terça-feira, 28 de julho de 2009

3

De fugazes se fazem as paixões. Das inesperadas chegadas às fatídicas partidas. Já é tarde para me arrancar do que dei e do que me deram. E este cansaço que leigos, apelidariam de revolta. Satea-me os dias e lapida-me a alma. Não sei. Não sei o que poderá restar de mim. Sei apenas que o tempo me tem feito menos. Tem-me tomado arisca nas entregas e desfalecida nos actos. Sei que a guerra já não se faz pela minha capacidade de luta, resistência e persistência. Foi uma lição dura de aprender. Não bastarão apenas duas mãos para trazerem a vitória ao leito do amor. Da paixão. Do que, quer que seja, que nos puxa para terrenos incertos ou nos alimenta.. E no hoje, sei que pouco vale, o esforço de mim.
Tenho dito.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

B






The way I try to do


quarta-feira, 22 de julho de 2009

2

Há uma espera contida nos meus passos. Mesmo quando pulos de impulsividade os antecedem. Contigo foi assim. Por cada sorriso. Uma espera. Um turbilhão de quase tudo. Sim, contigo foi assim. A paz não seria algo a alcançar. Eu não sei ser paz. Esse ponto de equilibrio é uma raridade. E para coisas raras basto eu. Por cada salto, um sim. Só te soube responder afirmativamente às perguntas que me colocavas. Tantas vezes em silêncio. Tantas vezes nos caminhos perdidos das madrugadas. Deverás entender que certas coisas alteram a substância de outras. Porque quando uma decisão é tomada, o rumo aquieta-se a nós de forma diferente. Como se as cores se transformassem. Como se o rosto ganhasse uma nova expressão. No entanto, esse conhecimento não será automático. Quanto mais garantido. Lembra-me, de que cor é o teu rosto. Que expressão se ambienta na tua face quando estás a dormir? Espera. Se o teu sorriso tiver mudado não me digas. Não me desfaças a imagem que ainda mantenho de ti. De golpes em cheio está o meu coração farto.

Ainda ficaram tantas músicas por dançar.

Palavras de serenata aos nossos ouvidos.


É isso. De tudo o que não sei, saberás tu melhor do que eu.

terça-feira, 21 de julho de 2009

II - Não há duas sem três



Isto há coisas fantásticas. A minha profissão (ai que pareço gente grande a falar) não tem um horário certo. Nunca consigo ter a certeza que vou conseguir sair a horas. Mais vale não ter ilusões a esse respeito.


Ontem eram 21h estava a sair do escritório e o telemóvel toca:

J. - Então amiga?
Eu - Estou a sair agora do escritório. (suspiro)
J. - Então vá até já.
Eu - Até já.


Chegada ao metro, uma nova chamada, agora da S.:

- Bem, é a J. que liga e agora tu??
- Preciso de um favor teu!
- hmmmmm
- Quando chegares a casa, vai estar um papelinho no elevador a dizer que foi encontrada uma capa de edredon no átrio e que está no 1º Esq.
- hmmmm
- Vais lá pedir a capa, ok?
- Pronto, sim eu vou.


A partir do momento em que chego a casa é tudo a correr, trocar de roupa, fumar um cigarro, começar a preparar o jantar, lavar loiça, fumar um cigarro, trocar bitaques com elas as duas, sentar-me, jantar, lavar loiça, falar mais um pouco com elas, preparar almoço do outro dia e atirar-me para o sofá.

Lá em casa, a cozinha tem vários armários e está tudo dividido por nós as três. Numa das divisões encontra-se a minha louça e os meus fantásticos tupperwares. Qual o meu espanto, quando ao procurar um para usar, vejo que todos desapareceram!

S. - já viste a nossa supresa??
Eu - Só vi que as minhas coisas desapareceram!!!!
S. - Faz parte da surpresa, olha!
Eu - Ah Ah está tudo tão arrumado! Wow!

Pois é, as minhas excelentíssimas colegas, decidiram arrumar todos os meus armários da cozinha. Ficou tudo lindinho, arrumado, organizado, coisa que eu nunca teria conseguido fazer. Teria basicamente começado bem e depois atirado tudo lá para dentro num ataque de séria impaciência.

S. - Amanhã se calhar chegas e tens o quarto arrumado, porque aquilo está muito confuso, e aproveitei e abri-te a janela do quarto para arejar. (A minha S. é assim, tudo em mim lhe parece extremamente confuso)
Eu - Ahhhhhh! Estão à vontade. Eu não me oponho. Se quiserem mudar os lençóis e fazer a cama de lavado. Também ando a precisar de uma massagem. Ou se quiserem passear nuas pela casa. Está tudo bem. Eu aceito tudo. A sério que sim.

(errr esta última parte não aconteceu de facto.. mas posso sempre aproveitar o blogue para lhes dar umas dicas inocentes... )

Assim, de facto, é muito bom chegar a casa.

Pronto, J. aqui tens a homenagem que vos prometi ontem.

Quem é um amor, quem?

sábado, 18 de julho de 2009

A manhã de Sábado.

Poderia dizer que quando fosse grande gostaria de ser como as minhas colegas de casa. São cheias de dotes. Arranjam as suas mãos, os pés, tratam da sua própria depilação. Fazem bainhas. Lavam a casa. Tratam da roupa. Tudo perfeito. Tudo bonitinho. Pois bem, eu terei outros dotes mas estes nem de perto. Portanto, há que tratar das lacunas da nossa vida.

Assim, se não sei arranjar as minhas mãos, pés, sobrancelhas, buço (esta é uma daquelas palavras lindas lindas), e todo o resto, vou à minha esteticista que para além de competente é uma giraça e tem sempre bolachinhas para mim.

Depois temos o tema da roupa. Sim, já aprendi a por uma máquina de lavar a funcionar e de facto, não é nada difícil. Mas engomar????? E são os produtos que ajudam a engomar, e depois é preciso montar a tábua?? E depois colocar água no ferro. Hein?? Não. Não tenho paciência. Parece-me tudo muito complicado. E por existirem tantas pessoas como eu, inventaram-se as lavandarias. Yupiiiii! Portanto, vem a senhora da lavandaria buscar a roupa á segunda e devolve na quinta. Quase perfeito.

Mas ainda existe a questão do limpar a casa. E há o aspirador. E a esfregona. E produtos para uma coisa e para outra. E folhas de jornal para os vidros. E pó, Meu deus, tanto pó. E portanto, uma vez por semana a casa tem de ser limpa. Chegou a minha vez de limpar. Pânico. A minha colega S. resolveu enviar-me um mail com tudo explicado passo a passo. Mas não resultou. É complicação a mais. A primeira vez correu muito mal. E comecei logo a imaginar as vezes seguintes. E os suores frios vieram. E liguei á minha mãe a pedir socorro. Até que pling, surgiu a solução: pedir à senhora que faz a limpeza do escritório, para salvar-me desta aventura uma vez por semana. Agora sim perfeito.

Mas hoje o que interessa é a parte da esteticista. Bem, a regra é que todas as manhãs de sábado são reservadas ao cuidar de mim. Umas vezes é doloroso, outras é relaxante. Mas o resultado é sempre bom. É o momento de descarte do stress semanal. Da tensão acumulada nos ombros. Do (tentar) não pensar em nada.

Hoje era dia de ser tratada como uma princesa. Para tal a manhã finalizar-se-ia com uma massagem quase integral. Cria-se o ambiente zen, com música a combinar e muito silêncio. E eu que nem gosto de silêncio.
A massagem começa, eu sinto-me nas nuvens, a pensar como a vida é fantástica e como eu mereço este mimo. Passado uns segundos a minha mente começa a trabalhar:

Ahhh isto é tão bom!! Mas que vou fazer a seguir? Precisava de comprar velas. Talvez devesse ir ao Allegro. Mas deve estar cheio de gente. Se calhar, vou mas é ao chiado com o jornal e as revistas, sentar-me numa esplanada. Ou poderia ir à praia. Iria saber mesmo bem! ahh mas sinto-me tão cansada, se calhar o melhor é ir para casa dormir a sesta. Oh mas que perda de tempo! Já sei vou ligar à amiga x e vamos dar uma volta. Seria tão giro! Talvez ao chiado, ando há tanto a tempo a namorar a máquina da Nespresso. E poderia depois comer um gelado. E apanhar sol e conversar imenso. Não sei. Se calhar não é bem o que me apetece. Ai!

- Narcisa, gostou? Conseguiu descontrair? Estava extremamente tensa.
- Hum? Hum? Já acabou?

E isto é a minha vida. Ter oportunidade para descontrair e já estar a pensar no que irei fazer no depois. Eu até a dormir devo pensar. Se calhar, pensar é como respirar. Sim, deve ser por aí.

Saí irritada da minha manhã perfeita e o que decidi fazer?

Bem, ir para casa e dormir a sesta.






sexta-feira, 17 de julho de 2009

Esta coisa de gostar de alguém.

"Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.

Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?


Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós. "

Fernando Alvim

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A








So be it, I'm your crowbar
If thats what I am so far
Until you get out of this mess


I'll wait by the backstage door
While you try to find the lines to speak your mind



terça-feira, 14 de julho de 2009

I - Não há duas sem três



Lá em casa somos três. Completamente diferentes entre si. Eu irreverente, independente, completamente louca. A J. easy going, com um riso estridente, e a minha companhia das noites em que ambas estamos sozinhas. Depois, a S. a mais conservadora de todas, romântica, lutadora e picuinhas.


