sábado, 29 de maio de 2010

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Não sei se me recordo muito bem como eram as noites de antes. Não eram tão vazias como a de hoje. Como a de ontem. Não sei. Tenho dormido muito. Porque não sinto vontade de ficar acordada. Não. Essa vontade não existe. Os dias ficam então mais pequenos. Às vezes é bom. Eu gosto. Mas não sei que noites são estas. Já não sei bem como reagir às noites sem ti. Porque de um dia para o outro tu passaste a ser as minhas noites. E agora não estás. Não estás. E eu sei onde estás mas não sei. Porque estás longe. Não em distância. Não. É rápido chegar até ti. Mas não é. Porque de repente tu foste embora. Ou melhor, nunca chegaste ao pé de mim. e ficamos assim, cada qual no seu país e em silêncio. Não sei que fazer deste silêncio que me atira para o vazio que está por debaixo de uma qualquer ponte. não é drama isto. Mas é como me sinto quando fecho os olhos. Como se me tivesse atirado para o vazio. Porque é isso. Estou vazia. Porque de repente era tudo bonito. E agora não. Agora é feio. E dói. E acho que já te disse que estou farta que doa. Não quero mais que doa. Porque há uma dor que me acompanha há tempo a mais. Preciso que entendas isto. É tempo a mais. E eu quero aguentar. Tu dizes que eu sou forte. Mas e se eu não conseguir mais. Porque tu estavas aqui e era diferente. Mas agora não estás. Não consigo parar de repetir que tu não estás aqui. E agora sou eu que tenho medo. Medo de não saber juntar os dias e vivê-los. Sem ti. Porque é assim que eu estou. Sem ti. E choro. Choro enquanto escrevo isto. Choro e oiço a música que postei há minutos. Choro e já nem vejo as letras. Porque é que fizeste isto? Porquê? Não era assim que deveria ter acontecido. Não era. Mas aconteceu. E eu não sei de ti. Tu estás noutra dimensão. E eu não consigo alcançar-te. Não escolhi isto para nós. Não escolhi isto para mim. porque quero combater o cansaço. E não consigo. Mas eu quero. Porque eu sou forte. Eu não sei ser outra coisa que não forte. Não, não sou frágil. Porque não é uma escolha. Nunca foi uma escolha. Entendes? Eu nunca pude ser frágil. Portanto, eu inventei-me. E fiquei assim. E continuo porque tenho que continuar. Porque não me posso ficar. Não posso. E depois as saudades. As saudades podem matar de desgosto. As saudades que tenho. E são tantas que nem sei. Que fazer com elas. Não as posso gritar. E elas corroem. Porque não se vão embora. Eu queria paz, caramba. Era isso. Não este tumulto. Ainda mais quando tu não estás aqui. Que foste tu fazer. Que foste tu fazer. Preciso que me digas se tens consciência do que foste tu fazer. Porque eu acho que tu não sabes. Não podes saber. Senão não farias nada disto. Eu sei que não farias. Mas fizeste algo pior. Deixaste-me com o silêncio nas mãos. E eu agora nem as consigo fechar. Porque é o silêncio e o desespero e as saudades. E não sei lidar com isto. Não sei. Não quero. Não quero. Entendes. Tens de entender. Não quero. Pensei que se podia aprender. Eu pensei que eu poderia aprender a saber lidar com esta ausência que me atira para debaixo da ponte Mas não sei. Então como não sei, vou caminhando. Alguma coisa há-de ser. Não é? Alguma coisa há-de ser.

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Mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi

Que aqui está frio demais para me sentir. mas queres ficar?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Isto é para ti. Tu sabes quem és. Poderia identificar-te mas depois parte da tua vida perfeita iria a abaixo e longe de mim desejar isso. Ou pelo menos, ser eu a provocar esse efeito. Se não fosse eu a fazê-lo, certamente não serias tu. Portanto, vamos deixar a tua vida perfeita intocável. Que se foda a minha. Não me importo. Aliás, hoje o propósito deste post é apenas um. Não precisas mais de tentar culpar-me por isto e por aquilo. Não. Nem eu vou culpar-te. Já chega, como tu dizes. Sim. Chega de discussões sem fim. Chega de palavras nunca concretizadas em gestos. Chega de sonhos perfeitos. Chega de esperar e esperar por uma atitude tua. Chega de ouvir coisas que só magoam e que não são justas ou coerentes. Chega de tentar destruir o que de bom trago no peito. Neste coração que deveria ser arrancado. Entendes? Chego ao ponto de desejar que me arranquem o coração. Porque assim iria embora sem pensar duas vezes. Sem me remoer. Sem medo ou receio. Sim. Se não tivesse coração, nem teria ficado um dia que fosse. Consegues entender isso? Ou achas que apenas digo o que digo para te magoar? Mal não faria, se comparado ao mal que me causaste. Mas vá, não quero que me acuses novamente de te fazer sentir pior. Sim. Já estás a sofrer muito, não é? Porque me sentes a ir embora. Dizes tu. Que te assusta o facto de sentires que estou a ir embora. Pois bem. E fazer alguma coisa para evitar isso? Não, não se faz. Piora-se tudo. Mas agir? Não. O agir deve estar a dormir a sesta, não o vamos importunar.

Mas dizia eu que o mote deste texto não era culpar-te mais. Não. Se consegues ouvir o que eu digo, e dar-me razão e mesmo assim continuas impávida, então é porque de facto existem orelhas surdas que acenam que sim mas continuam surdas. Isto sem qualquer despudor com as pessoas que efectivamente não conseguem ouvir. O objectivo é responsabilizar-me e assumir a culpa que tive nesta história. Então vamos lá. Sem medo ou receio:

Tens razão. Afastei-te. Verdade. Afastei-te e como te afastei começaste a namorar outra pessoa. Pois é. Que erro crasso o meu. afasto-te e tens logo a segunda opção à porta (que antes era a primeira, não foi?). Ter uma segunda opção é algo muito bom, não é? Comodismo e segurança ao máximo. Isto é ser esperto. Tenho de começar a pensar nisto. Mas como sou exagerada se calhar escolho logo três opções e deixo-as à espera. Deixar os outros em espera é muito bom. Portanto, sim afastei-te. E perdi-te para os braços de outra que estava à espera. Claro que na altura nem fazia muita ideia que gostavas de mim. Achei apenas que era algo mal resolvido. Podia ser, mesmo com tão pouco tempo. Havia ali qualquer coisa que tinhas de descobrir e eu também. Mas eu assustei-me e disse-te para ires. E foste e tiveste o quê, quinze dias feliz? Depois voltaste e assumiste que tinhas que me esquecer. E pronto. Lá nos aproximamos. E enterramos. E discussões e não sei mais o quê. Como que um vício. Será que é isso que somos um vício?

