domingo, 31 de janeiro de 2010

H




I wish we could see if we could be something.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

.19

Os dias não têm sido fáceis. Têm sido instáveis. Demasiado para o meu gosto. Parece-me que a revolução anda a acontecer interiormente. Muita coisa para digerir. para lidar. confusão. tanta confusão. Ouvir dizer "Tens o coração partido", deu-me vontade de apanhar os estilhaços. Para esconder os escombros. Para me recuperar. Para mudar as voltas a essa provável realidade. que ainda não aceitei. ou interiorizei. ou digeri. estou assustada. sim, é isso. Tomar consciência da força do peso que trago em mim. Saber lidar com as consequências das revelações. Querer elevar-me e sentir-me presa nos movimentos. Querer mais e ter consciência que não. não é altura de querer mais. não é isso que se pode desejar agora. poderia ser, antes dos últimos acontecimentos. tudo estava encoberto. uma quantidade de máscaras que me ajudava a ser indiferente a tantos sentires. mas é tarde. agora é tarde. tudo está em exposição. a velocidade diminuiu. mas o relógio não pára. como se faz para sair deste tempo e voltar noutro? como se acelera o processo? como?

Será que o caminho é aceitar que não posso ter tudo ainda? E saber viver com isso?

confusão. turbilhão. revolução.

quero que a noite chegue rápido para enfiar-me na cama e dormir.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

.18


É como se eu estivesse perante uma escada daquelas antigas com uma curva por cada andar do prédio. Só existe uma janela e um sofá comprido no último piso. A janela com vista para a cidade. O sofá alberga duas pessoas. Está vazio neste momento. Poderia falar da decoração. Da existência ou não de velas. Cinzeiro. A cor das paredes. Mas não é isso que interessa. Só é preciso saber da janela e do sofá. E do trajecto penoso que é chegar a esse paraíso. Porque é um paraíso. Muitos não entenderão. Mas também eu não preciso da compreensão de toda a gente. Seria uma tarefa demorada e sem sentido prático.


Eu estou no 1º andar. Sentada no cima das escadas a fumar. Se calhar, adianto que existirá um cinzeiro em cada piso. Sim. Não gosto de cinza no chão. E por cada andar, é preciso fazer uma análise. E respirar. Não me posso esquecer de respirar. Não posso. Estou sentada, dizia. A fumar. O ambiente é de silêncio e aqui as paredes são de branco sujo. Estou sozinha. Neste momento tem de ser assim. Não é uma partilha, ainda. A deste percurso. Terei de me conquistar a mim nesta subida de escadas. terei de estar comigo. Para depois, entregar-me. é essa a ideia. é como a sinto. a solidão para melhor receber a companhia. Há um objectivo. Um que leva a outro. Uma batalha paralela parece estar eminente. Se calhar, tu também estás num prédio. O cenário do teu último andar pode ser diferente. Deve. Não somos iguais. Mas estamos de mãos dadas. É se calhar mais bonito. Eu gosto de coisas bonitas. Tu sabes. Podemos colocar o meu prédio à frente do teu. Para que os teus olhos não se distraiam dos meus quando chegarmos ao cimo. Haveremos de chegar. Não me peças para desfazer essa ideia. Ideal? Não, não. Os ideais deixam-me desanimada. São alienados de realidade. Entendes-me? Sim. Também te leio na distância.

Depois temos o tempo. Continuo a achar que o tempo, por vezes, é inimigo certo. Incerto não é. Já sabemos que nos pode atacar. É previsivel. Pode causar danos. Tanto a demora como a lentidão. Mas existe. E se desse para fugir, eu seria a primeira a arriscar. Portanto, o tempo é o vizinho que se senta nas escadas enquanto fumo. Nem sempre me cumprimenta. E quando sorri, há que desconfiar. Mas como dizia estou no 1º andar. O tempo olha-me com ar de desafio. Não posso deixar de sorrir. O tempo desafia aqueles que conseguem ter fé. A pouca que tenho vai comigo para todo o lado. E aqui poderia dizer-te que também tu ajudaste-me a mantê-la. Porque acreditaste sempre em mim. E quantas vezes, a fé reproduz-se dos outros para nós. De tanta coisa que me ofereceste, essa é das que tem raízes mais fortes.

