terça-feira, 31 de agosto de 2010

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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Apetece-me escrever de forma lenta. Escrever e fazer intervalos. Ir e voltar. Como se no intermédio nascesse algo novo em mim. Não nasce. Nunca nasce. Já estamos formatados. Não podemos mudar. Acho que mudar é daquele tipo de desafios que nunca serão bem concretizados. Não, não acredito que as pessoas mudem. Mesmo que o queiram. Não podem. Não há um mecanismo que o possibilite. O que pode acontecer é alguém mentir. Sim criamos uma mentira sobre termos mudado mas na verdade nunca mudamos. é apenas uma mentira. um engano. primeiro a nós e depois aos outros. Acreditarmos que mudamos seria um grande poder. se fosse verdade. mas não é. é um engano. uma mentira. por vezes, para sermos melhor aceites. para termos novas oportunidades. e aí dizemos "eu mudei". mas não. não foi isso que aconteceu. apenas houve uma adaptação a uma situação. para tirarmos algum proveito. há sempre um objectivo. pode ser um objectivo feio. muito feio. ou bom. no entanto, temos por base um engano. é possível esquecer-nos disso? não sei. provavelmente não.

a nossa natureza será sempre uma. só uma. acreditem. e a principal fonte de sofrimento é quando temos de fazer coisas que vão contra a nossa natureza. é muito complicado. porque existem muitas naturezas. e as pessoas chocam. e corre tudo mal. porque não é possível mudar. e nunca será espontâneo. a não ser que a pessoa morra e nasça de novo. só assim. pode morrer com apenas um desejo: quero ser diferente. quero ter outra natureza. e depois estala os dedos e nasce exactamente como queria.

eu não tinha vontade de escrever. não tinha. mas estava entediada. e então comecei a prever letras que se formam em palavras. e temos frases e pontos finais. e tudo isto forma um texto. não penso muito quando escrevo. tenho tudo o que preciso dentro de mim para escrever sem pensar. é verdade. ocorre-me gritar que é verdade.


disseram-me que agora não escrevo com tanta força. a minha tão característica força que irrompe. fiquei triste, confesso. fico triste. se me disserem que escrevo mal, fico triste. porque sei que não é verdade. eu escrevo bem. não é bem uma questão de bem escrever. não. eu não escrevo bem. eu dou vida às palavras e elas tem capacidade para entrar. sim. provavelmente é isto. eu não escrevo eu sei é dar vida ao que escrevo. pronto. prefiro assim. não me importo de fazer erros. porque escrevo rápido e depois não quero reler. só gosto de reler depois de publicar. e aí fico tão feliz por ler o que escrevi que não vejo erros. porque para mim está perfeito. talvez o que de mais perfeito retenho. sim. a escrita.

é estranho isto. sentir-me a endurecer. eu sempre fui dura. mas depois abrandei. agora sinto-me a endurecer. a congelar. mas não prevejo o derreter. não sei. se calhar só no dentro. porque eu sou uma pessoa quente. transmito calor. mas no dentro. os problemas estão sempre por dentro. e eu por dentro sinto-me a fechar. e dói. isto de fechar dói. dói muito. porque é como formatar-me. uma transformação. a que fui obrigada. as nossas transformações só acontecem porque nós somos obrigados a tal. ninguém se transforma só porque sim ou porque acordamos um dia e pensamos: hoje apetece-me transformar. porque sim. porque o dia nasceu azul e apetece-me voar. vou sair da cama e vou à fabrica encomendar asas. não. as transformações são imperativas. seja qual for o motivo.

porque sim sinto-me a mudar. porque fui obrigada. sinto-me a fechar. devia tornar-me menos especial. sim. é isso. se eu fosse menos especial não havia medo. fico triste. não devia ser bom sermos especiais? as pessoas não querem pessoas especiais na sua vida? não é isso que é bonito? termos a sorte de acolhermos alguém especial? não. apercebi-me ontem que não. as pessoas querem é pessoas vulgares, comuns na sua vida. porque assim não se assustam. e podem viver a vida de forma sossegada sem sobressaltos. porque assim não estão em perigo. mas eu sou especial. e já vos disse. eu não posso mudar. não posso. sou assim. deviam querer-me assim. esperem. querem-me assim não sabem é como terem-me assim? confuso. e estúpido. e depois lembro-me que as pessoas inteligentes passam a burras num segundo.

mas dizia eu que me sinto a mudar. a fechar-me. não queria voltar ao meu estado de indiferença. não queria. mas se calhar. se calhar é a única forma de voltar a mim. de deixar de sentir. não quero sentir nada no coração. não quero. e isto lembra-me o sonho que tive hoje. estava sentada ao lado do oceanário com um buraco no lugar do coração e a chamar por ti. poderá ser um prelúdio. tiraste-me o coração em vez de o salvares.

domingo, 29 de agosto de 2010

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Os dias do fim não são aqueles em que efectivamente se fecha a porta. Não. Os dias do fim são aqueles em que a desilusão é tão grande que mal conseguimos olhar para a nossa cara. Não que a culpa seja nossa. Mas sim porque fomos estúpidos novamente em acreditar. Porque o Amor faz isso. Faz-nos acreditar cegamente em alguma coisa ou em alguém. E levamos tempo a mais a perceber que afinal mais uma vez não valeu a pena. Porque a emoção leva a melhor até ao dia em que racionalidade impera.

Aviso:

Quem me voltar a dizer que quando se Ama luta-se e faz-se tudo para o nosso Amor ser feliz, leva um estalo. Ou mais do que um. Não estou a brincar.