Depois pediste-me para esperar. Enquanto não voltavas, pediste-me para esperar. Que irias tomar a tua decisão. Ora bem, esperar é comigo. na boaaaaa! Eu adoro esperar. É daquelas coisas que quem me conhece, sabe que eu adoro. Até sou tão paciente, não é? Sou um mimo. Eu esperei uns dias e depois qual quê, não espero mais. Pronto. Novamente. Quantas chibatadas por este facto? Umas vinte? Se calhar não chega. Sim, a culpa foi minha. Porque eu deveria ter esperado. Não esperei. Portanto, não agiste. a culpa é minha. Porque se eu tivesse esperado, tu agirias. Nem que tivéssemos já uns 70 anos. Eu deveria era ter esperado. E olha, mais uma vez perdi-te.

Depois novamente, uma aproximação. depois novamente um afastamento. Andamos nisto uns meses, certo? Mas a culpa foi sempre minha. Só nos afastávamos porque eu saturava-me do tal esperar, e bla bla. Sim, como não esperava tu não podias agir. É a tal situação do causa efeito, parece-me. Daqui só podemos concluir, que se tu não agiste a culpa foi sempre minha. Eu é que não entendia, eu é que não sabia esperar, eu é que tratava mal, eu é que não demonstrava porcaria nenhuma. Sim, assumo de forma integral toda esta minha tão penosa culpa.

Certo dia, as coisas mudaram. Num período em que quase mal falávamos. Que aconteceu no seguimento de um em que me disseste que irias agir e depois claro está não agiste. Mas aí tão não tiveste culpa. Quem é que iria querer começar uma revolução, quem? Quem no seu inteiro juízo? Pois, ninguém. A tal história do romantismo morreu, morreu. Portanto, vamos é continuar a viver a nossa vida perfeita que ela será certamente eterna. Mas dizia eu, certo dia, como que uma surpresa resolveste agir. Preparaste uma surpresa. e voilá, nesse fim-de-semana eu fui para o Algarve. Eras tu a ligar-me para me fazeres uma surpresa e eu já a caminho. De quem é a culpa? Minha, claro. Porque é que eu fui para o Algarve? Devia era ter-te perguntado: é neste fim-de-semana que vais agir? Era o que devia ter feito. Não fiz. Portanto a culpa é minha. Ora bem. Mas como tinhas preparado tudo, eu resolvi acreditar mais uma vez. Acreditar que era desta. Sim, tudo agora se vai resolver. Só podia. Depois de tanto desencontro. Era agora. A fé total depositada em ti. Em ti, minha querida. Mas volvidas duas semanas, eu fechei mais uma vez a porta. E aqui, novamente, mea culpa. Como fechei a porta, tu não vais agir e portanto, tudo me é imputado.

Eu posso ser culpada em tanto. Posso. Mas de várias coisas não posso sê-lo, nomeadamente:

Das inúmeras oportunidades que te dei.
Das vezes em que te disse para falares comigo sobre o assunto tabu.
Do tanto que te avisei sobre a tua postura e do quanto isso me afastava.
Dos gestos, dos gestos que te pedi.
Dos gestos que te entreguei.
Da dedicação, do tempo esperado, do latim gasto.
Do acreditar, contrariamente ao que tu dizes, eu cegamente acreditei em ti e por tal, o tamanho desta queda.
De todas as pistas que te dei para chegares até mim.
Da clareza com que te expliquei timtim por tintim de como me estavas a perder.

Não tens ou melhor, não poderás ter o que apontar a mim. Porque o que eu tolerei, aguentei foi mais do que tu algum dia terias aguentado, caso estivéssemos em posições opostas. A diferença é que eu nunca teria estado na tua posição. E tu sabes isso. Tu sabes como eu te teria poupado. Como eu te teria protegido. E como eu nunca permitiria perder-te ou que fosses embora de coração partido. Sim, claro está, o quanto somos diferentes.

Mas sim, a culpa é toda minha. Por durante tanto tempo me terem sido suficientes as palavras, tantas e tão bonitas, contrapostas com um total abstinência de gestos. Por ter acreditado em ti durante tanto tempo. Acreditado que o melhor que tu tinhas, aquilo que eu mais gostava em ti se sobrepusesse ao que pior tdeténs. E um dia, minha querida, um dia tu irás perceber como é triste esquecermos-nos de nós, em prol dos outros. Tu que durante toda a tua vida o fizeste. E na altura em que seria tão óbvia a escolha por ti, pelo que TU querias, pelo que TU gostavas, tu deixaste-te ficar na tua vida perfeita, cheia de mentiras e frustrações. Pois bem, como te disse hoje, eu assumo a minha culpa e deixo-te ficar no mesmo lugar de onde nunca saíste.

É, eu desisto. De ti. De nós.

