sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma Pancada na Água

Os homens são uns parvos. Não se conseguem entregar por completo ao amor. Têm sempre o trabalho ou outra desculpa do género. Preocupam-se com o que não estão a fazer. Para eles o amor pode ser um inimigo. Um inimigo há muito derrotado mas do qual ainda têm medo. As mulheres são diferentes. Para elas o amor nunca é demais. Não atrapalha. É que não conseguem viver com uma alma só para elas. Por isso entre um homem e uma mulher há muitas vezes só uma coisa parecida com o amor, entre duas mulheres pode acontecer o amor inteiro. Basta ver duas mulheres a olharem-se nos olhos.
Isto são teorias. Convém ir às coisas mesmas. As palavras dela.
"O amor é incorrigível como o sol de pé e eu amo-te como o mar e a areia se deitam juntos. Nas praias interiores há uma ciência certa: as tuas ancas violentas, o teu cabelo frio.
É o tempo da seda entre os nossos vinte dedos embrulhados e os arquitectos afirmam ser preciso edificar um lugar novo para duas pessoas que estão a pensar tanto há tanto tempo com os corpos. Ouve-se só a água a atravessar a delicadeza da terra, é difícil acordar. Sais e entras pelas estações e os animais acompanham-te e eu digo que é o vinho, a metamorfose, que usamos de uma arte insensata, que comigo emigras na minha voz.
É por um nome estrangeiro que te dás enquanto ao longe o meu me escapa. É preciso chamar-te quase sem voz, estás despida escutando-te a ti mesma, descoberta. Eu sou a vítima caminhando, a minha boca impressa na doçura da tua boca, sem saber como fazer, dada à beleza repentina, inspirando o louvor. Os animais vêm comer às nossas mãos no silêncio intenso das montanhas, as noites trocadas e no meio há um espelho em que o amor se vê, aparecendo e logo indo. Enquanto permanecemos quietas, sem nada entender, uma criança anda pela terra de camisa branca aberta, desabotoada.
Sempre que penso em ti avanças em desordem no ar, e a minha memória aflita tem pressa de te alcançar, o sangue tem pressa em correr, e antes de alcançar tremo, sinto pavor em chegar. O meu coração é a criança a correr para ti e tu desapareces no interior da minha respiração, de uma dança elevada à solidão que faz arder o vento atrás de si. Sempre que penso em ti rogo pela ressurreição do tempo, pela subversão dos dias.
Meu amor, há pressa de chegar à alvorada, ser água a correr. Os animais estremecem e dormem mas eu não mais terei sono e vou despir-te tão lentamente como se tece o tecido de uma estação, os dedos a arder na doçura negra dos teus cabelos. E à volta tudo se ergue e respira e a criança passa à sombra do teu vento e fico nua numa vertigem que me sabe a sal e a mar a escutar os ruídos do amor, as duas mãos cegas atadas ao peito.
O que de ti guardo é um lenço de pétalas encostado ao rosto e o meu coração minado pelo bater das próprias pancadas, o teu corpo em silêncio pousada na delicadeza da geometria perfeita. Depois seguimos até ao fim deste tempo desperdiçado. É monstruosa a candura com que avanças, a tua mais secreta beleza, a tua mão de mulher a agarrar a minha camisa de menina.
Onde estás? A água dobra-se para que passes, as tuas ancas, o teu sexo imprimem-se na areia, voltas o rosto e perguntas: o que é?, e as palavras precipitam-se. As pessoas podem morrer por muito tempo, tu acreditas nisso. E depois podem voltar. Uma alma pouco é, duas almas são um mundo e caminhas quando te persigo a teu lado e me esqueço do meu nome, a minha boca queimada e sei que desapareceste de repente por detrás das colinas, sobre a água. Alguém vem dizer que tenho a mão direita sobre o teu coração tão branco e que também se morre de contemplar a morte, que além de grandioso é íngreme o paraíso.
É então que partes. Nesse instante, meu amor, anjos cegos cantam a minha morte. Vejo a luz que chega estrangulada ao lugar de uma paixão terrível. Partes e a tua despedida grava-se para sempre na areia, as coisas em volta respiram devagar, mais lentamente, com a tristeza. Partes e escrevem-se as primeiras letras na noite antiga e a lua nasce na minha camisa desabotoada e negra e de todos os lados ouço gritos e sangue a correr nos cabelos torturados. Partes e as crianças voltam a cabeça para reparar na mortal maneira de te inclinares na partida com um beijo, a minha camisa cheia de febre. Partes, meu amor, a pancada na água, a luz encurvada.
E sorris ainda para provar que somos eternos, mas eu sei que a idade não se faz milagrosa e ficamos presas de uma imagem em perigo voltada para o terror da paixão.
A tua blusa de perfil, as nuvens a afastarem-se, as mãos ocupando-se em ter dedos - era Maio ou Setembro - bom dia meu amor, até já meu amor, até logo meu amor, até sempre amor meu. A noite segue de um lado para o outro, as colinas afastam-se para dar passagem à tua ausência, tremo de febre, viramos ao de leve a cabeça uma para a outra, ao longe, depressa, como se já dormíssemos e ainda procurássemos adormecer, os pulmões cheios de água.
No escuro a pureza mostra melhor a sua maneira de ser, a tristeza bebe-se com as duas mãos juntas. Oiço a noite chegar como uma floresta que avança. Por favor, digo eu, quero levar comigo esta morte dos pés à cabeça. E entro pela floresta onde te deixei."


