Sim, foi um olá o prólogo da nossa história.

Um olá. e depois um como estás. e logo a seguir tens ido ao bar qualquer coisa. sim, tenho ido. eu não, tenho tido muito trabalho. pois, e vais fazer agora alguma coisa? vou a uma loja. queres vir? sim, aproveito e também vejo algumas coisas. eu vou ver e comprar. se calhar depois de ver compro. e depois? depois de quê? de comprares. depois se calhar podemos ver como ficam em minha casa. as coisas que compraste? sim. ok.


foi assim. o primeiro dialogo. da loja, fomos para tua casa. sentamos-nos na tua varanda a beber cerveja e a fumar um charro. conversamos muito. rimos também. não foi? e houve um momento em que foste por música e começaste a dançar. não era bem dançar. era mexer a anca e a cintura. vidraste-me. sim, acho que foi a primeira vez que me roubaste os olhos. depois os meus olhos foram sempre teus. teus. da varanda fomos para o chão da tua sala. tinha um tapete enorme mais escuro que o vermelho. demoramos-nos um pouco no silêncio. e do silêncio foi um passo até se ouvir o som de dois lábios que se tocam. afastaste-me não sem antes corresponderes. depois afastaste-me. eu achei bem que o fizesses. só sei que sou inconveniente depois de o ser.

depois começou outra conversa.

beijaste-me. é verdade. não devias ter feito isso. porquê? porque não é correcto. Namoras, é? Não. Então é incorrecto porquê? conhecemos-nos hoje. não, já nos conhecíamos de vista. não interessa. só a ti é que não interessa. pois. queres que vá embora? não sei bem o que quero. isso é tipicamente feminino. o querer e o não querer na mesma frase. no mesmo momento. chateia-te isso? um pouco sim. preferia que não tivesses correspondido no beijo. ou simplesmente que me afastasses. porquê? porque agora fiquei confusa. sobre? o que tem mais peso, o teres correspondido ou o me teres afastado. é uma boa questão. é, eu sei. queres uma resposta? Não, quero apenas ter a certeza que se te beijar agora, não me vais afastar.

e beijei e não fui afastada. começou assim. a nossa história começou assim.

Fez dois anos que sem culpa morreste. os teus pais ficaram com o gato. eu mudei-me mas continuo a pagar a renda da outra casa. é onde tu estás, é onde eu me permito estar contigo. fora isso, tenho uma vida minimamente normal. as casas mantém-se limpas porque a D. Maria José continua a fazer a limpeza uma vez por semana. eu vou cozinhando. respeito os teus planos alimentares. tive de passá-los para computador porque estavam quase imperceptíveis. o trabalho corre bem. vou namorando. agora dá-me para as miúdas mais novas. nunca consegui estar com alguém que de algum modo me lembrasse de ti. acabo por sair com pessoas que não me interessam minimamente. mas é isto que se chama fazer-nos à vida, não é? deve ser. reagir quer à tua morte, quer à morte do amor. morreram ambos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

N




There is love in your body but you can't hold it in
It pours from your eyes and spills from your skin
Tenderest touch leaves the darkest of marks
And the kindest of kisses break the hardest of hearts

The hardest of hearts
The hardest of hearts
The hardest of hearts

There is love in your body but you can't get it out
It gets stuck in your head, won't come out of your mouth
Sticks to your tongue and shows on your face
That the sweetest of words have the bitterest taste

Darling heart, I loved you from the start
But you'll never know what a fool I've been
Darling heart, I loved you from the start
But that's no excuse for the state I'm in

The hardest of hearts
The hardest of hearts
The hardest of hearts

There is love in our bodies and it holds us together
But pulls us apart when we're holding each other
We all want something to hold in the night
We don't care if it hurts or we're holding too tight

There is love in your body but you can't get it out
It gets stuck in your head, won't come out of your mouth
Sticks to your tongue and it shows on your face
That the sweetest of words have the bitterest taste

Darling heart, I loved you from the start
But you'll never know what a fool I've been
Darling heart, I loved you from the start
But that's no excuse for the state I'm in

The hardest of hearts
The hardest of hearts
The hardest of hearts

My heart swells like a water at work (?)
Can't stop myself before it's too late
Hold on to your heart
'Cause I'm coming to take it
Hold on to your heart
'Cause I'm coming to break it

Hold on hold on hold on hold on hold on

quinta-feira, 25 de março de 2010

M





This is the book I never read
These are the words I never said
This is the path I'll never tread
These are the dreams I'll dream instead
This is the joy that's seldom spread
These are the tears...
The tears we shed
This is the fear
This is the dread
These are the contents of my head
And these are the years that we have spent
And this is what they represent
And this is how I feel
Do you know how I feel?

21

A few questions that I need to know
how you could ever hurt me so
I need to know what I've done wrong
and how long it's been going on
Was it that I never paid enough attention?
Or did I not give enough affection?
Not only will your answers keep me sane
but I'll know never to make the same mistake again
You can tell me to my face or even on the phone
You can write it in a letter, either way, I have to know
Did I never treat you right?
Did I always start the fight?
Either way, I'm going out of my mind
all the answers to my questions
I have to find


All saints - Never ever

domingo, 14 de março de 2010

20

Escrever.