domingo, 23 de maio de 2010

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Há o medo. A insegurança. E de novo o medo. Cada passo que damos pode ser inferido de medo. Ou insegurança. Tudo o que é novo é receado. Mesmo que excitante. Agradável. Pólo de sentimentos positivos. Mas o receio não desaparece. Só depois do passo dado. E aí poderão surgir novos medos. Geralmente, há um acréscimo quando do outro lado do passo está uma pessoa. É sempre mais complicado. Porque a tendência é nós pensarmos e pensarmos e tentarmos igualmente adivinhar o que vai na cabeça da outra pessoa. E aí retomamos à insegurança. O problema do medo, é que nos pode fazer deixar de viver. Deixar de lutar. Deixar de acreditar. É fácil descobrir porquê. Porque o medo faz-nos pensar nos erros. Que já foram feitos e não queremos repetir. Faz-nos lembrar nas derrotas. Nas vezes em que fomos em frente e saímos magoados. Não nos iludamos, a nossa experiência neste mundo será sempre marcada por feridas abertas, por arrependimentos, por erros repetidos e hábitos que nos fazem mal. E é por esta razão que o medo existe. Para nos lembrar que seremos os únicos responsáveis pelos nossos actos, portanto, se avançarmos e cairmos, a culpa é nossa. Nós ousamos dar o passo, mesmo com todo o receio e insegurança. Nos ousamos acreditar no que estava do outro lado do passo. Se correr tudo bem, somos os maiores. Se nos fodermos, crucificamos-nos logo de seguida. É isto que acontece. Hoje em dia penduramos a espontaneidade à janela como se fosse uma bandeira negra de luto. Não fazemos nada sem pensar uma, duas, três vezes. E depois volta tudo ao início. Queremos controlar tudo. Todos os efeitos. As nossas reacções e a dos outros. Portanto, engane-se quem pensa que o passo dado ou o esperado é espontâneo. Não será. Sim os motivos podem ser verdadeiros e bonitos. Mas nada será ao acaso. Antes de acontecer, já foi tudo analisado, pensado, ponderado. E a decisão de avançar, acontecerá apenas porque o risco será tolerado. Ou porque haverá a certeza que dar o passo, tem mais prós do que não o dar. E isto claro, poderá ter influências emocionais, do coração. A razão fica por baixo. Às vezes acontece. Isso não impede que tudo tenha sido minuciosamente analisado. Tratado como se fosse uma ciência exacta, o que não é o caso. Já não se fazem gestos românticos. Já ninguém se atira de cabeça. com aquela certeza. Com aquele acreditar. Com aquela atitude altruísta de quem ama. Com o intuito único de fazer alguém feliz. Pois é. Hoje em dia fabricam-se todos os dias relações fast food. Ninguém conhece ninguém. Juntam-se os trapos porque é cómodo. Fala-se em compromisso porque é bem. Duas discussões já é motivo para se dizer “ah e tal, não tinha nada a ver. Afinal, éramos diferentes e bla bla bla”. As relações hoje em dia são assim. Uma treta. Devem ser um fabrico especial. Quantas mais relações se tiver, maior a probabilidade de ganhar um prémio. Sim, porque elas multiplicam-se. As pessoas já nem sabem respirar sem ter alguém ao lado. Isto é o quê? Eu tenho para mim que é medo. Medo de solidão. Medo de que se não arranjarem alguém agora, passarão a velhice sozinhos. Tanto medo. Que origina relações sem sentimentos reais. Frutíferas. Desesperadas. Que começam com base numa ilusão. Não é triste, isto? Daqui a pouco o desespero é tanto que nem sei. E que se lixem os que não se entregam a esse espectáculo. Como não ter medo de avançar? Se provavelmente o que nos espera mais à frente é um balde de água fria. Como não ser descrente, se toda a gente diz “amo-te” como se estivesse a gritar o resultado do jogo de Domingo? Enfim. Safam-se as situações peculiares e raras, aquelas que plantam um sentido de certeza dentro de nós, que nos faz avançar. Sem medo ou receio. A certeza de que aquilo que está do outro lado é exactamente o que nos queremos. E aí, aí não avançar é não assimilarmos a sorte que temos. É fechar uma porta que tanta gente espera a vida inteira que se abra. É ousar recusar the real thing.

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"Some people do spend their whole lives together"

quinta-feira, 20 de maio de 2010

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há uns dias para cá que me comecei a imaginar de mochila às costas com portátil lá dentro, muitos livros, música. ir para algum lugar com verde e muito mar. uma cabana com um sofá enorme e confortável. também lembrei-me do pão de mafra fresquinho e chá frio. ou copo de vinho tinto ao final do dia. e depois escrevia e escrevia muito. não tenho qualquer pretensão a tornar-me numa escritora. ainda menos pseudo. mas desde sempre que me revejo com aquela personalidade de escritor atormentado, génio difícil e que gosta de fugir de vez em quando para se dedicar unicamente à escrita. seria só isso. não ia escrever um livro. não. nada disso. ia só fingir e vestir-me para o acontecimento de passar uns dias só a escrever. e a nadar. e a pensar.

ultimamente ponho-me a sonhar. acordada. só sonho acordada. de resto, a dormir só mesmo pesadelos. ando com vontade de vida a duas. ando, é verdade. tenho duas amigas minhas que vão rir imenso a ler isto. é verdade meninas, ando com sede de partilha. e de paixão e de amor. e até penso em crianças. já tenho os nomes. foram escolhidos ao pormenor. pronto. não sei se sou uma pessoa de família. acho que nunca fui. nunca tive esse sentido. talvez porque a minha família está toda separada e não há grande comunhão. mas se calhar para mim quero isso. uma família. e agora com a história do casamento, raios partam, que dou comigo a pensar nisso. e na lua de mel? pois é. um mês inteiro. bem, não sei muito que dizer disto. até sei mas vou guardar para mim.

eu sou solitária. não temo a solidão. gosto de estar sozinha. isto também vem da educação. cresci como filha única apesar de ter uma meia irmã. 18 anos separam-nos. portanto cresci sozinha. e tinha amigos. mas lembro-me perfeitamente de chegar a casa, fechar-me no quarto, pegar nos meus nenucos e fazer-me de mãe. ou ouvir música e cantar. (na altura achava que cantava maravilhosamente bem). também foi aí que comecei a ter conversas comigo própria em silêncio. de facto, isto de ter consciência falante tem muito que se lhe diga. mas a verdade é que gostava de estar sozinha. e cansava-me muito rapidamente de estar em grupo. hoje em dia é assim. mas estou melhor. comecei a apreciar verdadeiramente a companhia dos outros. já aqui falei disto. sentir-se confortável connosco e gostar de estar só é uma grande aprendizagem. é conhecer-nos ao detalhe. e é crescer também. aqui não existe qualquer despudor pelo o outro. não. tal como não há nenhum individualismo levado ao extremo. o meu egocentrismo e narcisismo são saudáveis. são características minhas que percebo agora que podem ser conciliáveis com a partilha. sim. porque isto de tentar sermos diferentes, ou nos anularmos porque estamos numa relação ou gostamos de alguém é uma parvoíce. sei do que falo. já cometi esse pecado. grande erro. mas pronto depois aprendi. isso é que interessa, certo? de facto, é muito bom continuarmos a sermos nós próprios. é mesmo muito bom. tal como, quando gostam de nós assim. mesmo que tenhamos vários e sisudos defeitos. porque temos. a perfeição nem nos sonhos devia existir e há que entender que ceder é diferente de nos transformarmos perante o outro. não é sinal de fraqueza. não é. não quando há um bem comum a ser protegido. desde que exista equilíbrio. pois é. equilíbrio. é algo que gosto. para quem anda de um lado para outro, um minuto num extremo, três no outro, equilíbrio é uma palavra importante. é quase, ou é, como um principio a ter em conta.