de Pedro Paixão
in Nos Teus Braços Morreríamos (1998)

terça-feira, 27 de abril de 2010

.38

Quero dizer-lhe que:

Tenho saudades suas.

E que não é fácil/apaziguador estar sem si.


Mas não lhe vou dizer para voltar. Para me ajudar a recuperar o que perdemos. Não.

Vou ajudá-la a manter a sua decisão. A sua escolha.

Porque a particularidade das escolhas é isso mesmo. Saber aceitar e viver o que escolhemos.

Um mundo de si, minha querida.

Gui.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

.36


I'm so IN LOVE with cupcakes.

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Hoje de manhã dizia a minha J.: Toda a gente pensa que os textos que tu escreves são para elas.

Pois é. Mas não são. E o que mais me irrita é que fiquem chateadas ou amuadas ou lá o que seja porque acharam que um texto que eu escrevi era para elas. Pois. Quando um texto é dirigido a alguém, ou está lá a inicial do nome da criatura em questão ou é de tal forma explícito que a pessoa a quem for dirigido saberá que é para si.

Portanto, façam-me o favor de parar com conclusões que nada têm haver. Se querem saber, perguntem. E não, não me tratem com duas pedras na mão. Porque não há paciência. Volto a dizer: too much drama!

Já fiquei com o dia fodido. Espero que estejam todas muito felizes. Porra.

Bem não haja!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

.34

Para a Piu.

Hoje escrevo para ti. Porque era uma ideia que já tinha em mente. Porque surpreendeste-me. Porque eu de limites percebo muito, por tantas vezes os ter atropelado. Por nunca estar demasiado distantes deles. E admiro quem consegue ultrapassar os seus próprios limites. Não porque seja o melhor a fazer mas sim porque por vezes razões que trazemos por dentro ditam essa batalha. É uma batalha. Sei que o sabes. Sei que não foi fácil e sei que nem agora é fácil de lidar. Porque existem danos. Noites mal dormidas. Lágrimas. E tanto mais.

Por gostares de mim, levaste-te ao limite. Por me quereres ver bem, esqueceste-te de ti. Por não me conseguires ver a sofrer foste interveniente numa história que só trouxe desilusão e derrota. Ajudaste-me. Estiveste perto. Continuas a estar. Continuas a querer ver-me bem mesmo sabendo que não ficaremos juntas. Já sabias antes. E mesmo assim queres estar perto. E dar-me-ás a mão quando eu precisar porque em última instância preocupas-te com a minha felicidade. E isso, é raro. Porque mesmo quando se gosta tentamos salvar-nos a nós próprios. Porque no final do dia é isso que devia importar. Fazemos o melhor para ficarmos bem. Afastarmos o que nos dói. Quem nos desilude. Quem desiste de nós. E tu tomaste o caminho inverso. Optaste por querer ver-me feliz. Mesmo que a minha felicidade não fosse causa para a tua felicidade. Não te importaste. E isso, minha querida, é inefável. É ser altruísta. E digo-te: não é cuidares de ti.

