quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

.18


É como se eu estivesse perante uma escada daquelas antigas com uma curva por cada andar do prédio. Só existe uma janela e um sofá comprido no último piso. A janela com vista para a cidade. O sofá alberga duas pessoas. Está vazio neste momento. Poderia falar da decoração. Da existência ou não de velas. Cinzeiro. A cor das paredes. Mas não é isso que interessa. Só é preciso saber da janela e do sofá. E do trajecto penoso que é chegar a esse paraíso. Porque é um paraíso. Muitos não entenderão. Mas também eu não preciso da compreensão de toda a gente. Seria uma tarefa demorada e sem sentido prático.


Eu estou no 1º andar. Sentada no cima das escadas a fumar. Se calhar, adianto que existirá um cinzeiro em cada piso. Sim. Não gosto de cinza no chão. E por cada andar, é preciso fazer uma análise. E respirar. Não me posso esquecer de respirar. Não posso. Estou sentada, dizia. A fumar. O ambiente é de silêncio e aqui as paredes são de branco sujo. Estou sozinha. Neste momento tem de ser assim. Não é uma partilha, ainda. A deste percurso. Terei de me conquistar a mim nesta subida de escadas. terei de estar comigo. Para depois, entregar-me. é essa a ideia. é como a sinto. a solidão para melhor receber a companhia. Há um objectivo. Um que leva a outro. Uma batalha paralela parece estar eminente. Se calhar, tu também estás num prédio. O cenário do teu último andar pode ser diferente. Deve. Não somos iguais. Mas estamos de mãos dadas. É se calhar mais bonito. Eu gosto de coisas bonitas. Tu sabes. Podemos colocar o meu prédio à frente do teu. Para que os teus olhos não se distraiam dos meus quando chegarmos ao cimo. Haveremos de chegar. Não me peças para desfazer essa ideia. Ideal? Não, não. Os ideais deixam-me desanimada. São alienados de realidade. Entendes-me? Sim. Também te leio na distância.

Depois temos o tempo. Continuo a achar que o tempo, por vezes, é inimigo certo. Incerto não é. Já sabemos que nos pode atacar. É previsivel. Pode causar danos. Tanto a demora como a lentidão. Mas existe. E se desse para fugir, eu seria a primeira a arriscar. Portanto, o tempo é o vizinho que se senta nas escadas enquanto fumo. Nem sempre me cumprimenta. E quando sorri, há que desconfiar. Mas como dizia estou no 1º andar. O tempo olha-me com ar de desafio. Não posso deixar de sorrir. O tempo desafia aqueles que conseguem ter fé. A pouca que tenho vai comigo para todo o lado. E aqui poderia dizer-te que também tu ajudaste-me a mantê-la. Porque acreditaste sempre em mim. E quantas vezes, a fé reproduz-se dos outros para nós. De tanta coisa que me ofereceste, essa é das que tem raízes mais fortes.

Estou a alongar-me. Se me estivesse a ler, adormeceria. O texto só serve para dizer que estou no 1º andar de um prédio com outros tantos. Que quero chegar ao último. Porque no último, espera-me algo. Extraordinário. Os caminhos estão cruzados. Umas vezes em paralelo, outras de forma perpendicular. Está tudo relacionado com posições, na verdade. (cala-te, Lola) E com espaço. disponibilidade. e vontade. Umas existem, outras temos de crer que existirão. Fé. É a palavra-chave.

2010 renasceu em mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário