segunda-feira, 14 de junho de 2010

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São 23h37 da noite. Estou a preparar uma reclamação de créditos cujo prazo limite de entrega termina amanhã. Devia estar a estudar Processo Civil. Não estou. Depois de terminar isto, vou colocar o direito de lado. Dia 30 terei um exame escrito que começará de manhã e acabará ao final do dia. É o penúltimo passo para finalizar um estágio que no final do ano fará 3 anos. Três longos anos. De dedicação, noites mal dormidas, olheiras, horas e horas de muito trabalho. Contacto com pessoas. Testemunho de situações complicadas, muitas que deram vontade de rir, outras de chorar. É isto que é a advocacia. É ter nas mãos um pedaço da vida das pessoas. Pessoas como eu. Como tantas outras. Sim. É ter de descobrir a solução para que certa situação leve a um determinado caminho. É lutar pelos outros. E por vezes, esquecer-nos de nós. Nestes últimos três anos, foi fácil esquecer-me de mim. Foi fácil entupir-me de trabalho. Foi fácil preocupar-me com os outros. Difícil seria concentrar-me em mim. acho que me cansei do meu egocentrismo. E noutros dias tantos, cansei-me de mim. não que de repente me ache menos fantástica. Mas vejo que nos presentes vinte e seis anos, já não tenho tanta força, paciência, garra. Já não quero saber. E no entanto, continuo com a cabeça cheia de coisas. Sou sinónimo de desorganização. Hoje olhei para a minha secretária e perdi-me. Folhas, livros, lápis, post its. Processos e mais processos. Hoje assustei-me e deixei-me ficar sentada na cadeira durante minutos. Hoje. Este dia que perto está de acabar não foi um bom dia. Não, não foi. Esta é uma época instável. Poderia ser um época bonita. Mas a cada dia que passa, lembro-me como estou cansada. Farta. Desiludida. E sem saber lutar mais. Não sei onde estão as forças de outrora. Não sei. Nestes dias perco-me. E sou menos eu. Tão menos eu. Detenho-me sorridente por minutos. Ou por algumas horas. Sim, sorrio. Ainda consigo sorrir. Dizem que tenho vários sorrisos. Talvez tenha. Sim. Sou uma face de sorrisos. Mas este peso. Esta responsabilidade. Estes meses de tumulto. Estão a deixar-me fragilizada. Frágil. Mas ainda não de porcelana. Não. Isso nunca irá acontecer. Ou pelo menos, jamais o irei admitir. Talvez seja mais por aí.

Não sei quanto mais tempo saberei esperar. E se tu me ouvisses. Se tu me escutasses. Tu saberias o quanto isto tem de verdade. E farias o que é esperado. Desejado. E repetido vezes sem conta. No hoje, o adiar já não tem justificação.

Lamento.

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