Porque existem limites que mesmo depois de ultrapassados têm de voltar a ser limites. Porque por mais que me queiras ver feliz tens de cuidar de ti. E protegeres-te. E seres sempre a tua primeira escolha. É bonito sim. é incalculável. é puro. Mas não é tranquilo. Não é a melhor forma de te sossegares e preocupares-te com a tua própria felicidade.

E portanto tinha de te escrever. Para te agradecer o que fizeste. Por teres tentado obter um resultado condenado à partida. Mas tentaste. E também tu lutaste. E permaneces-te do meu lado. Sempre disponível para me amparares a queda.

Fizeste mais do que devias. E mais do que podias. E mesmo assim agiste. De ti nada era esperado. Mas agiste. E deste-me a mão. Não sei como agradecer. Não sei sequer se o teu gesto e a tua postura são passíveis de agradecimento. Por serem tão grandes em si.

Obrigada. Por não me teres deixado passar por isto sozinha. Obrigada por acreditares em mim. Por gostares de mim como gostas. E por me protegeres.

Mas agora tens de cuidar de ti. Tu sabes que sim. E tens de encontrar a tua felicidade porque ela está aí. Tens de lutar por ti, agora. Por mim já fizeste o que podias ter feito. Mais do que isso, tu sabes.

E não, eu não me esquecerei.

Obrigada.

terça-feira, 20 de abril de 2010

23

Não paro de dizer a mim própria que esta é uma fase. Sim é uma fase. É uma fase em que não me apetece falar contigo. Ou estar contigo. Sim, é apenas uma fase. Todas as relações passam por isso. Sei que sim. É normal. A rotina é crescente e nem sempre é fácil fugir dela. Temos vidas complicadas. Sempre tivemos. Os mais importantes marcos da nossa relação foram momentos de impulsividade. Somos assim. Damos pulos que nos fazem voar. E depois a rotina traz-nos à calmaria dos dias. Vivemos juntas. Não foi por comodismo ou para evitar duplicidade de despesas. Vivemos juntas a partir do momento em que dissemos que queríamos estar juntas mais do que um Mês. Sim não referimos anos. Dissemos apenas um mês. Não sei porquê. Talvez tivéssemos medo do passar do tempo. E desde então passaram cinco anos. Os hábitos mudaram-se. Não somos as mesmas pessoas. às vezes páro para pensar no prolongamento das coisas. Mas esta é uma fase. Em que me apetece sair de casa. E destruir os hábitos construídos. Enterro-me no trabalho. A desculpa de ter muito que fazer é sempre boa. Do trabalho não dá para fugir. E portanto, se chego tarde não tenho cabeça para conversar. Não quero ter de dizer como foi o dia. O que aconteceu. Não. Não quero falar. Gosto quando chego e já estás a dormir. às vezes, chego-me a ti. Não sei porquê. Não é queira. Mas é o hábito. Lembro-me de quando nos juntamos. Revisitavamos as várias divisões da casa. Quase não dormíamos. Fizemos promessas descabidas porque são promessas que não se podem manter. Disse-te que eras a mulher da minha vida, certa noite, em que estávamos nuas à entrada da varanda. Disse-te que eras a mulher da minha vida. E agora não o posso retirar. Porque existem coisas que depois de ditas já não são nossas. O momento pós prazer é dos mais complicados. Dizemos tudo como que uma forma de agradecimento pelo momento fantástico que passamos. é quase sempre assim. Não é que não seja verdade. não é isso. a questão é que é tudo muito mais exagerado. dizer que eras a mulher da minha vida foi exagerado. agora sei que sim. devem haver muitas mulheres na vida de alguém. não é? uma só é sonhar pouco. acabaste de me enviar um e-mail. queres passar um fim-de-semana fora. dizes sempre isso quando eu me afasto. ou quando não te procuro. pensas que um fim-de-semana longe do stress me traz de volta a ti. compras uma lingerie qualquer porque sabes que eu gosto. começas a usar decotes. envias provocações por sms. chateias-te se não reparo na roupa nova. ou se falo para ti a olhar para outras pessoas. e quando queres marcar a tua posição, avanças com um já não me amas. e amuas. e fazes-te de mulher magoada. é um papel que encarnas muito bem. se não te rasgo a roupa mal chego a casa é porque existem outras pessoas. agora também culpas o trabalho. preciso que te cales. é possível? que te cales e me deixes. não, não existe mais ninguém. e não é o trabalho. o trabalho é o escape. fossem todos os escapes assim. e não, não vou passar fim-de-semana fora. mas vai tu. queres ir tu? era perfeito. e dás-me dois dias de descanso. em que posso ouvir música aos berros. e embebedar-me até não me aguentar das pernas. e ler durante a madrugada toda. e estar com os meus amigos sem que faças uma lista de defeitos de cada um deles.
e não, não quero que cozinhes. nem que te esmeres. nem que me dês o último grito dos telemóveis. nem que me chames amor. quero que te cales. entendes? é isso.