Deixem lá o amor nas histórias de final feliz que não existem. deixem lá o amor para aqueles sortudos que conseguiram ter a sorte de estar com quem realmente gostam. deixem lá o amor no cinema e nos livros. Deixem lá o amor continuar a ser uma fantasia na vida das pessoas que esperam a vida toda que o mesmo lhes apareça no caminho. Deixem lá o amor estar num sítio qualquer que não o meu coração.

Porque não vale a pena. Não vale a pena acordar e pensar o-amor-aconteceu-e-o-medo-fodeu-o-de-tal-forma-que-dá-vontade-de-virar-estátua-e-não-sentir-absolutamente-mais-nada.


Não te odeio a ti. Odeio-me a mim por ter acreditado que a descrença finalmente tinha razão para não existir.


(agora mais uma vez tens o caminho facilitado para continuares a não fazer nada. podes sempre imputar a culpa ao que escrevo para te deixares estar. e sim, podes também culpar-me de que sou eu que te afasto. de que fui eu que implantei o medo. que eu isto e aquilo. podes inventar mil e uma desculpas como só tu o sabes fazer. podes culpar-me se isso te ajuda a perceber o que perdeste e como fodeste tudo. eu aceito tudo. sou um máximo. só não te atrevas a dizer-me que eu vou ficar bem. que pouco me importa que vás embora. porque és tu que vais ler isto e vais pensar assim: ela já não quer saber. ela já não me quer. ela vai esquecer-me. e vais convencer-te que eu ficarei melhor sem ti. é isto que vais pensar. mais uma vez de forma errada. mais uma vez vais ler o que escrevo e em vez de subires no teu cavalo branco e vires resgatar-me, vais deixar-te estar. mas sim, repito, a culpa é minha.)


Adenda:

Nove meses para fazeres as coisas à tua maneira. Seja lá o que isso for. Se bem que levar a tua ex a um meeting que supostamente serviria para fazeres alguma coisa, é uma coisa que nunca me tinha lembrado. Como ontem, também o fizeste. Mas isto da vida está sempre a ensinar-nos novas técnicas.


Hoje descobri que afinal pressiono-te a fazeres as coisas à minha maneira. É outra novidade. Se alguém aqui teve de engolir e calar e dar espaço para tu fazeres as coisas à tua maneira, fui eu. Portanto ser acusada de querer às coisas à minha maneira é outra coisa que descobri hoje. Mas sim ao que parece pressiono-te. Ao que parece vais fazer as coisas quando te sentires confortável contigo próprio, não é comigo é contigo. Deixa-me ver, mais 9 meses?

De todas as vezes que discutimos tu voltas como uma repetição: pedes desculpas e dizes que as coisas vão mudar. Pois é. Não mudaram. Só pioram. Não mostras resultados e sempre que tento falar nisso acusas-me de querer discutir.

Hoje perguntei-te: se fosse ao contrário, esperarias? A tua resposta foi não. Portanto, sou otária. Só posso. E preciso de terapia, porque actualmente eu só consigo ver tudo o que de negativo fazes e mesmo assim lá no fundo da filha da putice do meu coração vadio, ainda acredito em ti. Não que vais agir. Há muito que não acredito. Mas em ti. No que tu és. No que trazes dentro de ti e que isso terá o poder de marcar pela diferença.

Já perdi a conta às vezes que nos despedimos. Já perdi a conta aos dias em que dizias que finalmente irias fazer alguma coisa. Já perdi a conta às justificações que não dás. Às vezes em que não estás disponível para mim. Mas que estás para outras pessoas. Claro que deixa que te diga que a justificação de não estares disponível porque estás a preparar-me uma surpresa é fenomenal, o senão é que ainda não vi nada. Nadinha.

Convenhamos, as duas hipóteses esgotaram-se. Deixar-te estar porque dizes que assim conseguirás agir não funciona. Tentar ser eu a fazer as coisas também não funciona.

Portanto, diz-me: tens a certeza que o medo de me perder é superior ao medo de falhares?

Não podes ter. Não podes mesmo ter. Porque se tivesses…

Tu sabes. E se não sabes devias saber.

(Não serei mais a otária de serviço. Ponto final)




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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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You're stuck at home, standing alone
This time you're choking with your words
Staring your face, faking an end
You act a dream that it's not yours
You pretend and perform, don't you ever stop trying
You were meant to be
You're suppose to be
The most happy girl in this whole world
You're a part of me
Don't you ever be
Far away from me in this whole world

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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So in a manner of speaking
I just want to say
That like you I should find a way
To tell you everything
By saying nothing


terça-feira, 24 de agosto de 2010

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Is it really happening? Is it?

:D

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Eu gosto de esclarecer coisas. É verdade. Não me importo de repetir se achar que o devo fazer. Portanto repito mesmo que não oiçam. Não faz mal. Um dia irão recordar-se das minhas palavras. Um dia. Acredito neste destino fatídico das coisas. As palavras certeiras um dia farão sentido. Mesmo que demore. Vai acontecer. Digo-o porque já o vi acontecer. E portanto, não me demovo nesta certeza que mais tarde muita coisas irão ser entendidas.