percebem porque é que eu não podia ser escritora? comecei a falar no raio da fugida para a cabana e acabo isto a falar da partilha e do equilíbrio. eu bem digo que sou desorganizada. um dia mostro aqui a minha secretária. é de fugir (literalmente). papeis por todos os lados. já perdi alguns que depois encontrei. isto na advocacia é pior que a emenda. portanto, consegui obrigar-me a colocar tudo em capas e a espalhar pelo pc post its para não me esquecer das coisas. também arranjei uma agenda. mesmo assim isto é o caos. tal como o é a minha cabeça e o meu coração. a que se deve isto? há luta constante entre a emoção e a racionalidade. e posso vos dizer, desta vez, não está a ser nada fácil virar costas ao coração. cheio de remendos e com problemas respiratórios. mas pronto, que há a fazer? o pequeno respira, e salta e emociona-se. e é rebelde. e depois vira-se para a razão e diz: pois é. tu és uma vaidosa. andas a pavoneares-te pela casa onde habitas. achas-te a melhor e tal. deves achar que tens piada. mas ninguém te quer. é melhor que entendas isso. ninguém quer uma razão que nos tenta constantemente alertar para os perigos e as consequências dos riscos. ninguém quer isso. porquê? ah perguntas tu porquê. afinal sabes fazer perguntas. julgava-te mais snob. ninguém quer isso porque por mais que faça mossa. por mais que doa. à data da morte serão mais felizes aqueles que escolheram este órgão masoquista a que chamamos coração."

agora sim imagino as minhas duas amigas supé românticas e idealistas a rebolar pelo chão e a rir às gargalhadas. pois é, devo ser louca.

terça-feira, 18 de maio de 2010

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Estive a reler o blog antigo. Não sei se é por ser razoavelmente narcisista mas gosto de me ler. leio e não corrijo nada. irrita-me. não, não é que me irrite. é o tal problema/questão da impaciência. é isso. agora quero culpar a impaciência pela minha falta de perfeccionismo. mas dizia que estive a reler o tal outro blog. e emociono-me. bastante até. quase que me dá vontade de respirar fundo, suspirar e soltar um "porra, já vivi tanta coisa que não me admira nada estar tão cansada". é verdade. com o passar dos anos as coisas que vou vivendo crescem em complicação, complexidade, drama. e portanto, estou cansada. íssima. das pessoas. das relações. da peixeirada. daquilo que se diz porque o outro disse outra coisa qualquer. e o mundo acaba. e que merda. e agora é que vão ser elas. e a casa cai. e depois já está tudo na cama a resolver problemas que não se revolvem com beijos. orgamos. e afins. quem acha que se resolve assim é melhor benzer-se e fazer-se à vida. existem certas ilusões que só se desculpam até certa idade. depois é idiotice. ou estupidez. vá, escolham. são coisas diferentes.

posso fugir? agora é que era. fugia e pronto. porque estou farta. de repente, parece que querem sugar a última réstia de sanidade mental que (ainda) possuo. (gosto do verbo possuir. já vos disse? eu possuo. mas não gosto, nomeadamente, de "possuidor". não. recorda-me os tempos chatos da faculdade). portanto, podem deixar de me sugar? sim? é que era tão bom. uma amiga dizia-me no sábado "estão a sugar-te toda a energia positiva que tens". é verdade. sinto-me mais fraca. contaminada. com os ombros tensos até mais dizer não. podemos estar cansados quanto tempo, sabem dizer-me? precisava de saber. é que isto do íssima chateia-me. ando com muito mau feitio. e depois são tais que tais que fico insuportável. mas podiam dizer-me: ah mas os outros é que têm de te aturar. errado. eu como sou uma pessoa fantástica, decente e preocupada com os outros não permito que ninguém me ature. aturo-me eu. resultado? menos energia, mais dores de cabeça. e mais me acho fenomenal. estranho, não é? pode ser. mais chego à conclusão que não tinha nada que andar a aturar isto tudo. é que não tinha mesmo. vou tentar concentrar-me nisso. não aturar mais porra nenhuma que não queira aturar.


falta uma hora para ir para casa. uma hora. até lá tenho que pensar numa estratégia para um divórcio. aproveito para fazer um aviso: se querem casar e acreditam nesse dito instituto (agora é para todos ai que bonito!!) não tirem o curso de direito. é que ponham-se a mil. eu já tinha sérias dúvidas quanto ao casa com o mento, então agora. xissa, é vê-lo pelas costas. (sim, mas posso casar!! mas não quero. mas se quiser, posso. entendem a diferença?).

depois não quero ir para casa. entendem-me? ganhei uma séria aversão a estar em casa. se calhar não vou. se calhar, fico sentada ao pé do metro. é isso. não quero. sublinho. gosto de sublinhar o que digo. não que acresça importância. mas porque sim. agora vou indo.

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Pois é. Hoje é um dia importante. A lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo foi promulgada, pelo Presidente da República que o fez contra as suas convicções pessoais. Disse-o. E manteve-o claro em toda a sua comunicação. E salvo o devido respeito, estou-me bem a lixar para esse facto. Até porque também é contra as minhas convicções pessoais aturar pessoas que acham que os homossexuais não precisavam deste direito, porque a instituição casamento não foi criada para eles. Não. Foi criada para aqueles que podem procriar, porque esse é o mote principal do casamento. Não o amor, a união entre duas pessoas, não a vida que querem ter em conjunto. Não. O objectivo é a procriação. Sim, não sei se sabem, que quando um homem e uma mulher copulam fazem-nos não por desejo, prazer, amor, paixão mas sim porque querem ter filhos. É o que a Igreja defende. E ao que parece não só a Igreja o faz. Portanto, os casais inférteis não são tão dignos. Ouvi um dia dizer. Se calhar, estão a pecar porque copulam mas não podem ter filhos. Enfim. Poderíamos fazer uma compilação bastante numerosa de relíquias que saem da boca de certas criaturas. Claro que fazem questão de dizer que não são homofóbicos. Não, isso não. Tal como não o é o Prof. Jorge Miranda quando diz: "Os homossexuais têm todos os direitos dos cidadãos portugueses, inclusive o direito de casar. O que não podem é casar com pessoas do mesmo sexo.". Perceberam? Não, não há discriminação. Só nos põem a um canto. Mas não há qualquer desrespeito, ofensa, desigualdade. Como dizia ontem uma Caríssima, têm é medo. Pois bem.