mas isto é só uma fase. uma fase em que eu nem olhar para ti consigo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

.33


"The trick is to recognize when a goodbye can be a good thing.
When it's a chance to start again."

Gosto dos meus fins-de-semana cheios de pessoas e com boa disposição.

Este fim-de-semana foi um turbilhão emocional. Denso. Complexo. E a tentar combater o pensamento e a saudade. A enfraquecer um sonho e a engolir a desilusão.

No entanto, foi um fim-de-semana cheio de coisas boas.

Um final de Sexta-feira com o R., imperais e a discutir os nomes dos nossos futuros filhos. Afonso e Maria Eduarda foram os escolhidos. Os meus apelidos serão os últimos. Sempre tive para comigo que seria assim. Também ficou decidido onde iríamos viver, em casas separadas mas com a possibilidade de ele ser um pai presente. Campo de Ourique. E o desporto que as crianças iriam fazer. Daqui a uns anos quem sabe se as coisas não se concretizam tal e qual sonhamos.

De seguida, jantar a uma taberna espanhola fantástica - O Rubro. Boa comida, bom vinho e conversa sempre divertida com a Madrinha Má. Chegar a casa e ver de novo o "Kissing Jessica Stein", gosto de rir quando a madrugada já está feita e sentir os olhos a fecharem-se por si.

Sábado foi um dia que se revelou complicado. Tive de me arrastar literalmente para fora de casa casa para ir para a esplanada ler a Sábado e o Público e tentar ver se o sol era um querido e aparecia. Não apareceu e fui para casa cheia de frio.

Depois fui afogar mágoas para casa da MJ, levando comigo crepes com chocolate e gelado. Isso com a mantinha e o filme, foi um desfecho mais que bom. É tão bom descortinar o coração contigo, bébé.

Domingo, o G. resolveu acordar-me, queria convidar-me para almoçar. Lá fomos na sua nova bomba Classe E, a Alvalade comer italiano, o café fez-se já na companhia do R. na esplanada do bar In rio, com o Tejo como visão perfeita. Ficou combinado um fim-de-semana em Maio no Algarve. Só nos os três como nos bons velhos tempos.

E depois, eu e o G. como perfeitos insaciáveis, fomos passar o desfecho da tarde no casino de Lisboa, no arena lounge a comer um prato misto de queijos e enchidos acompanhando com uma garrafa de vinho tinto.

é isto. empurrar a tristeza borda fora e aproveitar estes pequenos momentos que me enchem e conseguem deixar-me com um sorriso nos lábios.

