domingo, 14 de março de 2010

20

Escrever.

Houve um tempo que não escrever era ficar doente. Porque escrever era manter-me de mente sã. Geralmente escrever muito queria dizer que a mente estava sã e o coração em vias de extinção. Hoje em dia, não fico doente se não escrever. Nem me sinto menos sã. O coração. Não há muito a dizer. Li em qualquer lado que seria errado admitir que o amor estivesse apenas alojado no coração. Por este ser feio e não sei mais o quê. E eu concordo. O amor no coração? Que imagem patética. O amor morre se o coração parar? Bem, há quem ache que sim. Eu não sei o que acho mas gosto de ser do contra. E portanto, digo que não. Se o coração malfeito morrer, o amor que ficou nos ossos já sem carne, passa para a terra e nasce em flor. E depois ou há propagação do amor ou o mundo é uma treta. Está bem. Aceito: mesmo que não exista propagação do amor, o mundo continua a ser uma treta. Sim, eu que nunca votei, votaria aqui afirmativamente.

Aproveito este pedaço de folha branca, de papel electrónico, para escrever algo bonito.

Por favor, a audiência que se sente. E se existem expectativas, esvaziem os bolsos. Não me aguardem expectantes. Aguardem-me sim com aquela paz como que de repente se olha para o outro lado da rua e algo vos faz sorrir. Sim, é isso. Sentem-se e façam isso.

Vou começar:

- O amor. Onde raio se encontra o amor?
- Onde eu estou. Mas não é amor. É algo sem nome.
- Desculpa??
- Se encarares as coisas sem o nome "amor" é mais fácil, deixas de procurar incessantemente, recrias saúde e respiras melhor.
- Hum?
- Sim. É um exercício racional de rejeição da ideia do amor. Quando mais tornares o amor emocional mais vives na esperança disto e daquilo.
- Racionalizar o amor?
- Isso. Tiras o amor do coração e das pessoas. E basicamente, abres a porta para ele sair. E assim, o amor estará onde tu estás. Mas não o verás como amor. Verás como algo natural. Teu. Seguro. Sem segundas intenções. Sem abismos ou bilhetes de suicídio. Entendes? Se tu estás, existe o amor. E por tal amas e és amada.
- Que patetice! Tens cada uma.
- Não é patetice. Já viste o que seria acordares e sentires-te a pessoa mais completa da tua rua, porque a partir do momento em que abres os olhos e põe os pés no chão, és abraçada por todas as coisas boas que podem existir?
- E se eu estiver a morrer é igual?
- é esse o teu problema. é exactamente esse.
- que é qual?
- o desvinculares-te de tudo o que possa fazer sorrir. Como é que queres amar e ser amada, como? Se te abraçam, e tu não correspondes. Se te sorriem, e tu desconfias. Se te querem e tu metes uma ordem de despejo na hora? Se te dão e tu foges.
- Que estás a querer dizer?
- Enquanto não aceitares que podes ser feliz, não o serás. Enquanto achares que ninguém está à altura da tua exigência, ninguém estará. Enquanto te assumires como um coração anestesiado, não haverá retorno.
- Mais alguma filosofia?
- Sim. Abre a porta e vai. Mesmo que te encontres por um fio. Vai. Sente a vida que é tão mais do que um mero coração, vazio ou cheio.
- Se te der €10, acompanhas-me à feira da Ladra?
- 10€ para te acompanhar?
- Sim.
- Pagas-me a tua companhia?
- Sim. Só porque comigo ao lado a respirar as abominações do malfeito amor, duvido que consigas sentir que ele estás onde tu estás. E pronto, longe de mim, causar-te qualquer transtorno.
- Ah. E eu pago-te o pequeno almoço então. Mas que vamos fazer à feira? Tu nem gostas de sítios com muita gente.
- Ora. Vamos ver se está lá alguém a vender ou corações novos ou fé. Também aceito contratos de arrendamento. Parece-te bem?
- ???

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