terça-feira, 1 de setembro de 2009

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Vestes-te de silêncio. Como se fosse o vestido que melhor se adequa a ti. Ao teu corpo que é de Verão mesmo nas manhãs de Inverno.

Disputas a minha atenção, sempre que, por minutos te troco pelas palavras. Ensaias danças com passos incertos em que por gestos leves desnudas um pouco de perna, um pouco de ombro. Se me visses contida no olhar, despias-te e encenavas um amuo suave e discreto.

A partilha entre nós sempre foi hesitante. Não é fácil passear pelo meio de tantos muros e esboços de vidas passadas, não é fácil olhar com atenção e desdém para essa cidade de abandono, com olhos de turista que reparam pela primeira vez em algo inédito.

Por detrás dos ombros, já testemunhamos tantas viagens. Já fomos outras tantas pessoas. Corpos. Mãos. Almas. Corações distorcidos de amor. Não, não é fácil esquecer o cansaço e o desencanto do fatídico passado.

Mas também não será dificil deitar a minha cabeça sobre o teu peito e perceber o que ainda palpita. Do respirar de que se faz um beijo, ainda tão neutro e puro como os primeiros. Não, não é dificil sentir a surpresa do caminhar dos teus dedos pela palma da minha mão e do quão bonito são as nossas mãos entrelaçadas.

Deixei de saber calcular os perímetros ao nosso redor, quanto medem os medos, quantas são as inseguranças que se encadeiam de vazio. De quantas vezes cheguei à entrada da tua casa, pensando ser a minha. Confundo as ruas, os nomes das cidades, confundo tudo até chegar perto de ti. Seja o teu espaço, seja o meu. No encontro da nossa independência, existe um caminho interrupto e privado. Um monte de terra batida pronto a ser habitado por nós.

É isto que te quero dizer hoje.

Veste-te de silêncio que eu fico com o casaco pesado das palavras.
As cortinas são feitas de muros negros pautados por um rasgo de luz que nasceu por nós.
Sou uma aprendiz da vida, ainda. Pudera o cansaço e o desencanto me fazerem mais crua, mas o tempero do que tu me trazes, faz-me ser mais serena nestes dias.

Tens a capacidade de me fazer perder o comboio do passado. E é dessa forma, tão singular e única como uma tela, que me compões a visão do que ainda está para chegar.

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