It's definitely a chance to star fresh.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Rainer Maria Rilke

For it is not inertia alone that is responsible for human relationships repeating themselves from case to case, indescribably monotonous and unrenewed: it is shyness before any sort of new, unforeseeable experience with which one does not think oneself able to cope. But only someone who is ready for everything, who excludes nothing, not even the most enigmatical, will live the relation to another as something alive.

.32

Ontem ao almoço falou-se sobre pessoas, relações, filhos, expectativas e desilusões.

Entre garfadas eu ia numerando as minhas desilusões. As que deixaram marca. As que permiti porque gostava e quando se sente inevitavelmente acabamos por achar que por mais falhas que existam haverá sempre uma saída. uma solução. um génio da lâmpada que nos dispensa três desejos. Sim, quando gostamos não encarámos a realidade. afogamos a racionalidade porque achamos que se não o fizermos perdemos a emoção. quando assumimos a desilusão voltamos a conversar com a nossa razão. e aí se fazem as conclusões. já não com o coração a pontear mas sim com este longe porque foi induzido em coma. as emoções ao rubro deturpam tudo e mais alguma coisa. e neste estado dificilmente acertamos no caminho a escolher.

foi no meio do meu elenco de desilusões que a minha interloctura me disse:

C., eu vejo-te a ter um futuro brilhante. A nível profissional e também emocional. Mais do que saber, eu sinto-o. Não te deixes afogar em tristezas e mundos sem fundo. Tu vais crescer ainda tanto e serás brilhante. Acredita nisso. E aprende a senti-lo.


A minha interloctura não me conhece assim há muito tempo. É uma mulher incrível que traz nos ombros um passado e presente com peso mais do que aceitável. Mas permite-se rir. E sorrir. Mesmo quando a cada passo que dá o mundo oferece-lhe um estalo. Trabalhamos juntas. E hoje em dia debatemos imensos assuntos, entre eles a mazelas do coração. E do pouco que me conhece, acredita no que serei. No que já sou. e é bom ter quem nos recorde, quando os dias parecem um cemitério do tanto que tentamos enterrar.

Hoje o dia acordou diferente. Fechei uma porta e decidi seguir a decisão que a minha amiga Maria João tomou. Entregar o meu destino à vida. E deixá-la fazer o que tem a fazer. Sem pressões ou expectativas. Sem calendários a respeitar. E sem estar constantemente a tentar ser o que os outros querem que sejamos. Porque afinal de contas eu serei brilhante. Não sei como é que às vezes me esqueço disto.

E sim, estou a sorrir porque fiz tudo o que poderia ter feito. Estou a sorrir porque não me desiludi. E no final do dia é isso que tem de ter importância.

No dia em que fecho uma porta entrego-me à vida.

Um brinde.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

.31

Se tu existisses ainda na minha vida, abanarias a cabeça sempre que te contasse os novos episódios da minha vida ao mesmo tempo que me dizias que eu não sei parar. não sei estar quieta. levo tempo a mais para assumir outra rua que não esta que mais do que gasta é desperdício. Sim, se estivesses aqui era o que farias. Tu que tão bem me conheces.

Vi uma foto tua antiga. Do tempo em que o teu ombro era o meu amparo. E as tuas palavras o prolongar do meu sorriso. Ainda te choro mesmo que as lágrimas não caiam. Ainda te trago em mim tão presente que não é estranho parecer que te vejo ou que te oiço. A única fase da minha vida em que eu não senti necessidade de ser só. foi quando tu estavas perto de mim. E agora quando me vejo deferida em sangue chamo por ti para que me tires deste buraco. Para que digas as palavras certas, aquelas que de tão certas me afastariam dos becos sem saída.

Isto de ser só depois de ti é tão complicado. E deprimente. Preciso de te ouvir dizer: Mas ainda estás a perder tempo? Tu? Constróis a história na tua cabeça e depois persistes nessa estupidez até seres completamente destruída? Essa é a tua opção. Desprovida de qualquer sentido. Estás, continuas porque queres. E se cais a culpa é tua. Há um tempo para tudo. Depois de ultrapassado é despeito por ti própria. Portanto, faz o que tens a fazer mas salva-te.