Conheço a S. desde os três anos. Já passamos por muito juntas. A amizade viveu sempre em nós. Ainda nos lembramos de quase tudo da nossa infância e adolescência. É a minha amiga mais antiga.

Depois a J., conheci quando me mudei para esta casa. Aos poucos fui entrando e ela foi-me deixando entrar. Agora confessa que tem medo de mim… e eu sinceramente não imagino o porquê. Mas lá que sente medo sente. Se me aproximo muito, ela dá saltinhos. E eu já o faço de propósito. Não consigo resistir.

A J. ficou traumatizada com a morte do MJ. E agora só ouve música dele e canta. Canta muito. E deprime-se. E fala que ele morreu. E então agora todos podemos morrer. Enfim, não há paciência.

J. – Ai amiga isto deixa-me mesmo mal… ele estava vivo e depois morreu!
Eu – (silêncio)
J. – És capaz de falar comigo sobre isto? Mas estás a ouvir-me??
Eu – Opa que queres? Ele estava vivo e agora morreu. E é isso!
J. – Ah! Detesto quando não concordas com o que digo!
Eu – (silêncio)


Na mesma madrugada:

J. – Tenho ali toucinho do céu, vamos comer?
Eu – Simmmmmmmmmmmmmmmmm.
(no entretanto, entre a segunda e a terceira colher de toucinho, pego num cigarro e num isqueiro)
J. – Mas vais fumar?? Tens de comer primeiro!
Eu – Mas eu gosto de comer, fumar e comer. Depois a boca fica docinha…
J. – Mas não pode ser! Tens de comer primeiro! Quem fazia isso era o meu tio, comia e fumava ao mesmo tempo!
Eu – Mas eu como e depois páro de comer. A fumar e a terminar de fumar. E depois é que volto a comer…
Ela – Oh! Ele também não comia e fumava ao mesmo tempo!
Eu – hmm…
Ela – E ele também morreu…
Eu - ??????

Acho que devíamos ter um big brother lá em casa. É que sinceramente…


Ontem ao final do dia:

Eu – Olha eu e a J. estamos com desejo de hambúrguer e hoje vamos ao pé de casa comer um. Queres vir?
S. – hmmmm… mas eu hoje ia fazer raviolis com atum e bechamel e queijo no forno…
Eu – Mas eu não consigo comer mais bechamel que enjoo imenso…
S. – Eu ponho pouco….
Eu – Mas eu e a J. queremos hambúrguer e pizza … é o nosso desejo…
S. – Os raviolis iam ficar mesmo bons…
Eu – mas nós queremos hambúrguer…
S. – Mas vamos lá buscar os hambúrguers e vimos comer para casa?
Eu – Não! Qual vir para casa! É para se comer lá, que eu preciso de ver gente!!
S. – Mas aquele sítio é horrível… Podíamos comer em casa!
Eu – Não! Comemos lá, S.!
S. – E tu chegas tão tarde…
Eu – Ai! Não me enerves…! Até logo
S. – Pronto. Até logo.

E é isto. Se estou chateada ou fodida tenho-as a bater à porta do meu quarto a perguntarem o que tenho. E porque estou assim. E não vens jantar connosco. E não tiraste o tapete do estendal. E lavas hoje a loiça. E porque fumas tanto. E vais beber álcool agora? E isto. E aquilo.

Ou seja, um ménage à trois sem a parte do prazer. Só as chatices que podem vir antes ou depois. Santa Maria!

Mas sim. Adoro-as. E pronto. Durante os tempos não o volto a dizer. Já sabem como sou.



1



Existe um tempo de escuridão dentro de mim. Um tempo de clausura. De sentir amordaçado. Incumbência de solidão. Ração interdita aos sonhos. Muros esguios que traçam o limite do espaço a ocupar. Sim. Existem em mim óvulos crescentes de negritude. De sufoco extremo. De dor irremediável. Existe um poço incurável de contraditório. Um mundo selvagem inconquistável.


Portanto não me peças que me dispa. Que te mostre a matéria de que sou feita. Não me peças que te disponibilize. Que te deixe folhear o que tento adormecer. O que pretendo alienar.

Não o farei. Não o permitirei.

Não queiras explorar o que de menos bonito trago. Sequestrado no peito.

Mas senta-te. Tenho duas almofadas que podem ser tuas. Um abraço que não foge e se molda ao teu corpo.

E tens a minha janela que assedia a noite pela cidade. O esboço tardio da lua sobre o meu corpo. Tens-me a mim como testemunha. Já o sou. Sei-o melhor do que tu. Há tanto que sei melhor do que tu. Sou os olhos que disputam a cegueira. Que embatem o muro e ultrapassam-no.

Não, não tenhas dúvidas.

Querendo, eu sou o tudo.

Serei o teu tudo.