Existem momentos em que por minutos sou outra pessoa. Ou melhor, adapto-me de tal forma que por vezes, acontece-me ser eu mais umas quantas pessoas. Não sei é confuso. Mas isto porque ontem enquanto fumava um cigarro de madrugada apercebi-me que eu não vou mudar. Melhorar, sim. Mas mudar não. Por ninguém ou por nada. Saberei ceder. Isso devemos saber sempre. Mas mudar? Não. Se mudasse deixaria de ser este encanto. Esta-coisa-mais-linda-que-dá-vontade-de-agarrar-e-não-deixar-mais. (ai, respira fundo, 1 2 3, nunca deixes o ego levar a melhor. já voltaste a ti? então, vá continuemos). Acredito piamente nisto. Se eu mudar, é uma perda horrenda para a humanidade e para quem me é mais próximo. Depois claro está, não quero e não vou mudar. Outra conclusão que cheguei é que efectivamente os meus amigos são a coisa mais bonita que retenho em mim e não quero nem vou deixá-los. Por ninguém. Isto no sentido que existem aquelas pessoas que quando se envolvem com outra e se fecham do mundo (not) e esquecem os amigos. E depois quando as coisas mal voltam para os braços deles. Não. Não. Os meus amigos são grande parte do meu mundo. São. E estão lá, todos os dias. É que estão mesmo lá todos os dias. E não vão a lado nenhum. Ajudam, colaboram, mimam, cuidam, são presentes. Os meus amigos enchem o meu coração sempre que o sinto pelos quintos infernos. Eles abraçam-me e eu não preciso de pedir. Eles sorriem. Eles sorriem e olham para e por mim. Eles mimam-me nas pequeninas coisas que aos meus olhos ficam a ser tão grandes. Os meus amigos são tão bonitos. E riem-se muito. E rimos-nos uns dos outros. E será sempre isto que fará a diferença: eles estão perto, eles fazem por estar perto, eles não se esquecem. Eles fazem-me perceber o verdadeiramente sentido de gostar de alguém. E quando a amizade nos surpreende desta forma, nos preenche tanto, nos dá ainda mais, o amor que vier terá de saber superar ou pelo menos estar no mesmo patamar. Porque senão não vale a pena, a chatice, a perda de tempo, a desilusão.

Portanto sim, eu ficarei bem. Não estarei nunca sozinha. Não terei de estar a olhar para o relógio à espera que cheguem porque eles chegam sempre. A horas. Porque eles não espreitam à distância. Eles mostram-se, todos os dias. E não há medo que os impeça de voar e de tentar serem mais. Os amigos, os meus amigos, voam. E eu voo com eles. E tu, bem tu, continuas presa num sinal vermelho numa rua qualquer. Impedida de voar por tua culpa. Arriscando-te a ficar congelada por muito tempo. Porque perdeste a tua oportunidade. Aquela que classificas como única.

Já não sei o que lamento mais. A minha ou a tua perda. Isto porque chegamos a um ponto de clareza tal que conseguimos dissecar tudo, fazer apontamentos de memória, decorar datas, dias, momentos. Colocar tudo como se a nossa vida fosse uma agenda. E aí, de forma fria e racional, consigo ver o tanto que fiz, o tempo que te dei, os dias os muitos dias que te entreguei para que os pudesses transformar nos teus dias, nos nossos dias. Portanto, a culpa é fecundada por nós, por vezes, em terreno infértil. Chegará o momento de a colher e não duvido que seja o único alimento durante muito tempo.

O que me fará libertar-me? Não ter qualquer dúvida de que eu fiz tudo o que podia ter feito e ainda mais do que isso.

Um dia perguntaste-me se eu tinha a certeza que sairias tu a perder. Não façamos disto uma equação. Mas uma coisa te digo, a tua perda é maior. Porquê? Porque para além de teres ficado aquém do que esperava de ti, ficaste aquém do que tu própria esperavas de ti. E a grande desilusão não é a que provocamos nos outros mas sim aquela que encerramos em nós.

Tiveste tudo nas tuas duas mãos. E mesmo assim não foste capaz de fazer a diferença.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

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Cheguei há pouco a casa. Talvez há uma hora. Tenho a casa praticamente vazia. Acabei de ir à rua colocar dois sacos cheios de ikea. Lixo. Lixo que se acumula. Repito, tenho a casa praticamente vazia. Estive há pouco na casa nova. Depois de uma hora a colocar coisas na carrinha da R. (algum dia conseguirei agradecer todo o teu apoio, força e empenho?), com a ajuda da Madrinha (má, terrível, que me conhece desde os 16 anos e dá-me na cabeça como uma mãe faz com uma filha e cuida de mim como os verdadeiros amigos fazem). O quarto novo está um caos e estará até amanhã ao inicío da tarde. Ainda não consigo dizer a minha nova casa. Para mim é a casa da MJ. Vou levar o meu tempo a dizer a minha casa. Mas não faz mal, o importante não é o nome que damos ás coisas mas sim como nos sentimos relativamente a elas. E naquela casa eu estou em família. A minha nova família. Sinto-me bem apesar de ainda um pouco apática. Deve-se ao cansaço. Estou exausta. Não só da mudança em si porque a ajuda tem sido imensa mas sim porque isto tudo envolve uma despedida. Não sou boa em despedidas. Geralmente percorro-as e pronto. É assim que acontece. Mas esta está a custar-me. Como a minha MJ diz, estes dias são de mudança. E sim, eu sinto-os como tais. Mas as coisas vão correr bem. Isto está a ser bom. A partir de amanhã vou viver com alguém que tem vindo a mudar a minha vida, vou ficar mais perto da minha R., portanto, são coisas boas. Fui promovida no escritório e ainda nem passei no exame da ordem. De resto, sei que tudo vai correr pelo melhor. (wow, agora deste em optimista?) Há que pensar, o que for meu a mim há-de chegar. Tenho de acreditar nisto. É isso. Acreditar. Bocadinho a bocadinho. Não despesperar. Não ficar ansiosa. Ir vivendo, com calma. Aproveitar as boas coisas que me têm acontecido. Os últimos dias têm sido intensos. Cansativos. Mas vai correr tudo bem. Está na altura disso acontecer. E não seria possível ter mais apoio. (aviso-vos já que nunca fui tão lamechas como sou desde que vos conheci e reencontrei).