É isso que vou fazer. Salvar-me. E para isso digo-te adeus.

Peço desculpa por todas as vezes que te magoei. Mas não te peço desculpa pelas vezes em que te chamei cobarde. Não se deve pedir desculpa pela audácia de dizer a verdade.

Induziste-me não só a mim em erro. Persistes em algo que não te completa. Enganas-te a ti própria. Escolheste o caminho mais fácil e será esse caminho que um dia tirar-te-á os pés da terra segura. Todas as pessoas vão a algum lado. Mais dia menos dia, minha querida. E aqui volto a dizer-te: foi a tua escolha. e a ti a mesma deve ser única e exclusivamente imputada.

Lembras-te das nossas primeiras conversas? Em que dizias ser incapaz de fazer exactamente o que estás a fazer agora? Pois bem. Saberás tu melhor do que ninguém conviver com isso.

Não, não te estou a libertar. Estou a salvar-me de mais um episódio de destruição maciça.

Estou a abrir-te a porta para deixares de pensar em mim. Para deixares de sonhar. De imaginar. A história que também tu construíste. Desiludi-te? Melhor ainda. Terás o caminho facilitado. É disso que tu gostas.

Agora deixa que te diga o seguinte: Tiveste todas as oportunidades para fazeres a diferença. Todas. E deitaste tudo a perder. Mas sim, o excepcional é não cair no comum erro do comodismo. É aceitar a mudança desejada e assumi-la. E não ter medo do que pode correr mal. É isto que é viver. E numa coisa tens razão, eu não te levaria ao colo para sítio algum. De convencional e comum tenho muito pouco. E não estou aqui neste rodopio a que deram o nome de vida para facilitar ou aceitar tudo e mais alguma coisa.

E ao contrário do que possas pensar, eu quero que tu sejas feliz. Embora não duvide que o pudesses ser mais comigo. Aliás, ambas concordámos neste ponto.

See you.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

.30

Hoje seria um bom dia para fugir. Mudar de nome e de número de telemóvel. Tornar-me irreconhecível. Talvez pintar o cabelo de vermelho. Usar lentes em vez de óculos. Se bem que acho que não ficaria tão gira. E isso seria pecado. Mas sim, uma mudança radical de vida. De país. De tudo.

É. Provavelmente isto é fugir. Para não enfrentar. Sim, estou cansada de enfrentar lutas que se iniciam como destemidas e que terminam comigo a ser decapitada. Já vos disse que ando cansada?

Como é que se enterra um passado? Quando temos a certeza que é ele que nos impede de evoluir e de ser? Como é que o passado pode ter esse poder? Essa capacidade de ditar coisas tão básicas como respirar. Acordar e perguntar-me: Narcisa, hoje é um bom dia para viver? Não. Hoje é um bom dia para fugir.

Despistar o tempo. Mandar uma encomenda às urtigas. Foda-se.

I wish I could go back to the days when I believed in me and you.

domingo, 11 de abril de 2010

.29

I don't understand it

But I will respect your choice

One more time.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

.28

Tenho uma colecção de folhas brancas perpetuadas com palavras para ti. Já te disse? Estão espalhadas pela casa. Sou assim, tenho coisas espalhadas por todos os sítios. Moro num caos de desorganização que me ajuda a não cair em tentação com o meu caos interior. Entendes? Talvez não. Não há mal nenhum que venha com a incompreensão, a não ser a particularidade dos laços que se desatam. É isso que faz a incompreensão.

Dizia-te que tenho uma colecção de folhas brancas espalhadas com palavras para ti. Como também tenho os sentimentos. Espalhados por ti, por mim e por outras pessoas. Por vezes, tenho dificuldade em emergir os sentimentos directamente à pessoa certa. Baralho-os tanto quanto me baralho a mim. Não é por mal. É simplesmente como tudo acontece em mim.O problema das manias é que depois de praticadas durante algum tempo, tornam-se usos próprios e por isso automaticamente praticados. É o que me acontece com as palavras. Mais do que uso, hábito são vício. A boca não se fecha e as palavras formam-se em frases. Peço desculpa de todas as vezes que fui dura. inconsequente. fria. Serenidade também é sabermos pedir desculpa pelo que somos.

Hoje vinha no metro, demasiado pensativa. Penso muito quando ando de transportes públicos. Quando ando de carro só canto e abano a cabeça ao som da música. Pensar não. Isso só nos transportes públicos. Existe algo entre a música, os desconhecidos que me faz pensar. Dizem que quando penso não tenho uma cara simpática. Eu concordo.

Vinha no metro a pensar que o mais certo é que ficaria sozinha. É uma ideia já de algum tempo. O ficar sozinha. Viver a vida ao máximo com a certeza que haveria um dia em que me ia fartar das pessoas e ia viver de mim para mim. Por vezes, pergunto-me se me dói esta ideia. Por estranho que se pareça sinto-me quase indiferente à possibilidade dessa situação. Não sei se é normal. Houve uma fase da minha vida em que me era indiferente a dor que poderia causar ao próximo. até quase uma indiferença para com a vida em si. não sei se ganhei juízo. é certo que evolui. mas o caminho ainda é longo. perco a conta ao que ainda me falta permitir. nem sempre é fácil vencer o cansaço. o estado de saturação. nem sempre é pacifico olhar a vida de frente. e perceber que por muito que se perca será sempre uma vitória viver. é o que estou a tentar fazer. enfrentar as perdas e permitir-me viver. e ser mais do que sou. bem mais do que sou.

perguntas-me pelo amor. o estado do amor nos meus dias. ele existe. vai existindo. resguardado ainda. com espinhos ao seu redor. mas existe. falta permitir-me agarrá-lo e aceitá-lo. falta também que a vida facilite e pare a constante construção de curvas. estou cansada mas quero ir além. é o que sei.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

.27

É a mudança o que mais assusta. Não a perda. O problema são as constantes adaptações que temos que fazer. O abandono de hábitos e a ascensão de novos. É o medo da mudança que nos cola os pés, impedindo o passo seguinte. E aqui começam a surgir todas as outras questões, os desencontros temporais, as fases opostas entre si. Não há, de facto, situações perfeitas. Tal como não existem pessoas perfeitas. E desengane-se quem acha que tudo resulta das nossas acções. Não. entre as nossas e as acções dos outros, temos a sorte que ou facilita ou dificulta. Descobrir o equilíbrio é o mais difícil de alcançar. O caminho até esse troféu é lento, áspero, patético e disfuncional. Poderemos vencer. é verdade. as vitórias não estão por aí à venda mas poderão ser sonhadas e até conseguidas. mas neste mundo onde tudo anda a passo de caracol e em direcções contrárias, o comum são as portas fecharem-se a cadeado. seja por desistência, cobardia, medo. distracção. e quando as portas se fecham, oportunidades perdem-se. desencontros amontoam-se. e a insatisfação reina.

ou se luta e corremos o risco de abrir feridas antigas ou se assume a derrota antes mesmo desta acontecer e aceitamos o vazio crescente.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

.26

Mais um aniversário bateu à porta. Este ano comemorei a segunda vez que fiz 25 anos. Até aos 30, terei sempre 25 anos. Não escolhi este número por alguma razão em especifico. Aliás, o ano em que fiz 25 anos foi uma treta. Um desperdício de tempo. Um desperdício de mim em prol de outras pessoas. Um ano depois, acho que estou desgastada como nunca antes. A isto junta-se o cansaço, a desilusão e a descrença. Cada vez tenho mais pânico de tudo e mais alguma coisa. Bloqueio e fico assustada. Acabando por me isolar ainda mais e acreditar que tenho de me manter sozinha. É o medo que faz isto. Sempre foi o medo.