Mas sim, poderemos então encerrar este assunto. O casamento foi promulgado. Um brinde a este feito. Mas óbvio será constatar que a luta não pára aqui, muitas outras estão em marcha, ainda estamos a anos luz de poderemos declarar que sim, não há discriminação, os direitos são iguais para todos. Anos luz.

Não obstante, não posso deixar de me mostrar um pouco ressentida sobre uma questão. Poderei casar com uma mulher, certo? Certo. Mas se casar não poderei adoptar uma criança. Porque deixo de ser solteira. E enquanto casal tal não é permitido. Sim, posso ir a Espanha engravidar. Ou a minha companheira. Claro que sim. E aquela que não é mãe biológica, como é que vê os seus direitos reconhecidos? De que forma? Se tal não é reconhecido no nossos sistema jurídico? Já estou a ver os tribunais a serem invadidos com este e outro tipo de questões. Pode ser que se mexam.


Enfim. Salvé. Hoje é dia para comemorar. Vou ali ao sushi e já volto.


sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pipoca mais doce - 1

Eu nem sempre concordo com o que esta Senhora escreve mas gostei destas suas palavras:

"As relações não são fáceis, ser feliz todos os dias também não. É um investimento, uma aposta constante, um esforço. Sim, sim, sim, um esforço, digam lá o que disserem. Para que tudo corra pelo melhor, para que a felicidade impere a maior parte do tempo, para que se engulam alguns sapos, para que se aceitem algumas injustiças, para ouvir coisas boas e outras que nos partem ao meio de tão más e tão ingratas. Quando não há esforço há conformismo, e esse é o primeiro passo para o fim, para os muitos e muitos dias (meses, anos) de infelicidade total. Não faço ideia se me vai apetecer esforçar para sempre (nem acredito que alguém saiba) e já cá ando há tempo suficiente para saber que o "para sempre" é, tantas vezes, um "até que dê". E, sinceramente, mais vale um "até que dê" em pleno do que um "para sempre" miserável. Dizer que tudo são rosas é que é uma grande mentira. E vocês sabem que sim."

Ler o texto todo aqui.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

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O meu melhor amigo chama-se Cristiano. Conhecemos-nos no primeiro dia de aulas do 10º ano. Ele entrou e eu achei que ele podia ser um amigo. Nesse mesmo dia começamos a falar. Eu achava piada aquele ar meio envergonhado e confiado. Começamos a estar muito tempo juntos. Ele era estudioso, organizado e querido. Eu era aquela que só acordava e se começava a concentrar a partir das 11h da manhã. Estudava em cima dos testes e não sabia fazer resumos porque achava que tudo era importante. Ele fazia os resumos e dava-mos, e era daí que eu retirava boas notas. Bem, dos resumos dele e da minha inteligência. Estudávamos juntos mas nem sempre dava bom resultado porque eu desconcentrava-me rapidamente e em consequência ele também. Era o único rapaz em quem o meu pai confiava. Era o genro perfeito, dizia e ainda diz a minha mãe. Mas eu sempre soube que o Cristiano era gay, assim como eu. Confrontei-o muitas vezes depois de eu me assumir, mas ele dizia que não. E eu não acreditava mas continuava a gostar muito dele. No 12º ano tínhamos decidido ir os dois para o Porto, queríamos estar juntos. Ele para mim era família. O irmão que eu nunca tinha tido. Ele foi parar a Braga e eu a Lisboa. As férias era quando nos encontrávamos. Estávamos todos os dias juntos. No meu 1º ano da faculdade em Lisboa, o Cristiano ligou-me "C., tenho uma coisa para te dizer, eu sempre te quis dizer mas nunca fui capaz porque não aceitava, mas eu sou gay". E eu fiquei tão mas tão feliz. Porque ele finalmente o tinha aceite e eu as usual tinha razão. A partir daí, tornamos-nos mais próximos. Presentemente, o Cristiano voltou para a Madeira. E eu comecei a trabalhar. Portanto, é uma raridade vermos-nos. Passamos meses sem nos falarmos. Mas quando nos falarmos é como se nunca estivéssemos estado sem falar. São assim as amizades verdadeiras. Não se quedam ao sabor do tempo. E aguentam-se na distância, no silêncio. São impermeáveis.

Não me admirei quando hoje vi no meu telemóvel duas chamadas dele. Já não nos falamos desde o meu aniversário, portanto, era a altura certa para falarmos um pouco. Liguei-lhe e ele contou-me que tinha ido passar uns dias ao Porto, chegou ontem mas que já estava no aeroporto para voltar à Madeira. Perguntei-lhe porquê. "A minha tia morreu" e começou a chorar, enquanto os meus olhos se começavam a encher de lágrimas. Contou-me que a tia tinha sofrido um ataque cardíaco e que tinha caído. Que tentaram que ela voltasse cinco vezes e que agora estava em coma com a vida pelo fio. Portanto, para ele a tia já morreu. Morreu a partir do momento em que os médicos disseram que ela não sairia daquele estado. A partir de certa altura, eu não conseguia parar de chorar. Eu que estou há tanto tempo a controlar-me, desabei. Desabei por todas as razões. Por ele. Por mim. Porque é isto, que a morte traz, um desfalecer de tudo e mais alguma coisa.

O meu amigo Cristiano perdeu a mãe aos 6. O pai aos 17. E depois perdeu as duas avós e um padrinho. Restava-lhe a tia que era mãe e pai, o irmão e um tio portador do síndrome de down. As perdas fizeram do meu amigo, um homem seguro, forte e mais presente para a vida e para os outros. Uma pessoa dedicada ao seu caminho com o objectivo de vencer. E a ser bem sucedido. Não o fizeram mais amargurado. Mais triste. Mais pessimista. Não. Ele está pronto para a vida e para vencer qualquer obstáculo.

Mas já não chega?? Já não teve provações suficientes para os seus 26 anos? Agora o que ele mais quer é chegar à madeira, ir a correr para o hospital para segurar na mão da tia que está cá por um fio, nada mais que isso. Porque, mais uma vez, perdeu. Perdeu alguém que o amava, apoiava, adorava, tinha orgulho nele. E como não me perguntar se já não chega? Ele não faz mal a ninguém, é bom rapaz, sempre pronto a ajudar, sempre pronto a dar a mão, a levantar o astral. Então porque raio a puta da vida não o deixa em paz???