Estou a alongar-me. Se me estivesse a ler, adormeceria. O texto só serve para dizer que estou no 1º andar de um prédio com outros tantos. Que quero chegar ao último. Porque no último, espera-me algo. Extraordinário. Os caminhos estão cruzados. Umas vezes em paralelo, outras de forma perpendicular. Está tudo relacionado com posições, na verdade. (cala-te, Lola) E com espaço. disponibilidade. e vontade. Umas existem, outras temos de crer que existirão. Fé. É a palavra-chave.

2010 renasceu em mim.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Fazes-me falta - 1

Depois disseste-me que foi nesse momento que os nossos olhos se encontraram. Mas eu não me lembro dos teus olhos. Lembro-me, sim, do odor do teu corpo, uma mistura excitante de rosas, canela e sexo. Talvez trouxesses ainda o cheiro de algum dos teus amantes – eras uma verdadeira torre do tombo passional, e estavas sempre disposta a ir repescar uns dados esquecidos a uma pasta antiga.

Mas nessa altura que nem sequer sabia isso. E nunca me aproximara tanto do teu corpo. O teu cheiro surpreendeu-me pela delicadeza e pela névoa erótica. Encostei o meu braço ao teu e comecei a transpirar. Sentia uma vontade violenta de me desmoronar em ti. Não, não era fazer amor. Fazer amor não existe, porra, o amor não se faz. O amor desaba sobre nós, já feito, não o controlamos – por isso o sistema se cansa tanto a substituí-lo pelo sexo, coisa gráfica, aparentemente moldável. Também não era foder, fornicar, copular – essas palavras violentas com que tentamos rebentar o amor. Como se fosse possível. Como se o amor não fosse exactamente essa fornicação metafísica que não nos diz respeito – sofremos-lhe apenas os estilhaços, que nos roubam vida e vontade. Eu queria oferecer-te o meu corpo para que o absorvesses no teu. Para que me fizesses desaparecer nos teus ossos. Eu, educado no preceito alimentar de que os rapazes comem as raparigas, depois de uma vida inteira de domínio dos talheres queria ser comido por ti. Queria entregar-me nas tuas mãos.



Inês Pedrosa

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um mover de mão - 1

Beijo



quando te beijo o beijo que tu me beijas
é que a flor envolve a terra que toca a flor

e é só a forma de os meus lábios dizerem que sim
e de os teus dizerem que não
que não houve tempo antes de nós


Vasco Gato


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

.17


Existem coisas inefáveis. Coisas que acontecem e que me deixam literalmente sem pio. Num estado em que não consigo dizer nada. Porque perante o acontecimento não existem palavras que possam demonstrar o que é sentido bem por dentro.

Como já disse noutros meandros, eu não sou uma pessoa de flores. Não é coisa que me dê vontade de dar. Ou receber. Não é uma coisa minha. Ponto. Portanto, receber este bouquet lindíssimo, mágico, cheio de cores e de efectivamente muito bom gosto não era algo que estivesse à espera. Na verdade, eu apenas contava receber uma fotografia que me foi oferecida em palavra e agora no acto. Contava receber mas nem sabia quando. Bem, a minha fotografia foi recebida acompanhada deste gesto. E não será de todo possível esquecer o momento em que pela primeira vez alguém me ofereceu um bouquet. Wordless.

Após o choque de ter visto derretida por esta imensa surpresa, surgiram as várias questões dos colegas de trabalho: "Ahhh muito bem, quem é ele?" "Seja quem for tem muito bom gosto" "O seu namorado não se incomoda de ter quem lhe envie flores tão bonitas" (eu nunca disse que namorava, mas ok).

A minha resposta foi que eram de um admirador secreto. Mas foram uma prenda de uma mulher mais que especial. Uma minha pessoa. Tantas vezes a minha paz, a minha calma, o meu riso, o meu sorriso. Tantas vezes tanta coisa em mim.

Jamais esquecerei este gesto. Continuo sem palavras. É bom sabê-la aqui. Tão perto, na verdade.


Um mundo de si.

A sua Gui.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

.16

Este texto é sobre mim. Deve ser entendido com uma conversa de mim para mim. É desprovido de qualquer sentido poético. Não há ficção. Sou eu. Com tudo o que isso traz. Bom ou menos bom. Sou eu. Não é a Narcisa que escreve. É a C.