2010 era o ano do extraordinário. Seria o ano prometido. Não tem sido. 2010 fez-se um ano estúpido. Só me apetece bater-me. Do género, acorda para a vida, porque ela termina daqui a pouco. Eu continuo adormecida, no entanto.

Não obstante, 2010 trouxe-me muitos presentes no que diz respeito à amizade e por isso estou mais completa. Com muitos momentos alegres e bem vividos. Sim, é um ano comemorativo este. A par de todo o resto, de todos os dissabores tenho de me sentir feliz. Tenho mesmo de me sentir feliz, pelo menos, na amizade. E estou. Não posso negar que estou.

Se tudo o resto falhar, as amizades ficarão. Estará sempre um abraço à minha espera. Disso não duvido.

Poderei sempre permitir-me ir nas filosofias de vida da Ritinha e da Maria João; Rir, estar e ter conversas do outro mundo com a Jo (Se tu fores embora, não imaginas o vazio que vai existir nos meus dias). Beber imperiais atrás de imperiais com a Nicas. Dar abraços apertados à Alicinha. Galantear a Paulinha. Ter a Madinha Má a por-me na linha. Meter juízo na cabeça da Honez. Ter os miminhos sempre tão agradáveis do Ricas e do Cristiano (mesmo que estejas nessa ilha maldita, parvo). Trocar dicas de engate barato com o G. Sim, poderia ter isto tudo a vida eterna e não fugia. É tudo tão bom que não dá para fugir.

E poderia tê-la a si como nos temos tido estes anos. Com o abraço que nem sempre acontece mas é sentido ao longe. Com as palavras certas. Com o sorriso ancorado na face. Com as nossas gargalhadas. Num espaço só nosso e tão bonito.

Se eu for a ver, só me falta aprender a caminhar para integrar esta felicidade num todo. E saber receber isto, é ser feliz. E é acreditar.

Um dia darei pulinhos de felicidade. Sozinha ou acompanhada. Isso acontecerá.

domingo, 4 de abril de 2010

.25

Eu sei. Eu sei que o que eu mostro não é espelho do que eu sinto. A minha postura é quase sempre uma reacção a quente. Nunca a frio. As palavras surgem. Por vezes, palavrões. Como se eu nada sentisse. Ou tudo o que eu sentisse tivesse origem no congelador. Eu sei. Também sei que sinto que todos os dias que são tarde demais. Que um dia a morte leva-me e eu não terei oportunidade de mostrar como gosto das pessoas. como as sinto. Como as trago comigo. Como lhes agradeço o estarem a meu lado. Mas não são todas as pessoas. eu desdenho a maioria das pessoas. não tenho paciência. Mais. Acho que é tudo uma cambada de burros e ignorantes. Sim, eu tenho a mania. Mas gosto das minhas pessoas. mesmo que critique. Seja dura. Nem sempre tenha paciência eu gosto das minhas pessoas. e admiro-as. E escolho-as. E estou porque quero. Porque gosto. É a maior prova de amor que posso dar. É eu estar. E querer estar. De resto, não saberei fazer as melhores escolhas. Não saberei dizer a palavra certa no momento certo. Porque eu não sou assim. Sou do contra. Faço sempre o caminho errado. Começo pelo fim. Antes do beijo, vem a descrença. É apenas um exemplo. Mas isto sou eu. Sou ao contrário. E portanto, o que eu mostro nem sempre é conhecer-me. Daqui é fácil entender porque é que eu digo que os que me verdadeiramente conhecem são raros. São mesmo. São os poucos que tiveram a capacidade de ver além. O que não quer dizer que seja sortudos. Porque eu sou mesmo insuportável. Conhecendo-me ou não. É uma questão de me darem tempo. Se me derem tempo, arrepender-se-ão. Estou a ser sincera agora? Não. Mas transparência e sinceridade não são o meu forte. Dizer o contrário do que se quer ouvir/ler é.

Se podia tentar ser diferente? Podia mas não seria a mesma coisa.

You got to love what you see and what you don’t see. That’s the way. Even if not the fair or choosen way.

P