MJ parece que 2010 está mesmo a mudar. Para ambas apesar de diferentes formas.

Começo a achar que estou preparada para que as coisas boas comecem a acontecer-me.

E esta é a despedida que faço a esta casa.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Entramos num novo dia. Sei-o não porque sinta mas porque olhei para o relógio. Estava deitada de luz acesa. Às vezes acontece-me fazer isso. A luz sob o silêncio e eu. E eu. Não conseguia dormir. Ando com dificuldades em adormecer. E a acordar. Sim, provavelmente custa-me mais acordar. Sempre foi assim. Existem fases em que tenho vontade de acordar. E sorrir. Nessas alturas desfilo nos meus trajectos. Sinto-me leve. Sorridente. Sim, por vezes, tenho o privilégio de me sentir assim. Nos tempos que correm é um privilégio. Estou na cozinha. As insónias trouxeram-me aqui. Abri o frigorífico já perto de vazio. Tirei uma cerveja. Acendi um cigarro. Nos entretantos, liguei o computador. Abri a janela e coloquei Pearl Jam. Just breath. Sim. Por vezes, é só isso que precisamos. De respirar. Para sabermos que aqui estamos. Que continuamos aqui. Que aconteça o que acontecer continuamos aqui. Esta casa resume-se a escombros. Tenho caixotes, sacos do Ikea cheios de coisas. Tenho uma lista telefónica desfeita em cima do fogão. A loiça está lavada. Já não cozinho. Deixei de querer cozinhar nesta casa. Quando saí do trabalho fui ao supermercado abastecer-me. Comprei daquela comida que se aquece no microondas e sacos de salada. Também comprei iogurtes. E água. Tenho ali latas de atum. Até Sexta-feira fico bem. não passarei fome.



Poderia pensar que tinha de dormir mas não consigo. Penso antes na quantidade de coisas que tenho de fazer. E nisto, neste decorrer de dias aprendo a reencontrar-me comigo. Mesmo que sinta que não sou bem sucedida. Não estou a sê-lo. Também falho. É verdade. Ultimamente falho muito. Tenho a sorte de ter à minha volta pessoas que gostam de mim mesmo quando falho. Vou passar de uma casa vazia para uma casa cheia de gargalhadas, sorrisos, mimos. Isso faz-me ficar bem. mas ainda estou nesta casa. Nesta casa vazia, desarrumada, e cheia de escombros. É como se isto fosse uma travessia. O ir de uma casa para outra. A última vez que mudei de casa estava acompanhada. Agora também estou. Mas na altura estava de coração cheio. É diferente. Poderia ser uma mentira mas não existe sempre um pouco de verdade no que não é verídico? Parece-me que sim. Estava de coração cheio. Lembro-me da sensação. Mas ao longe. Está muito ao longe. Entretanto passaram dois anos. O coração começou a esvaziar-se à medida que o tempo ia passando. Agora é longe. Sei identificar a distância. Sei identificar tudo o que mudou em mim. as marcas que ficaram. O reencontro comigo. A vida também é isto, não é? mais do que o reencontro com as pessoas o reencontro connosco próprias. Todos os dias são uma batalha. Feliz ou menos feliz. Tenho razões para ser feliz. Agora tenho tantas. Mas o coração continua vazio. Do corpo não falo. O corpo é mais fácil de lidar. Sempre foi. Há um caminho entre o que sente o coração e o que sente o corpo. O corpo não me assusta. O coração também não. É aceitar o estado de esvaziamento. E com o tempo deixamos de questionar se é temporário ou se o tempo já o levou e passou a ser definitivo. Não gosto de coisas definitivas. Para isso, basta saber que a morte está sempre a um passo de nós. Não é preciso mais. Basta essa certeza. Mesmo a mim que sempre me tentei rodear de certezas. Se calhar estou a perder o jeito. Será? Acontece-vos nos novos dias deixarem de saber quem são? Nem que seja por minutos. Aquela sensação de desconhecimento. A mim sim. Confesso. Gosto de confessar. O acto de o fazer é bonito. Confessar algo. Mesmo que doa. Posso confessar que estou dorida. Não sei de quê. Talvez de levantar caixotes mesmo que poucos. Mas há um peso. Por isso, sinto os braços doridos.



Hoje perguntaram-me: quando é que vais parar? Perguntaram-me isso. Quando é que eu ia parar. Não soube responder. Não consigo pensar nisso agora. Sinto que parar não é resposta. Não posso parar. Não quero. Preciso de me ocupar. E portanto, invento coisas. Estou a escrever como se estivesse a inventar. Uma tentativa de enganar o tempo. E portanto, escrevo. Não paro. O texto já é grande mas eu preciso de continuar. Porque o tempo conta-se nos segundos. E daqui a pouco é manhã. Amanhã já sei que vou estar melhor porque vou estar ocupada até ser um novo dia. Hoje tive mais tempo. Não posso ter tempo agora. Preciso de não pensar e de me ocupar. Quero muito que chegue ao fim-de-semana para estar fora desta casa. Não me vou despedir. Vou fechar a porta e pronto. Fecha-se este capítulo. E depois é fim-de-semana. E dançarei e chegarei a casa bem de madrugada. E sei que vou deitar-me e dormir logo. É disso que preciso, cansar-me ao ponto de não conseguir pensar. E se pensar, no dia a seguir não me recordo. Absolutamente de nada. gosto da palavra funcional. E lembro-me que eu não estou funcional. Eu não funciono. É como se estivesse em piloto automático. Eu quero funcionar. Sei que sim mas agora é demasiado complicado. Portanto, deixem-me estar. Saberei resolver este estado. Não sei que estado é este mas sei que vou resolvê-lo. Porque não posso continuar assim. Tenho consciência. E aí saberei parar. Certo? Parece-me que sim. Saberei parar e perceber que é preciso mais do que respirar para me sentir a viver. mas reparem eu tenho razões para ser feliz. Eu sei que tenho. Só que agora não sei situar-me nestes dias. É uma questão de tempo. Mais um dia ou outro e aprenderei a situar-me. É um novo ciclo. Novos ciclos são bons. Mas sim eu tenho razões para ser feliz mas neste momento não me consigo sentir assim. Feliz.