Nasci de uma mulher infértil. Durante anos a minha mãe tentou engravidar e nunca conseguiu. Depois de muitos exames, a médica disse-lhe que ela não poderia ter filhos sem ajuda médica. A minha mãe contra a opinião de todas as pessoas, achou que não estava no seu caminho ser mãe. E portanto não tentou mais. Aceitou aquele facto. Mas depois engravidou. Engravidou de mim. E foi assim que eu nasci. Depois do meu acontecer, tentou ter mais um filho mas tal nunca se veio a concretizar.
A minha chegada a este mundo foi através do corpo de uma mulher infértil. E eu gosto dessa ideia. Talvez tenha sido a partir do momento em que me contaram isto, que eu interiorizei que devia ser alguém especial. Alguém que tinha necessariamente de nascer.

Também podia acrescentar que nasci de rabo. Mas aqui já não sei interpretar o significado. Portanto, deixemos.

Aos cinco anos inventei a história que tinha sido abandonada por uma mãe chinesa e que os meus pais (adoptivos) encontraram-me à porta da Igreja da Sé. No colégio ficaram muito preocupados pela minha forma despreendida de contar aquela história e chamaram a minha mãe com muita urgência para ter uma reunião. A minha mãe teve de respirar fundo e explicar que não. Que eu não era filha de outra mulher que não ela. E que tinha era uma imaginação peculiar. A partir desse dia comecei a ser conhecida como a chinesinha. Facto esse que eu achava fantástico.

Desde muito cedo que os meus pais tentaram incutir regras que eu nunca aceitei. Sempre achei que aquelas regras não eram indicadas para mim. E foi a partir desse momento, que comecei a criar as minhas próprias demandas, fazendo-os acreditar que, na verdade, estaria a reger-me por aquele conjunto que a meu ver tão injustamente me aplicaram. Assim, naquele resvale temporal, comecei a ser duas pessoas. A manipuladora e a verdadeira na sua natureza. É também por esse motivo que o meu pai hoje em dia ainda não me conhece e duvido que isso vá mudar. A minha mãe conhece-me melhor do que ninguém. Porque se permitiu e eu também me permiti. É a minha estrutura neste mundo. Sem qualquer dúvida.

Assim, desde muito criança que desenvolvi a vontade e a capacidade de provocar. de causar sensação. de abanar outras estruturas. de não aceitar o óbvio e de desejar o grandioso. o melhor. sempre o melhor. Não tive grande noção de que os limites existiam. E a minha atitude foi quase sempre de transgressão. Até há bem pouco tempo diria.

Ainda não sei muito bem explicar o porquê dos meus 25 anos já terem tanto peso. Tantos encargos comigo própria. O desenvolvimento emocional nem sempre foi acompanhado pela maturidade. E daí surgiram as perguntas, as dúvidas e as incertezas. Sobre mim e sobre o meu papel no mundo. Uma lista infindável de mágoas já se encontrava na minha almofada. E os primeiros sinais de solidão também. O culto de saber estar sozinha e não depender de ninguém verificou-se muito cedo. Precocemente. Penso eu. Não é suposto uma criança ter uma infância tão carregada. Não é suposto. Ainda mais sendo do desconhecimento de todos aqueles que estavam perto de mim. Soube encobrir aquilo que no meu entender não era de mais ninguém. E portanto, não partilhei. Era o meu segredo.

Fui crescendo um pouco à margem dos outros. Já com árdua tarefa de tantos os segredos que guardava. Teria que me precaver e defender-me de quaisquer danos que pudessem surgir do mundo que me rodeava. E por isso mesmo a facilidade ainda hoje existente de me manter fechada. Indiferente quase às balas que vinham directas a mim. Uma construção, digo eu. Da armadura de aço que sobrevive anos após anos. Podem atacar-me. Poderão sempre fazê-lo. E sim, eu irei sentir o embate. Mas não, já não irei ao chão. Mesmo que isso signifique não sentir. Aliás, não me permitir sentir. É aí que falho também perante mim própria. A armadura muitas vezes não me torna capaz de ir além. De aguardar no meu espaço até que surja o momento ideal para me libertar. E para me dar a conhecer. E perco, sem qualquer dúvida, perco tanto de bom à conta disto.

