segunda-feira, 2 de agosto de 2010

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Não sou mais do que os outros. Não sou. Tenho a mania sim. O que não quer dizer que seja mais do que os outros. Sim tenho um ego pretensioso. Sou realista e não convencida. Construí-me de aço. Mas não sou infalível. Sangro e sofro como qualquer pessoa. Tenho os meus dramas. São pequenos, acho. Sou prática, rebelde e nem sempre coerente. Sou inteligente e ingénua ao mesmo tempo. Não tenho paciência para muita coisa. Não gosto de perder tempo. Não gosto de não ser compreendida. Sou confusa, é certo. Atrapalho-me a falar, a escrever tomo as rédeas e sigo. Geralmente, não penso enquanto escrevo. É a minha terapia. É a forma que tenho de dizer o que quero sem ser interrompida. Portanto, escrevo de uma vez só e nem sempre releio. É já um hábito. um hábito feito terapia. a forma que encontrei de exorcizar o que trago por dentro e nem sempre consigo partilhar de outra forma. sou mais do que palavras. sou mais do que o que digo ou faço. sou tanta coisa e por vezes resumo-me a nada. já tenho alguns vícios de personalidade e alguns defeitos e qualidades enraizados. já não consigo me separar deles. quando estou doente sou mimada e irritadiça. mas não sou de pedir auxilio. não gosto de dar trabalho. acho que é chato. tenho dificuldades em acreditar no amor. nas relações. das duas vezes que acreditei caí no fundo. não gostei. não gosto de quando fico vazia e tenho de me reconstruir. agora estou a cair novamente. sinto a queda. mas persisto. sim sou persistente enquanto acredito. mesmo que já esteja toda esfolada. o que é estranho. uma descrente que luta e persiste? sim, sou estranha. nem sempre transparente. nem sempre fácil de ler. sou dúbia. mas digo o que sinto. digo sempre o que sinto. e por vezes o que sentimos dói nos outros. portanto, quando não acreditam em mim, eu fico fodida. porque o primeiro pensamento é logo "porra, eu não sou de fácil gostar, eu não sou de fácil entregar, eu não sou de fácil nada e ainda duvidam do que sinto?". Não gosto. desatino. irrito-me. e depois ocorre-me a ideia que poderão existir pessoas que não se tocam, e que não se apercebem do que estão a perder. sim eu também perco. todos perdemos não é? mas a questão é, o tomar consciência do que podemos perder não nos devia fazer agir? correr? ultrapassar fronteiras? lutar? fazer qualquer coisa? em vez da perseguição do silêncio? da depressão? do sofrimento? do drama? não sei. isto sou só eu a pensar com os meus anéis. sou só eu a escrever para aqui que ninguém me lê. sou só eu a pensar que o esforço tem sempre algum fundamento. a batalha também. portanto, o melhor é ficarmos quietos? atoalhados de medo? de inércia? de cola nos passos? não sei digam-me? quando estamos perto de perder aquilo que mais queremos não devíamos fazer tudo o que está ao nosso alcance? não é esse o objectivo? inverter o caminho da perda. inverter o destino. correr até conseguimos? como digo, isto sou só eu a escrever nesta borra branca. o medo de não conseguirmos alcançar é superior à frustração da perda? ao arrependimento? pode ter o medo tanto poder? e deixamos.nos ficar? faz-me confusão. faz-me mais confusão aqueles que se deixam ficar com medo do que aqueles que erram. faz-me confusão muita coisa, eu sei. gostaria de saber como certas pessoas têm a capacidade para continuarem a viver a sua vidinha com a consciência que o facto de não agirem lhes vai custar o que mais querem. pois é, os grandes amores já não existem. já o disse tantas vezes. já ninguém luta por nada. está tudo facilitado. vivem-se relações virtuais. vive-se tudo sem gestos. só com palavras. fazem-se amores assim. ninguém dá um passo sem medo. vá, desculpem as generalizações. que raio de realidade é esta agora? fico aterrorizada. estou chocada. até comigo. raiostepartammiudaquedeixastederaciocinar. não sei. este mundo deixa-me triste. é tão fácil iludir-nos. acharmos que a pessoa de quem gostamos lutará. demonstrará que gosta de nós. não se ficará só pelas palavras. provará que consegue ultrapassar o medo só para estar connosco. já não se fazem provas de amor como dantes. é tudo pequenino. sem significado. sem grandes mudanças. e depois quando alguém está disposto a agir, a fazer pela diferença, vêm as acusações. o desacreditar. o desconfiar. enfim. este mundo e estas pessoas deixam-me triste. desiludida. moribunda. sem qualquer fé e com toda a descrença. peço novamente um bocadinho mais de sorte. sim? já me chegam os falhanços anteriores. haja alguém que explique que assim não dá. que é preciso mandar o medo dar uma volta. que é preciso lutar. que se não se faz nada, perde-se. para sempre. e depois não há volta. alguém que explique que os sentimentos não se bastam de palavras mas sim de gestos. que as demonstrações são exigíveis. as cedências também. precisamos todos de uma re-educação, não é? para nos lembrarmos que o que não é cuidado, perde-se para algo melhor. que os corações são órgãos falíveis e que quase sempre precisam de ser salvos. e cuidados. e medicados. e que são raros, os bons corações portanto quando se reconhece um, há que lutar pela sua saúde. dar-lhe amor, carinho, desafio, paixão, atenção. é isto que se devia fazer quando reconhecemos um bom coração e nos apaixonamos por ele. pena que quase ninguém o faça. tenho dito.

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