Did I say that I need you?
Did I say that I want you?
Oh, if I didn't I'm a fool you see
No one knows this more than me

As I come clean...
I wonder everyday, as I look upon your face,
Everything you gave
And nothing you would save, oh no

Nothing you would take
Everything you gave...

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Em Fevereiro de 2009 saí do local onde vivi sete anos. Saí do centro de Lisboa para ir viver para a Q. Lambert. Não desgostei, aliás passei a gostar muito. Lá reencontrei a S. a minha amiga de infância mais antiga e a Jo. A Jo recebeu-me lá em casa de forma tímida. E aos poucos começamos a aproximarmos-nos no cozinha. A S. estava com o namorado (já são noivos?) e a Jo estava sozinha durante a semana. Os cigarros eram fumados na cozinha e foi lá que eu e a Jo começamos a nossa amizade. Depois a conversa foi surgindo e começamos a jantar juntas. Criaram-se hábitos contigo, minha amiga. A nossa amizade cresceu e tornamos-nos confidentes. Como vários vezes comentamos, tínhamos a relação perfeita durante a semana. Tu cozinhavas quase sempre, eu lavava a loiça. Brigavas comigo se fumava demasiado e cedeste-me o teu sofá. A tua mestria com o controle, tornou-me mais organizada mesmo assim continuei a falhar nas limpezas doméstica. E a paciência que sempre tiveste comigo? Eu ouvia-te mesmo quando a minha cabeça estava noutro sítio qualquer. Se estávamos tristes, percebíamos e nem era preciso dizer nada. De vez em quando, trocávamos abraços e obrigaste-me várias noites a ver telenovelas. Não me vou esquecer de todos os nossos hábitos. Muito menos de ti. Das nossas conversas tardias em que eu bebia não sei quantas garrafas pequeninas de rosé e tu bebias uma cerveja só para me acompanhares. Das nossas filosofias e das coisas que aprendemos juntas.

Passados dois anos as coisas deram uma volta de 180 graus. A ideia era morarmos juntas mais alguns anos, lembras-te? De repente, temos de sair daquela casa e tu voltas para Santárem. Sábado despedimos-nos com um até já. E agora ando pela casa e por vezes, acontece-me passar à frente do teu quarto e olhar como se estivesse à tua procura. Chego a casa e fazes-me falta. Já nem tenho cozinhado. Ando pelo quarto e pela cozinha onde continuo a fumar. Deixou de ser a nossa casa para ser uma casa sem qualquer tipo de identidade. E quero, quero muito sair de lá. E sei que vou ficar bem e que vou ser feliz a viver com a MJ porque com ela ganhei uma família. Não tenho qualquer dúvida. Sei que sabes que ficarei bem entregue tal como eu sei que tu também ficarás bem. Mas aquela era a nossa casa, o palco da nossa amizade e tu já não estás lá. Tenho muitas saudades tuas. Eu sei que não nos perdemos mas é como se isso tivesse acontecido. E isso lembra-me como estou cansada de perder pessoas de quem gosto.


Gosto muito de ti, minha amiga.

Até já.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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Existem coisas que me deixam triste. Desiludida. Existem coisas que me fazem parar. Desesperar. Achar que de facto as pessoas não valem o esforço. O tempo a elas destinado. A dedicação. O cuidado. Não. Existem pessoas que se apresentam como uma coisa e depois demonstram que afinal, a realidade é outra. Sim. Existem muitas pessoas dessas por aí. Já me apareceram algumas na vida. Nesta curta vida. O receio é que comecem a existir cada vez mais. A perspicácia nem sempre nos consegue salvar. É uma luta. Não poderemos encarar as coisas de outra forma. Será sempre uma luta. Em que o objectivo é que façamos o que fizermos, temos sempre de tentar cuidar de nós. E fazer com que não nos atinjam. Nem nos magoem.

Claro que a culpa é nossa. Nós é que permitimos que as expectativas existam e sejam altas. Sim, a culpa é minha. Eu ainda consigo acreditar no que me mostram. Mesmo que já tenha bagagem para não o fazer. Já tenha justificação para virar costas. E não dar atenção nenhuma às expectativas. Já deviam ser nulas. Mas não. Quase nunca isso acontece. As expectativas existem, são reais, e vão sempre em crescente. Podemos tentar fugir, mas dificilmente seremos bem sucedidos.

Eu costumo dizer que sou especial. É. Mania ou certeza, não interessa. É o que eu penso/sinto. Portanto, é uma coisa minha. Se me perguntarem porquê, poderia apresentar um rol de argumentos. Mas não tenho que o fazer. Porque é uma coisa minha. E portanto, dela poderei dispor ou não. Agora, diferente é se alguém disser que eu sou especial. Podem fazê-lo. Podem ainda acrescentar que sou diferente. Que sou isto e aquilo. Sim, podem colocar-me num pedestal. Não seria a primeira vez. A minha pergunta é: será normal as pessoas terem medo de pessoas especiais? Será normal isto ser fundamento para que as coisas não resultem? Será motivo de fuga? De incontinência mental? Será que as pessoas especiais roubam a inteligência ou até esperteza aos demais? Digam-me. Mais: o que é isto de encontrarmos alguém especial e estragarmos tudo? Que papel é este? Que testemunho? Que postura? Não seria natural, quando encontramos alguém especial, protegermos? Ainda mais quando essa pessoa especial gosta de nós? Sai do pedestal onde se encontra, e declara também tudo o que sente? Isto assusta, é?