Peço desculpa pelo pessimismo instaurado nestas fracções de segundos, mas não consigo estar de outra forma. Por mais que juntemos vitórias, as perdas não se vão demorar a fazer chegar. Seja por via da morte, das circunstâncias da vida, desilusão. O que seja. As perdas mais cedo ou mais tarde acontecem. E porque é que não nos avisam? Quando somos crianças, não nos podiam dizer: a vida parece muito boa agora mas ela vai piorar, e aqueles que tu mais amas vão morrer um atrás do outro. mas não te preocupes, porque todos passamos pelo mesmo". E aí não poderíamos dizer: FUCK OFF?

Hoje não presto para mais nada. Vou trabalhar fingindo concentração até às 17h30. Depois representar o escritório num evento que será num barco, espero que parado. E depois arrastar-me até casa, enfiar-me na cama até amanhã de manhã.

Existem dias que nos pegam ao colo e nos colocam no fundo do abismo.

Este é um deles.

terça-feira, 11 de maio de 2010

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Para que não restem dúvidas:

Poderia se ter entendido o meu nascimento como já a constatação que eu estaria sempre contra o mundo. É verdade. A minha insatisfação constante poderia ser sinal disso mesmo. Digamos que está a meio caminho da realidade. Também sou arrogante. Ligeiramente. Dá-me uma certa graça, convenhamos. Não ando na rua de sorriso na cara. Não sei porquê. Ainda hoje, vi uma miúda que vinha a caminhar de frente para mim com um grande, enorme sorriso nos lábios. Eu achei estranho. Talvez, porque também trago em mim a mania de achar que o centro do mundo sou eu. Portanto estranhei aquele ser que caminhava pela cidade com um sorriso largo. Enquanto eu mantinha a minha face habitual de andar na rua. Não sei se sempre foi assim. Hoje vi uma foto minha em que estava de cara fechada. A cara do mau feitio, disseram. Sim, o meu tão característico mau feitio. É dos traços mais presentes na minha personalidade. E muita coisa compõe esta aludida característica: seja a impaciência, a frustração quando os outros não correspondem minimamente às expectativas. Sim é um dos meus defeitos, e de muita gente. É como se eu desejasse o melhor para o outro. E então, à mínima fricção com aquele meu pensamento, resulta em desilusão. Péssimo, não é? Para mim e para os outros. O que eu exijo de mim. Exijo aos outros. O que faz com que esteja constantemente em choque. Porque os outros nunca serão iguais a mim. Espero rapidamente desassociar-me desta ideia. Mas sim exijo, e faço-o porque acredito que o outro é capaz. Se não exigir, é porque não retenho nada de agradável sobre aquela pessoa. Também tenho a mania. E sim, o meu ego raramente está longe de explodir. Um dia se explode é o meu fim, suponho. Ou não. Deixa-te de dramas, Narcisa. É verdade que expludo facilmente e por conseguinte também resolvo de forma prática os problemas. Sou pragmática na maior parte dos dias. Expludo porque irrito-me e não tenho paciência. Não sou agressiva mas sou dura e assertiva. Não sou lenta ao fazer as coisas. Mas sou lenta a gostar. Sou rápida a mudar de estratégia. Mas sou lenta a esquecer. Não gosto de perder. Porque não sei como reagir a isso. Por tal, sou persistente. E teimosa. Gosto das coisas à minha maneira mas sei ceder. Dou sempre o benefício da dúvida. Sou lutadora quando acredito. E demoro a deixar de acreditar. Não me baixo perante as mudanças. Mas analiso sempre os prós e os contras. Se achar que vale a pena, vou em frente. Mesmo cheia de medo. Sou de ideias fixas e sou pouco flexível nos detalhes da minha personalidade. A burrice, a incompetência tiram-me do sério. Pior do que isso só a mentira e a omissão. Procuro sempre a verdade e mesmo que demore a encontrá-la ela vem ter comigo. Não entendo o comodismo e a cobardia. Gosto de pessoas inteligentes e que escrevam e falem bem. É um logo um aperitivo para algo mais. Não gosto que as pessoas falem mais alto do que eu. Choca-me a quantidade de dramas que as mulheres recolhem. Sou um ser individual preparado para a partilha. Agora sim. Foi penoso o caminho até este estado. Mas cheguei. Há que ter orgulho. Sou desorganizada com papéis. E não sou arrumada a não ser que saiba que vou ter visitas. Gosto de confusão. Sem exagero. Gosto de ser provocada. E que me aticem. No entanto, não gosto que demorem muito tempo no depois. Provocam e depois vão ao castigo. Sim, é por aí. Existem dias em que a indecisão toma conta de mim. E aí, gosto que decidam por mim. Mas coisas simples, como restaurantes, cinema, destino. E só quando estou num desses dias. De resto, gosto de ser eu a decidir. Gosto de vinho tinto. Descobri a Dona Ermelinda mas disseram-me que tem de ser reserva. Eu não perguntei porquê. às vezes, não gosto de perder tempo a perguntar. Gin tónico ou martini bianco com gelo, sumo e rodela de limão. Vodka tónica. Tequila. Gosto de cozinhar. Mas não gosto de ser pressionada. Tenho uma qualquer adoração por terraços, varandas e hotéis. Sou viciada em telemóveis e portáteis. Tenho a pretensão de que aqui a alguns anos terei um carro automático e viverei num duplex com terraço e closet. Nunca me levaram o pequeno-almoço à cama. Também espero que isso venha a acontecer. Gosto de surpresas. E gosto de ficar sem palavras. E corar. É uma raridade, por isso uma preciosidade. Gosto de conduzir com música aos berros. Não gosto de limpar a casa. Nem aspirar. Nem nada dessas coisas. Geralmente começo por dar a conhecer os meus defeitos. Faço uma lista. Acho prático. Assim nunca poderão dizem que eu não avisei. Gosto de surpreender quando já ninguém espera esse gesto. Sou calculista e racional. Mas tenho fases de grande sensibilidade e emoção. Não gosto de dar a perceber que gosto, fico envergonhada. Coisa que detesto. Gosto de inteligência. E preciso de constantes desafios. Sou quente mas facilmente me transformo num cubo de gelo. Sou bastante visual. Prefiro o sensual ao sexual. Talvez porque me veja a mim mais como sexual. Um animal. Discreto quando tem de ser. Explosivo quando assim o entende. Gosto de sexo mas já não tenho paciência para one night stand. Já fumei charros e já me embebedei. Já fiz imensas asneiras. Raramente me arrependo do que faço. Gosto que me compreendam mas nem sempre tenho paciência para me fazer compreender. Não gosto de discutir futebol, política ou porcarias da igreja católica. Abomino quem tem a ousadia de me tentar mudar. Não é opção à disposição de ninguém. Não gosto de silêncio nem de coisas mal resolvidas. Gosto de conversar. Sou mimada. Quero continuar a sê-lo. Sou responsável por todos os meus actos. E quando estou errada, demoro mas admito-o. Não gosto que desconfiem de mim ou que duvidem do que digo. A verdade tem sido o meu mote. Sou ciumenta e possessiva mas respeito e gosto que respeitem o meu espaço. Sou confiante e insegura. Gosto de dormir. E detesto acordar cedo. Prefiro gestos a palavras. Mas gosto que me falem ao ouvido. Gosto mais de ser conduzida do que conduzir, isto falando unicamente de carros. Acredito que o primeiro beijo diz tudo. Se nada disser é porque não tem de acontecer. Não sou de grandes afectos em público. E detesto que me digam ou façam coisas pelas costas. Admiro a frontalidade e a honestidade. Gosto de pessoas que são bonitas e não são convencidas. E prefiro sempre dar o primeiro passo. Gosto de evoluir. De crescer. Gosto de quem gosta de si próprio. E não tolero facilmente pessoas demasiado inseguras ou com muitas dúvidas. Gosto de claridade mas adoro a noite. Não gosto de receber ordens e muito menos que me digam o que eu devo fazer. Aceito sugestões e apenas isso. Sou presente, preocupada, dedicada e atenciosa. Desde que o sejam comigo. Facilmente, respondo na mesma moeda e a indiferença passa a ser o meu segundo nome.

