segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Apetece-me escrever de forma lenta. Escrever e fazer intervalos. Ir e voltar. Como se no intermédio nascesse algo novo em mim. Não nasce. Nunca nasce. Já estamos formatados. Não podemos mudar. Acho que mudar é daquele tipo de desafios que nunca serão bem concretizados. Não, não acredito que as pessoas mudem. Mesmo que o queiram. Não podem. Não há um mecanismo que o possibilite. O que pode acontecer é alguém mentir. Sim criamos uma mentira sobre termos mudado mas na verdade nunca mudamos. é apenas uma mentira. um engano. primeiro a nós e depois aos outros. Acreditarmos que mudamos seria um grande poder. se fosse verdade. mas não é. é um engano. uma mentira. por vezes, para sermos melhor aceites. para termos novas oportunidades. e aí dizemos "eu mudei". mas não. não foi isso que aconteceu. apenas houve uma adaptação a uma situação. para tirarmos algum proveito. há sempre um objectivo. pode ser um objectivo feio. muito feio. ou bom. no entanto, temos por base um engano. é possível esquecer-nos disso? não sei. provavelmente não.

a nossa natureza será sempre uma. só uma. acreditem. e a principal fonte de sofrimento é quando temos de fazer coisas que vão contra a nossa natureza. é muito complicado. porque existem muitas naturezas. e as pessoas chocam. e corre tudo mal. porque não é possível mudar. e nunca será espontâneo. a não ser que a pessoa morra e nasça de novo. só assim. pode morrer com apenas um desejo: quero ser diferente. quero ter outra natureza. e depois estala os dedos e nasce exactamente como queria.

eu não tinha vontade de escrever. não tinha. mas estava entediada. e então comecei a prever letras que se formam em palavras. e temos frases e pontos finais. e tudo isto forma um texto. não penso muito quando escrevo. tenho tudo o que preciso dentro de mim para escrever sem pensar. é verdade. ocorre-me gritar que é verdade.


disseram-me que agora não escrevo com tanta força. a minha tão característica força que irrompe. fiquei triste, confesso. fico triste. se me disserem que escrevo mal, fico triste. porque sei que não é verdade. eu escrevo bem. não é bem uma questão de bem escrever. não. eu não escrevo bem. eu dou vida às palavras e elas tem capacidade para entrar. sim. provavelmente é isto. eu não escrevo eu sei é dar vida ao que escrevo. pronto. prefiro assim. não me importo de fazer erros. porque escrevo rápido e depois não quero reler. só gosto de reler depois de publicar. e aí fico tão feliz por ler o que escrevi que não vejo erros. porque para mim está perfeito. talvez o que de mais perfeito retenho. sim. a escrita.

é estranho isto. sentir-me a endurecer. eu sempre fui dura. mas depois abrandei. agora sinto-me a endurecer. a congelar. mas não prevejo o derreter. não sei. se calhar só no dentro. porque eu sou uma pessoa quente. transmito calor. mas no dentro. os problemas estão sempre por dentro. e eu por dentro sinto-me a fechar. e dói. isto de fechar dói. dói muito. porque é como formatar-me. uma transformação. a que fui obrigada. as nossas transformações só acontecem porque nós somos obrigados a tal. ninguém se transforma só porque sim ou porque acordamos um dia e pensamos: hoje apetece-me transformar. porque sim. porque o dia nasceu azul e apetece-me voar. vou sair da cama e vou à fabrica encomendar asas. não. as transformações são imperativas. seja qual for o motivo.

porque sim sinto-me a mudar. porque fui obrigada. sinto-me a fechar. devia tornar-me menos especial. sim. é isso. se eu fosse menos especial não havia medo. fico triste. não devia ser bom sermos especiais? as pessoas não querem pessoas especiais na sua vida? não é isso que é bonito? termos a sorte de acolhermos alguém especial? não. apercebi-me ontem que não. as pessoas querem é pessoas vulgares, comuns na sua vida. porque assim não se assustam. e podem viver a vida de forma sossegada sem sobressaltos. porque assim não estão em perigo. mas eu sou especial. e já vos disse. eu não posso mudar. não posso. sou assim. deviam querer-me assim. esperem. querem-me assim não sabem é como terem-me assim? confuso. e estúpido. e depois lembro-me que as pessoas inteligentes passam a burras num segundo.

mas dizia eu que me sinto a mudar. a fechar-me. não queria voltar ao meu estado de indiferença. não queria. mas se calhar. se calhar é a única forma de voltar a mim. de deixar de sentir. não quero sentir nada no coração. não quero. e isto lembra-me o sonho que tive hoje. estava sentada ao lado do oceanário com um buraco no lugar do coração e a chamar por ti. poderá ser um prelúdio. tiraste-me o coração em vez de o salvares.

1 comentário:

  1. "E depois lembro-me que as pessoas inteligentes passam a burras num segundo!"
    Esta frase é genial, rapariga da fortuna! Muito bom! Quer dizer, é bastante bom! ;)
    Que é que aconteceu nestes dias da minha ausência, hum?
    Daqui a nada ligo-te...
    Há aqui muitos pontos a discutir neste post... essa coisa das mudanças e não mudanças... essência e não essências... talvez divague sobre teu pensamento lá nos olhos de mulher...

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