domingo, 16 de agosto de 2009

Luminoso Afogado - 1

"tens de cansar a ideia de que podes suportar o vazio, o aborrecimento deste país.

tranquiliza os dedos passeando-os, ao de leve, pelo abismo dos mapas que se transformam em lagos de treva.

este vácuo, visco de espelhos.

perguntas-te: para quê apavorar-me?
é para lá dos teus olhos fechados que o mundo acorda. mundo que ainda não sabes descrever.

cala-te.

olha a fotografia, nela se perdeu o teu sorriso, amarelece uma ilha.
ausência e culpa sobem-te ao espírito, e violência, violência com que rasgas a fotografia, por não poderes suportar a minha ausência e a tua culpa.

não sei o que isto tem, ou teve, de irreparável que me dá vontade de te chorar.


para que servirá contar-te todas estas histórias?
teu corpo de afogado arrefece algures em mim, dentro da minha infinita paciência de veladora.
nunca conheci outra vida que não fosse a de gastar tempo de porto em porto. vida sem sentido.
em todos os portos acordava com alguém a meu lado. tinha medo, medo de saber de que é que tinha medo.

tento cicatrizar estas chegas de sal reabertas pelo teu naufrágio."



Al Berto.

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