Lembro-me vagamente da nossa história. A sua pouca duração faz-me esquecer como foi uma história bonita. De pouco teve de delicada ou evasiva. Era salpicada pela intensidade e pela noite lisboeta. Recordo-me do espaço que nos acolheu. Da estante ilustrada que se amontava de palavras. Do elevador que me assustava. Da janela decorada com os estores branco sujo. Donde se via a publicidade que era verde e enorme do banco Bes envaidecida com a cara de Ronaldo. Guardo com maior densidade a dança até ao primeiro beijo. A guerra entorpecida entre as nossas mãos e a roupa que teimava em não sair dos nossos corpos. A queda vista com lentidão acentuada entre o desejo e a tua cama prostada sobre o chão de madeira do teu quarto. Havia um chá frio que entretanto deixei de beber. Penso que seria chá verde com limão. Contei-te que guardei a primeira garrafa aberta no nosso primeiro encontro? Talvez não. Entretanto, quando mudei de casa deitei-a fora. Achei que era a altura ideal para fazer um branqueamento do passado. Como se o mesmo pudesse, num piscar de olho, desaparecer porta fora da minha vida.
Do auge da nossa história, recordo-me das madrugadas em que líamos palavras uma à outra. Foi daí que ficou esse gesto. De tão bonito que nasceu, tão ilustre que permaneceu.
Ficaste memória já que o nosso presente não nos acolheu.
Do auge da nossa história, recordo-me das madrugadas em que líamos palavras uma à outra. Foi daí que ficou esse gesto. De tão bonito que nasceu, tão ilustre que permaneceu.
Ficaste memória já que o nosso presente não nos acolheu.
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