Uma amiga minha dizia-me: Não entende o que é o medo? O medo daquela pessoa especial não gostar de alguma coisa em nós? O medo faz-nos parar. Faz-nos arriscar o que mais queremos na vida. Não pode julgar. Quando se tem medo, cometem-se os maiores erros e só mais tarde é que tomamos consciência disso. Talvez, quando inevitavelmente perdermos a pessoa especial.

Não sei. Peço desculpa. Mas eu não sei o que é isto. Sei o que é ter medo, sim. Mas sempre que tive medo e de mim era esperada uma atitude, eu agi. Com plena consciência que podia queimar-me. Com plena consciência que poderia desiludir. Com plena consciência que poderia verdadeiramente magoar-me. Agi com medo. Com muito medo. Arrisquei porque foi ao arriscar que cresci, que me moldei à vida, aos outros, às expectativas. Foi também ao arriscar que me livrei do medo. Mesmo que tivesse saído magoada. O medo não levou a melhor. Porque eu não sei o que é isso de não fazer. de não lutar. De não conquistar. O que quero. O que verdadeiramente quero. Ainda mais quando gosto. Por gostar já me atropelei. Já achei que não ia recuperar. Por gostar, meti-me em batalhas ferozes, acutilantes, duras, agressivas. Porque tinha de ser. Entendem a diferença? Porque do outro estava o amor. Aliás, o objecto do meu Amor. E o meu amor, precisava que eu não desistisse. Que eu lutasse com todas as armas que tinha. E se não tinha armas, eu teria de arranjá-las. Medo? Medo? Não. Não seria o medo a impedir-me. Nunca foi e não seria agora. Mesmo que ainda detenha tantas feridas abertas. Lutar por um Amor, é isto. É ser descrente, ter feridas em aberto, ter medo, receio, estar cansada e mesmo assim ir em frente. É aguentar tudo porque por mais que existam aspectos negativos e que nos fazem repensar, existem outros que valem a pena. E se vale a pena, então como podemos parar? Não podemos. Por muitas diferenças que existam. Por muitas discussões que tivessem tomado parte. Não. Desculpem mas não. Um amor só não resistirá à falta de luta, à falta de força, à falta de coragem. E isso eu nunca irei entender. Sou descrente, é verdade. Tenho razões. Continuo a acreditar no amor. Já não posso dizer o mesmo relativamente às pessoas.

Portanto, estou triste. Verdadeiramente triste. Mais triste por aquelas pessoas a quem eu estava pronta a dar tudo e que não souberam tomar partido disso, mesmo que invocassem vezes sem conta, que era o que mais queriam. As palavras ganham veracidade quando praticadas em gestos. Caso contrário, continuarão a ser apenas isso. Palavras.

Mas sim, como diz uma luz que eu tenho na minha vida, o tempo cura tudo.

Cá estaremos à espera desse efeito miraculoso.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

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Interrompo a temporada de ausência por uma questão de terapia. Aqui vai:

Eu estou com o período. Estar com o período e ser descrente nos sentimentos não funciona bem. Nada mesmo. Por um lado, faz-me querer comer bolas e bolas de gelado de nata da geladaria Conchanata, por outro, faz-me pensar que o amor é uma treta. Porque é daquelas coisas que nunca terminará bem. Ficarão memórias como diz a minha querida MJ, pois bem, memória de quê? De que um dia existiu o amor, que era louco e doido e fabuloso, que nos preenchia e sabia tão bem e que parecia eterno e que depois acabou? É essa a memória? que bela merdinha de memória. O amor existiu e era perfeito e depois fodeu-se tudo e ele foi-se embora. Geralmente ele vai embora quando aparece outra pessoa no pedaço. e aí o amor que era lindo, muda de morada e de cama. não gosto. não gosto. Porque depois vamos a ver e o amor que existiu connosco é tal e qual o amor que é vivido com outra pessoa. tudo se repete. as palavras. os gestos. tudo é reconhecido a um passo. por isso não me choca quando as pessoas dizem que já sabem o que vai acontecer nas relações que vão ou estão a viver. é tudo igual. num primeiro momento temos a perfeição, noutro temos a rotina a instalar-se. depois são as discussões, as chatices, as cobranças e por fim ou o comodismo ou o fim. não gosto, repito. a minha descrença vem disto. vem inevitavelmente disto. porque chateia-me, ai como me chateia, as pessoas que dizem que estão apaixonadas, que amam e num momento a seguir, já estão apaixonadas e amam outra pessoa. oh pa chateia-me a sério. E falo nisto, existindo ou não uma relação. Os sentimentos não precisam de uma relação, para existirem, crescerem e se manterem. No primeiro casp, fico fodidíssima. Num segundo, acho fantástico mas desconfio sempre dos sentimentos ou da veracidade dos mesmos.