À medida que fui crescendo, tomei conta de algo importante. Aliás, demasiado importante. Tornei-me grande e por isso mesmo, alheia a tantas coisas. Não sei compreender as pequenas coisas dos outros. Os embrulhos de personalidade. Os receios. Os impasses. Falha-me essa compreensão. Porque no caminho tumultuoso de querer o extraordinário, creio sempre que são essas pequenas coisas, os pormenores que nada dizem. que me afastam do fantástico. E por isso, perdoem-me, a minha falta de tacto para certo tipo de infelicidades, certas mágoas, certos rancores. Sou grande demais para esses detalhes. Porque não sei ficar. Não me sei deixar ficar nesses obstáculos. Sou guerreira. Agora mais do que outrora. Sou a guerreira que vai onde tem de ir para trazer a vitória consigo. Não me detenho nas curvas. Nem nas passadeiras. Vou. Simplesmente vou. Porque acredito que as coisas não irão surgir se não lutar por elas. Mesmo que em alturas me sinta cansada. De um cansaço que me deixa parada. A olhar para a rua. Como que à espera de algo que me acorde e me traga de novo à minha batalha.

E assim, resta-me dizer que tenho a consciência que nem todos têm a capacidade para me aceitar. Que nem todos estarão preparados para um vulcão. terramoto. tempestade. Porque eu sou isso tudo. Empenho-me em sê-lo. Porque de nós devemos sempre esperar grandes feitos. Nada menos do que isso.

Posto isto, não posso pedir desculpa por encabeçar cada vez mais a verdade nos meus dias. Nem ousar, repito ousar, pedir desculpa por querer sempre mais. Porque querer ir directa ao cerne. porque não me bastam as epígrafes. Não sei acomodar-me aos desígnios diários desta vida. Não sei, de todo, ficar-me. Remoendo o que poderia ter sido. Não me peçam para ser triste ou derrotada. Não me peçam para cair ao mínimo sinal negativo. Mas principalmente, não me peçam para ocultar ou controlar o que melhor eu tenho. A minha força destemida de ser e querer mais. Mas sempre com a certeza incobrável que terei de me proteger.

É isto que tenho para oferecer. E sei que nem todos têm a aptidão para me receber.

Nasci de uma mulher infértil e estou aqui porque não há vida que não precise de uma revolução.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

18

Foram poucos os dias inteiros que tivemos para nós. Em que eu pudesse ser testemunha do teu acordar e do teu adormecer. Não que isso seja muito importante. Mas é importante. É importante para mim saber reconhecer as várias expressões. Os detalhes que dispõem os rostos pelas várias horas do dia. Não os rostos. Mas o teu. especificamente o teu. porque de alguma forma também era meu. E não apliques aqui qualquer forma de posse. Na verdade, tudo o que livremente damos, fica em nós. como marca. como significado ambulante do que de nós saiu. E por isso, depois destes anos todos, ainda guardo em mim todo o amor que te dei. Mesmo que nem todo tenha sido devidamente aplicado. em ti. na tua vida. na tua forma de desencadear sensações e formas de vida.

Mas dizia-te que foram poucos os dias inteiros que tivemos para nós. e por isso, fica-me injustamente mais a morte. mais o adeus cirúrgico que teve origem na minha boca. porque não podes crer que foi um adeus aceitável. ou desejável. mas foi o adeus pronunciado. enquanto esperava que acordasses. naquele dia inteiro que foi nosso. mas não acordaste. e não tenho como esquecer a expressão do teu rosto. a declaração da tua morte mesmo à minha frente. faltam-me os outros dias. entendes? preciso que me dês os outros dias. estejas onde estiveres.

E não podes ousar dizer que não tentei tudo. não podes. enchi a nossa cama de mulheres. todas elas escolhidas por terem algo de ti. mesmo que na verdade não tivessem nada. mas foi assim que as escolhi. e tive dias inteiros com elas todas. uma por cada mês. e coloquei-as a fazer tudo o que tu me fazias. a minha comida favorita. a caipiroska como só tu preparavas. a cama com aquele jeito final que nunca vi mais ninguém a fazer. as palavras. o abraço apertado e sufocante. e até a forma de foder. ou fazer amor. nós fazíamos as duas coisas. sim. durante um mês cada uma das mulheres agiam como se fossem tu. mesmo que na verdade não percebessem que estavam ali apenas para interpretar um papel. o teu papel.

portanto tentei, meu amor. tentei que a morte não te levasse. e que os dias inteiros estivessem limpos para serem preenchidos.

e agora?

o que me resta de ti senão a casa suja de outras pessoas.
o que resta de mim senão esta amputação do que fomos.

como é que faço para voltar à nossa casa?

preciso que me digas.

tu aí desse lado onde a morte sossega.

Egoísta, nº 32

Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. Que me pensavas por dentro. Que era eu a tua fantasia, o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor. Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade. Mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto.
Um minuto.

Filipa Leal

.15


I just don't want to run away.

Even if I can't define what's this.

I'm staying and someday I'll receive a sign.

I know I will.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

.14



Dias confusos estes. 2010 não deveria ser o ano da confusão.

Deveria ser o ano em que tudo me correria bem. Aliás, maravilhosamente bem.

Acho que por mais que queira ter fé, a descrência volta a por-me no devido lugar.

Não. Hoje não estou nos meus radiosos dias. Hoje estou impossível. Hoje merecia um par de estalos bem dados. E deveriam doer. É o que sei.

Ou então que pegassem em mim e me levassem para longe. Sim. Poderia ser este o dia. Em que arriscaria tudo. Sinto falta de um dia que faça a diferença e que permaneça ao ponto de se lhe tomar o gosto.

Sinto falta de me deixar ir sem medo.

E porra, sinto falta que as coisas corram bem.

Não, não é de todo um bom dia.

O dia de hoje.



Existem dias que me irritam profundamente. O de hoje começou a irritar-me já ao acordar. Gostaria de saber quem é que se deu ao trabalho de inventar um horário de trabalho que começa antes das 11h. Sim, gostaria mesmo de conhecer essa criatura. Teríamos uma conversa certamente muito produtiva. Assim sendo, dificilmente os dias começam bem quando eu preciso de acordar cedo. Sim, pode estar um dia lindo lá fora. Ou os planos podem ser fantásticos. Eventualmente, isso poderá acontecer. No entanto, só o primeiro passo que dou para sair da cama, deixa-me com um ar de poucos amigos. Ar esse que, por vezes, só passa no dia seguinte. Se calhar, estou a exagerar. O sorriso vai aparecendo ao longo do dia. O problema é a trovoada interior. Que ainda não esqueceu que teve de dormir pouco e acordar contra a sua vontade.


Para além do acima escrito, está um dia feio daqueles mesmo muito feios. Porque há chuva e há vento. E o guarda chuva mais resistente ficou no escritório e preciso de me consolar com um pequenote que ao aproximar do vento, treme todo e começa a tossir.
Começo a descer a rua e sinto as pingas pesadas da chuva e esconderem-se nas minhas calças. Já começa a ser desagradável e depois como se as coisas não pudessem ficar piores, ainda passa um carro que molha o que ainda há para molhar, que na verdade não era pouco. Aí, nesse preciso momento, só me apetece voltar novamente para a cama e não sair mais de lá. Sim, existem dias que fazem com que a depressão apareça e se instale.

Estou a ficar profundamente chateada com este ano. Mas mesmo muito. Ou começa a entrar nos eixos ou eu regresso a 2009, sento-me na poltrona e deixo-me estar.

É verdade. Hoje é dia de limpar a casa. &/"%&&#%"/&/(&/("&/(



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

17

digo-te isto sobre a despedida:

a chave que abriu a porta é a mesma que a fecha.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

16

Não é uma viagem de coragem. Gostaria que soubesses isso. É uma viagem de gestos. E de poucas palavras. Porque no silêncio eu sou mais credível. Menos atada a todas as palavras proferidas. Mais mãos e menos boca. Porque das mãos sai o laço. e da boca o vício. existe tempo para tudo. também preciso que saibas isso. há tempo para tudo. que seja o laço o primeiro passo. é também menos doloroso. e menos consciente. mas na verdade perdura mais. é isso que eu pretendo. que perdure. porque o tempo perdido já cá não faz falta. já o guardei em excesso. chega.

não sei se notas. que estou diferente. podes não notar. é normal. ainda estou a aprender a tirar as capas. é um acto doloroso. depois dos anos de intensa companhia. não é fácil. reconhecer que é preciso deixar os papéis de lado. e ser eu. mesmo que à primeira vista não seja tão agradável. tão bonito. mas ao menos é a verdade. ao menos isso, não é?

- onde vamos?
- não sei. existem perguntas que não sei responder.
- mas vamos a algum lado?
- sim. vamos. é preciso ir.
- agora?
- daqui a um minuto. ainda falta um minuto.
- diz-me uma coisa bonita.
- inventada ou de dentro?
- inventada não. porque haveria de ser inventada. tens o benefício da dúvida. tem de ser de dentro.
- mesmo que não seja do mais bonito?
- sim. mas tem de ser de dentro.
- tiras-me do sério.

Odes - 1


Ode do castigo



só mais uma menina entre outras
e o quadro negro onde escrever o teu nome a giz
como um erro ortográfico do coração.

castigo.
entre nós o alto muro do recreio
e a obrigação de permanecer só.