Houve um tempo que não escrever era ficar doente. Porque escrever era manter-me de mente sã. Geralmente escrever muito queria dizer que a mente estava sã e o coração em vias de extinção. Hoje em dia, não fico doente se não escrever. Nem me sinto menos sã. O coração. Não há muito a dizer. Li em qualquer lado que seria errado admitir que o amor estivesse apenas alojado no coração. Por este ser feio e não sei mais o quê. E eu concordo. O amor no coração? Que imagem patética. O amor morre se o coração parar? Bem, há quem ache que sim. Eu não sei o que acho mas gosto de ser do contra. E portanto, digo que não. Se o coração malfeito morrer, o amor que ficou nos ossos já sem carne, passa para a terra e nasce em flor. E depois ou há propagação do amor ou o mundo é uma treta. Está bem. Aceito: mesmo que não exista propagação do amor, o mundo continua a ser uma treta. Sim, eu que nunca votei, votaria aqui afirmativamente.

Aproveito este pedaço de folha branca, de papel electrónico, para escrever algo bonito.

Por favor, a audiência que se sente. E se existem expectativas, esvaziem os bolsos. Não me aguardem expectantes. Aguardem-me sim com aquela paz como que de repente se olha para o outro lado da rua e algo vos faz sorrir. Sim, é isso. Sentem-se e façam isso.

Vou começar:

- O amor. Onde raio se encontra o amor?
- Onde eu estou. Mas não é amor. É algo sem nome.
- Desculpa??
- Se encarares as coisas sem o nome "amor" é mais fácil, deixas de procurar incessantemente, recrias saúde e respiras melhor.
- Hum?
- Sim. É um exercício racional de rejeição da ideia do amor. Quando mais tornares o amor emocional mais vives na esperança disto e daquilo.
- Racionalizar o amor?
- Isso. Tiras o amor do coração e das pessoas. E basicamente, abres a porta para ele sair. E assim, o amor estará onde tu estás. Mas não o verás como amor. Verás como algo natural. Teu. Seguro. Sem segundas intenções. Sem abismos ou bilhetes de suicídio. Entendes? Se tu estás, existe o amor. E por tal amas e és amada.
- Que patetice! Tens cada uma.
- Não é patetice. Já viste o que seria acordares e sentires-te a pessoa mais completa da tua rua, porque a partir do momento em que abres os olhos e põe os pés no chão, és abraçada por todas as coisas boas que podem existir?
- E se eu estiver a morrer é igual?
- é esse o teu problema. é exactamente esse.
- que é qual?
- o desvinculares-te de tudo o que possa fazer sorrir. Como é que queres amar e ser amada, como? Se te abraçam, e tu não correspondes. Se te sorriem, e tu desconfias. Se te querem e tu metes uma ordem de despejo na hora? Se te dão e tu foges.
- Que estás a querer dizer?
- Enquanto não aceitares que podes ser feliz, não o serás. Enquanto achares que ninguém está à altura da tua exigência, ninguém estará. Enquanto te assumires como um coração anestesiado, não haverá retorno.
- Mais alguma filosofia?
- Sim. Abre a porta e vai. Mesmo que te encontres por um fio. Vai. Sente a vida que é tão mais do que um mero coração, vazio ou cheio.
- Se te der €10, acompanhas-me à feira da Ladra?
- 10€ para te acompanhar?
- Sim.
- Pagas-me a tua companhia?
- Sim. Só porque comigo ao lado a respirar as abominações do malfeito amor, duvido que consigas sentir que ele estás onde tu estás. E pronto, longe de mim, causar-te qualquer transtorno.
- Ah. E eu pago-te o pequeno almoço então. Mas que vamos fazer à feira? Tu nem gostas de sítios com muita gente.
- Ora. Vamos ver se está lá alguém a vender ou corações novos ou fé. Também aceito contratos de arrendamento. Parece-te bem?
- ???

quinta-feira, 4 de março de 2010

L



I choose to hide, but I look for you all the time
I choose to run, but I'm begging for you to come
I wanna breake, but I know that you can't take
I stay a while, to be sure that you by my side
Ohhh

Don't look at me, just look inside 'cause I can go through
Tell me are you going tired, of what I don't do
I wanna see I wanna fight, 'cause I don't feel scared
Honey if you care

I choose to find, things that you left behind
I choose to stare, but I can take you anywhere
I wanna stay, but my soul leaves you anyway
Can close the door, and love could you give me more

Don't look at me, just look inside 'cause I can go through
Tell me are you going tired, of what I don't do
I wanna see I wanna fight, 'cause I don't feel scared
Honey if you care

Choose love, choose love, love, choose love, choose love, oh

Don't wanna hear I wanna fight, 'cause this time I won't be wrong
And I can waste this precious time, asking where do I belong
So let me know your love is real, 'cause this time you won't control
Tell me please what do you feel, do I have to save your soul

Choose love, choose love, love, choose love, choose love