Basicamente e para que não restem dúvidas gosto demasiado de mim e não admito que passem por cima de mim ou que não me respeitem.

Para me terem, têm que me merecer. E isso exige esforço e vontade.

E era isto.

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Eu sei.

Eu sei que estás desiludida comigo. Eu sei. Eu sei que, de longe, isto sou eu. Eu sei que já estou a ultrapassar todos os limites. Eu sei que estou perto do abismo. Mas sei que estou e sinto-me destemida. Depois de todas as vezes que eu caí, eu continuo destemida e cheia de força. Porque eu não posso desistir. Consegues entender isto? Eu não consigo desistir do que está dentro de mim. Mesmo que isso signifique temporariamente desistir de mim.

Porque eu já o fiz uma vez. E foi a opção certa. Mas eu arrependi-me, entendes? Eu arrependi-me porque considero que deveria ter sabido esperar mais um pouco. Desiludi-me também, nessa altura, por ter desistido. Portanto, agora não o posso fazer. Por mais que me custe, o sacrifício de mim. A confusão. O turbilhão. O mar revolto. O pânico. O medo. Eu não posso desistir.

Eu sei que isto não pareço eu. Eu sei. Mas tu também sabes que seja o que for que aconteça, eu vou levantar-me e erguer-me bem mais forte e íntegra do que antes. Eu sei que tu sabes isso. E é por isso que eu sou destemida. É por isso que eu vou contra todos e até contra mim. Por isso é que luto sempre quando acredito em alguma coisa. E sou touro enfurecido. Sou imparável. É assim que sou, quando acredito. Mesmo quando sei que estou sozinha na batalha. Mesmo aí.

Seja o que for, eu vou levantar-me e erguer-me.

E prometo-te, mesmo que não me oiças, que vou continuar a ser esta Mulher fantástica que tu um dia conheceste e admiraste.

Estejas onde estiveres as saudades que eu tenho de ti impedem-me de te esquecer.

Estejas onde estiveres.


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Tenho saudades de dançar. Hoje era o que me apetecia fazer. Dançar até de manhã. Hoje é um daqueles dias em que o calor se apoderou do meu corpo. Em que me apetece ainda ficar mais louca. Muito mais. Deixar-me ir. Sem pensar em nada. Libertar-me do que me prende e preocupar-me exclusivamente comigo. É o que mereço. Definitivamente, é o que mereço.

É oficial: I'm on fire.


Vamos dançar?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

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First I was in the moon, now I'm just broken.

domingo, 9 de maio de 2010

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Para a minha futura namorada.


You made the question. I said yes, I do. And now I'll wait for you to make it for real. So, come back. Come back to me.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

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lembras-te, pergunto. do beijo que foi o primeiro. da brusquidão dos movimentos. da fome sede que antecede a proximidade dos lábios. da posição equiparada. dos lábios que seguram entre si outros lábios. da língua que fura a lentidão. do repouso inquieto das mãos no corpo. nos corpos. que já foram nossos e que ainda nos acompanham. quando me beijas a mim, beijas outras tantas mulheres. quando eu te beijo a ti não sei se beijo mais homens que mulheres. não importa. de tantas identidades presentes, fico-me apenas pela tua. é a tua boca que me cega e me transporta. é no beijo e na revolução das mãos que se chega até à pele. a pele que se encerra faminta até te aproximares. e aí esqueço-me esqueces-te. do que foi antes. se melhor ou pior. não, não te lembras. não há espaço. quando dois corpos se irrompem. não há espaço. para conclusões ou palavras. não há voz que se tenha por certeza. porque o tempo não avança. não passa. não se esconde. o tempo não faz a regra do prazer. da cadência do desejo. fazemos nós. em cada movimento. em cada meia lua de orgasmo. da saliva que a boca leva até ao sexo. da transpiração que se cola as dedos e inicia a viagem. por ti. a dentro. ou na superfície. o que seja. não existe amputação de movimentos. as paragens acontecem. para que possamos recomeçar. com a ousadia do diabo no corpo. outros dizem que é pecado. nos chamamos paixão. tesão. há quem chame de amor. mas não. aquele momento. este momento não é amor. é partilha. é alcance desmesurado. somos nós. eu. tu. sem verbo a conjugar. nasces nas minhas mãos. repetes-te na minha boca. espera. o que acontece quando perdes a noção de qual é a tua pele. de quem são estas mãos. este ombro sabido. o corpo erguido, encostado à parede. a violência da erupção do meu sexo contra o teu. e depois. no final é quando entendo que desfizemos-nos e que voltamos a ser duas. na cama. em pé com os pés no chão. ou onde for. voltamos a ser duas. é isto que acontece. no final, voltamos ao desencontro.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

