terça-feira, 5 de janeiro de 2010

16

Não é uma viagem de coragem. Gostaria que soubesses isso. É uma viagem de gestos. E de poucas palavras. Porque no silêncio eu sou mais credível. Menos atada a todas as palavras proferidas. Mais mãos e menos boca. Porque das mãos sai o laço. e da boca o vício. existe tempo para tudo. também preciso que saibas isso. há tempo para tudo. que seja o laço o primeiro passo. é também menos doloroso. e menos consciente. mas na verdade perdura mais. é isso que eu pretendo. que perdure. porque o tempo perdido já cá não faz falta. já o guardei em excesso. chega.

não sei se notas. que estou diferente. podes não notar. é normal. ainda estou a aprender a tirar as capas. é um acto doloroso. depois dos anos de intensa companhia. não é fácil. reconhecer que é preciso deixar os papéis de lado. e ser eu. mesmo que à primeira vista não seja tão agradável. tão bonito. mas ao menos é a verdade. ao menos isso, não é?

- onde vamos?
- não sei. existem perguntas que não sei responder.
- mas vamos a algum lado?
- sim. vamos. é preciso ir.
- agora?
- daqui a um minuto. ainda falta um minuto.
- diz-me uma coisa bonita.
- inventada ou de dentro?
- inventada não. porque haveria de ser inventada. tens o benefício da dúvida. tem de ser de dentro.
- mesmo que não seja do mais bonito?
- sim. mas tem de ser de dentro.
- tiras-me do sério.

1 comentário:

  1. É por aí o caminho : "há muita coisa a ser trabalhada."
    Que esse trabalho dê bons frutos.

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