Hoje aconteceu-me ler o blogue de uma ex-namorada. Uma relação terminada há três anos. Comecei a reler o blogue e reli os textos escritos para mim. Bonitos, duros, intensos e profundos. Na altura, a pessoa dizia que não haveria outra pessoa para além de mim (quanto tempo demorou, hum?). E não falo de cama, sexo, que quem me conhece sabe que eu não misturo uma coisa com a outra (o amor, digo). Passado algum tempo dos textos, apaixonou-se por outra pessoa, mudou por aquela pessoa o que nunca mudou por mim, praticamente casaram (MJ, eu sou mesmo uma desbloqueadora) e pelo que sei lá continuam na vidita delas. O blogue hoje, têm textos para a actual pessoa. O sentimento de base é o mesmo, apesar das palavras serem diferentes. Portanto, os sentimentos têm prazo de validade. E por vezes, o prazo é curtíssimo. Um dia é o amor, no outro uma tentativa de amizade. Não gosto, repito. Das vezes que efectivamente amei, demorei tempo e passei por muitas cruzes. E quando me obriguei a deixar de sentir esse sentimento foi porque praticamente fui obrigada. Não o fazer, seria crucificar-me. Não havia escolha, portanto. E não foi por falta de pessoas interessantes à minha volta. Foi porque estava cega. Inundada. Perdida de Amor. A minha descrença não vem de mim. Eu sei o que sinto. Não digo que sinto para depois retirar. Ou o digo por dizer. Com algum intuito. Digo, sinto e demoro a deixar de sentir. Portanto, a minha descrença vem daqueles que por mim um dia disseram sentir alguma coisa.

Um dia escrevi um texto, neste ou noutro blogue, sobre uma questão que se reportava ao facto de se alguém gostar de mim, não mo digam. porque se me disserem eu não vou acreditar. O melhor será demonstrá-lo. Porque as palavras eu sei-as de cor e estou cansada em demasia do seu conteúdo. Portanto não digam. Parem nesse instante e voltem para trás. Demonstrem. Isso eu saberei ver. (na amizade nada a dizer, todos os que gostam de mim, demonstram-o de uma forma imensa)


Assumo-me como descrente. Não sei se um dia conseguirei ultrapassar esta barreira. Neste momento, duvido. Só me apresentam bandejas com palavras. E isso para além de me irritar, só me põe mais longe do Amor. Da paixão. Do querer uma relação. Já me é tão complicado surpreender com as pessoas, então assim, mil vezes impossível.

Já escrevi. Já me sinto melhor. Agora alguém que me traga uma taça de três bolas de nata do conchanata, sim? Agora, por favor? Chuinf. Podem pedir-me a morada por e-mail ou por comentário. ahaah :)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

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Não sou mais do que os outros. Não sou. Tenho a mania sim. O que não quer dizer que seja mais do que os outros. Sim tenho um ego pretensioso. Sou realista e não convencida. Construí-me de aço. Mas não sou infalível. Sangro e sofro como qualquer pessoa. Tenho os meus dramas. São pequenos, acho. Sou prática, rebelde e nem sempre coerente. Sou inteligente e ingénua ao mesmo tempo. Não tenho paciência para muita coisa. Não gosto de perder tempo. Não gosto de não ser compreendida. Sou confusa, é certo. Atrapalho-me a falar, a escrever tomo as rédeas e sigo. Geralmente, não penso enquanto escrevo. É a minha terapia. É a forma que tenho de dizer o que quero sem ser interrompida. Portanto, escrevo de uma vez só e nem sempre releio. É já um hábito. um hábito feito terapia. a forma que encontrei de exorcizar o que trago por dentro e nem sempre consigo partilhar de outra forma. sou mais do que palavras. sou mais do que o que digo ou faço. sou tanta coisa e por vezes resumo-me a nada. já tenho alguns vícios de personalidade e alguns defeitos e qualidades enraizados. já não consigo me separar deles. quando estou doente sou mimada e irritadiça. mas não sou de pedir auxilio. não gosto de dar trabalho. acho que é chato. tenho dificuldades em acreditar no amor. nas relações. das duas vezes que acreditei caí no fundo. não gostei. não gosto de quando fico vazia e tenho de me reconstruir. agora estou a cair novamente. sinto a queda. mas persisto. sim sou persistente enquanto acredito. mesmo que já esteja toda esfolada. o que é estranho. uma descrente que luta e persiste? sim, sou estranha. nem sempre transparente. nem sempre fácil de ler. sou dúbia. mas digo o que sinto. digo sempre o que sinto. e por vezes o que sentimos dói nos outros. portanto, quando não acreditam em mim, eu fico fodida. porque o primeiro pensamento é logo "porra, eu não sou de fácil gostar, eu não sou de fácil entregar, eu não sou de fácil nada e ainda duvidam do que sinto?". Não gosto. desatino. irrito-me. e depois ocorre-me a ideia que poderão existir pessoas que não se tocam, e que não se apercebem do que estão a perder. sim eu também perco. todos perdemos não é? mas a questão é, o tomar consciência do que podemos perder não nos devia fazer agir? correr? ultrapassar fronteiras? lutar? fazer qualquer coisa? em vez da perseguição do silêncio? da depressão? do sofrimento? do drama? não sei. isto sou só eu a pensar com os meus anéis. sou só eu a escrever para aqui que ninguém me lê. sou só eu a pensar que o esforço tem sempre algum fundamento. a batalha também. portanto, o melhor é ficarmos quietos? atoalhados de medo? de inércia? de cola nos passos? não sei digam-me? quando estamos perto de perder aquilo que mais queremos não devíamos fazer tudo o que está ao nosso alcance? não é esse o objectivo? inverter o caminho da perda. inverter o destino. correr até conseguimos? como digo, isto sou só eu a escrever nesta borra branca. o medo de não conseguirmos alcançar é superior à frustração da perda? ao arrependimento? pode ter o medo tanto poder? e deixamos.nos ficar? faz-me confusão. faz-me mais confusão aqueles que se deixam ficar com medo do que aqueles que erram. faz-me confusão muita coisa, eu sei. gostaria de saber como certas pessoas têm a capacidade para continuarem a viver a sua vidinha com a consciência que o facto de não agirem lhes vai custar o que mais querem. pois é, os grandes amores já não existem. já o disse tantas vezes. já ninguém luta por nada. está tudo facilitado. vivem-se relações virtuais. vive-se tudo sem gestos. só com palavras. fazem-se amores assim. ninguém dá um passo sem medo. vá, desculpem as generalizações. que raio de realidade é esta agora? fico aterrorizada. estou chocada. até comigo. raiostepartammiudaquedeixastederaciocinar. não sei. este mundo deixa-me triste. é tão fácil iludir-nos. acharmos que a pessoa de quem gostamos lutará. demonstrará que gosta de nós. não se ficará só pelas palavras. provará que consegue ultrapassar o medo só para estar connosco. já não se fazem provas de amor como dantes. é tudo pequenino. sem significado. sem grandes mudanças. e depois quando alguém está disposto a agir, a fazer pela diferença, vêm as acusações. o desacreditar. o desconfiar. enfim. este mundo e estas pessoas deixam-me triste. desiludida. moribunda. sem qualquer fé e com toda a descrença. peço novamente um bocadinho mais de sorte. sim? já me chegam os falhanços anteriores. haja alguém que explique que assim não dá. que é preciso mandar o medo dar uma volta. que é preciso lutar. que se não se faz nada, perde-se. para sempre. e depois não há volta. alguém que explique que os sentimentos não se bastam de palavras mas sim de gestos. que as demonstrações são exigíveis. as cedências também. precisamos todos de uma re-educação, não é? para nos lembrarmos que o que não é cuidado, perde-se para algo melhor. que os corações são órgãos falíveis e que quase sempre precisam de ser salvos. e cuidados. e medicados. e que são raros, os bons corações portanto quando se reconhece um, há que lutar pela sua saúde. dar-lhe amor, carinho, desafio, paixão, atenção. é isto que se devia fazer quando reconhecemos um bom coração e nos apaixonamos por ele. pena que quase ninguém o faça. tenho dito.