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Pediste-me um segredo. Colocar uma fita colorida à volta do amor e jurar segredo. Que o amor quando é para ser preservado deve ser guardado. atado. dizias: o amor não tem de ser partilhado aos outros. porque é nosso. é o nosso segredo. e assim será eterno. dizias com a firmeza de quem crê no que diz.

poderia existir amor. poderia. mas um amor diferente entre nós. o amor não se preserva por ser fechado a cadeado. por ser olvidado dos olhos alheios. por não o verem. testemunharem. o amor é o amor. seja em que tempo for. seja descortinado por quem não lhe pertença. seja esmurrado por quem o sente. o amor que é segredo pode cair na tentação de se controlar. de não ser vivido ao máximo. o amor quando existe deve ser conhecido. e certamente será. pelos sinais que o denunciam. existem sempre sinais que denunciam o amor. à primeira vista. ou só para quem está mais atento. o sinal do amor em mim nasce nos olhos. nos olhos que se fecham para todo o resto a não ser para aquela pessoa em particular que é objecto daquele sentimento. é assim que se dá com o meu amor. pelo olhar exclusivo e aqui sim fechado. em que não há espaço para outra visão. é. o vai e vem do amor está nos meus olhos. o coração não está ligado ao amor. posso dizer-te: partiste-me o coração. posso dizê-lo vezes sem conta. Mas olha para os meus olhos. só aí perceberás. se o amor que não é segredo. nem emplastro. nem tesouro escondido. existe ou não. e no princípio poderás ter as tuas dúvidas. ao que parece os meus olhos por vezes enganam. acontece. nem sempre o amor que não é correspondido quer se mostrar.

mas não, não me peças o segredo do amor. poderá haver contaminação maior do que amar em segredo? e aqui falo também da paixão. sim. sou das que é apologista que se a paixão morre, o amor mais cedo ou mais tarde acaba. tal como acredito que existem paixões que aguentam uma vida inteira. enquanto que o amor será sempre posto em prova, se acontecer nascer uma nova paixão. e nem sempre vencerá. na ausência de paixão, o amor nem sempre vencerá.

love me with passion or love me not. é um dos meus novos princípios.


terça-feira, 4 de maio de 2010

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Uma amiga minha publicou no Facebook fotos do tempo em que andávamos num Colégio de Freiras. Dos 4 aos 14. Observar aquelas fotos provocou em mim um sentimento de nostalgia e emoção. Aperceber-me do que mudou nestes 11 anos que passaram. De menina a mulher. De criança despreocupada a indivíduo no mercado de trabalho preocupado com o dia em que se recebe o ordenado. Fui feliz naquele colégio. Poucas amizades mantiveram-se. Mas olhar para trás é ficar com um sorriso na cara. Lembrar-me da cantina onde se vendiam os melhores bolos que alguma vez comi. (Vá, excepção para o melhor bolo de chocolate do mundo). A hora do recreio. A rebeldia que nos fazia usar apetrechos no vestuário que eram proibidos. A curiosidade pelos rapazes. A eminência das mulheres na minha vida. Do passar a sair do colégio pela mão da mãe ao esperar pelo pai à porta da escola. Da récita do último ano. Da despedida. Das vezes que lá voltei para matar saudades. Dos momentos felizes e das perguntas que comecei a fazer. Do turbilhão já existente. Da poesia. Da primeira vez que escrevi. Tudo começou ali. Quem diria que estes 11 anos passariam tão rápido. Do ser mulher e do querer voltar à criancice. Onde o mundo parecia um local bonito para se estar.

Tenho saudades dos passeios da escola. De jogar à macaca no intervalo. Das festas de aniversário. Dos dias de deporto escolar. De estar na capela a tentar lembrar-me dos meus pecados para os confessar ao padre. Do chá de camomila quando doía a barriga. Das intrigas tão pequeninas. Dos corpos femininos a transformarem-se. Dos jogos de volley e basket nos intervalos. Dos gelados gratuitos quando era o aniversário do colégio. Das aulas de história e português e das vezes que fui expulsa da sala nas aulas de ciências naturais. Do dia da festa de carnaval. Da aula 100. De ajudar a dar de comer aos mais pequeninos na hora de almoço. Das freiras e das contínuas que nos tratavam como família. Bons tempos estes que já lá vão.

11 anos depois, curso concluído, trabalho das 9h às 19h30. Deixei de ser menina do papá para aprender a cortar os laços e acolher a independência. Coração cheio de remendos. Corpo gasto. Narcisismo e loucura. Pensar em ter filhos. Solteira e com mais vontade de assim permanecer. Ímpeto de fugir. Emigrar para longe. Talvez Londres. Ou os campos de Itália. Sentido de humor apurado. Encher-me de livros que ainda não li. Cansar-me deste mundo de mal amados. Assumir-me como Mulher. Ser individual. Poema ainda não escrito. Dias e dias por descobrir. Recolher-me de memórias que fizeram de mim o que sou. Deixar o rancor de lado e seguir em frente. Mais longe do passado e com um pé no presente. Viver. Acreditar que é tão precioso e imediato fazê-lo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

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Acordo de noite a sonhar contigo. Tem-me acontecido nos últimos dias. Não me lembro do conteúdo dos sonhos. Sei que são contigo. Sei que quando penso nisso me arrepio toda. Porque não quero. Porque não podes, após tanto tempo, ocupar espaço em mim. Espaço que não é teu. Logo agora que comecei a ter um rumo próprio. Logo agora que estou serena e calma como nunca antes. Ou pelo menos que me recorde. Estou bem. Posso dizer que estou bem. E para que eu continue a estar bem tu não me podes aparecer nos sonhos. Porque se apareces eu começo a pensar. E se começo a pensar, recordo-me de como fui feliz contigo. Sim, é possível ser feliz nos amores imperfeitos. Um amor ruim, que nasceu duvidoso e fez-me trovoada das minhas próprias entranhas. Sim, fui feliz. E assumir esta verdade fez com que te pudesse deixar ir embora. A par deste efeito, existe outro. O de saber se algum dia poderei estar ao lado de alguém que me faça feliz como fui contigo. O caminho agora é acreditar que sim, que é possível. Porque se um amor ruim me fez feliz. Então um mais bonito, me fará ainda mais feliz. Portanto, deixa os meus sonhos. Porque são meus. E já não existe espaço na minha vida para ti. Um amor ruim, uma vez na vida. Já aconteceu comigo. Agora, deixa-me.

domingo, 2 de maio de 2010

Q







10 anos depois volto a ver um concerto do Ney. O que eu gosto deste Senhor.