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Eu não gosto de mentiras. É verdade. Vou aos arames e volto se me mentirem. Existem as pequeninas que poderão ser desculpáveis. Depois as grandes. Depois também existem os motivos. Justificáveis ou não. São motivos preciosos para quem mente. Na altura de o fazer, existirá sempre uma razão. Por mais que descabida aos olhos dos outros. Geralmente, as mentiras não tem motivos sustentáveis. Não se entende o porquê. Existirá então um julgamento. Uma mágoa. A falta de confiança. Da mentira nascerá sempre uma série de problemas. Dizia eu que não gosto de mentiras mas a verdade é que menti. Quem nunca o fez que atire a primeira moeda. Vá, façam de mim uma mulher cheia de riqueza. O pior será o persistir na mentira. Isso sim é o pior. Eu também o fiz. Assumi o erro da mentira tarde de mais. Foi pior que a emenda. A sinceridade só ganha pontos durante um dia ou dois. Depois é só perder pontos. Quando te perguntam uma coisa e te pedem a verdade, tu tens ali uma oportunidade. Mas é só uma. As perguntas idênticas que se seguirão nos dias posteriores, já não irão valorizar a verdade do mesmo modo. Porque a mentira foi perpetuada. Crasso erro. Portanto, terás de ouvir muitas vezes a pergunta seguinte: E agora como é que posso confiar em ti? Pois. Esta pergunta é puro homicídio. E eu entendo-a muito bem. A resposta nem sempre será a mesma. Mas é possível confiar em alguém depois dessa pessoa nos ter mentido? É. Se é fácil? Não, claro que não. Se vale a pena? Depende do que se sente. Repito: vale a pena? Claro que vale. O facto de ter mentido não me torna menos digna de confiança. O mundo está cheio de erros realizados pelas pessoas. Eu não sou excepção, entenda-se.

É verdade queria dizer-te uma série de coisas. Eu sei que não me perguntaste mas andaste este tempo todo fixada na mentira e na desconfiança e deves ter-te esquecido de algumas coisas que também são importantes.

- O meu joelho já está bom, obrigada.
- Já arranjei casa, obrigada.
- Ainda preciso das receitas mas deixa lá. Não sei do meu nº de utente.

Vamos voltar a falar de erros. A mentira é uma coisa feia. E condenável, não é? Tu deves sabê-lo já que também o fizeste. Nem me vou por aqui a falar do motivo da mentira porque aí os nossos pontos de vista são de tal forma diferentes que não há outra solução a não ser chocarmos uma com a outra. E disso também estamos fartas. Mas de erros podemos falar. Mais uma vez. Podíamos tirar um doutoramento sobre erros. Durante estes oito meses somamos alguns. Não foram poucos nem leves. Aliás, por tal entende-se, as vezes que tentamos afastarmos-nos. As vezes que não conseguimos. Os encontros marcados. Aqueles que faltaste. Já devia estar habituada. Certo? Mas tu tentas, não é? Depois não consegues mas tentas. E o tentar também é alguma coisa. Mesmo que só nos afunda mais. Mesmo que só magoe mais. Mesmo que só continue a adiar. Mas vá, tu tentas. E quem tenta não é cobarde, certo?

Mas sim, vamos lá fazer como tu achas melhor. Deixamos de falar. Mas continuamos presas a algo que não é uma relação mas que já exige os valores das relações e dos compromissos. venham mais meses. Nós estamos aqui de pedra e cal, não é? venham eles. É perfeitamente aceitável uma espera de 8 meses. Perfeitamente aceitável.