E se contássemos todos os dias em que estivemos sem falar? Sem o movimento do sorriso que se inquieta pela voz. Sem os cigarros que fumamos em cidades diferentes. Eu à janela e tu dentro da tua casa de banho. Ou em casa da R. Se contarmos os dias em que a nudez não aconteceu. ou o sufoco do espaço que se quer inexistente e é cada vez mais forçoso de acontecer? Se contarmos todos os adeus, os até já, os sonhos, as inseguranças, os medos, o desespero, o trajecto que tem sido sempre cortado a meio. também temos as vezes em que nos magoamos. quantos furos têm os nossos corações? quantas vezes foram ditas coisas com o objectivo de nos ferimos. de deixar mágoa. quantas navalhadas ainda conseguimos aguentar?
temos os silêncios agora. presentes. acutilantes. minuto a minuto. hora após hora. e luto para que não cheguem a mais do que um dia. mas chegam. quando o silêncio se fabrica entre nós não passa rapidamente. mói. é uma rasteira nos momentos. um pedregulho que multiplica as saudades. a falta de algo que ainda nem aconteceu.
um dia perguntaste-me se seríamos loucas. por sentirmos tanto. quando ainda falta tanto mais. será castigo. pela loucura desenfreada? ou será um sinal que não podemos acontecer. as vezes perco-me nas hipóteses. e considero ser internada. tu também? queria que me contasses uma história. não a nossa. a nossa a R. está a escrever. mas outra. outra que me embale e me faça reaprender a respirar neste espaço e silêncio. nesta clemência de saudades. neste desassossego interno que me faz ficar como menina-perdida-e-apaixonada.
o silêncio continua. será que se está a encostar como se estivesse no sofá. será que perdura. será que quer ser eterno. será que se fez em adeus em vez de um até já. será que deixaste de saber ver tudo o que já foi passado. será que a cegueira tomou conta dos teus olhos azuis e escapa-te o tempo que é gasto pela distância. será que não sabes já tudo o que trago por dentro. como me ocupas. como te quero e espero. será que ainda te restam dúvidas? de quanto o membro que ocupa o meu lado esquerdo precisa de ti? dobra as diferenças, os pontos de vista opostos, o que nos separa e guarda tudo num roupeiro. o que nos une é mais. é muito mais. se parares por um minuto, consegues percebe-lo? creio que sim. então pára. pára no momento exacto em que me lês. pára, olha para dentro e diz-me o que vês. agora podes começar a agir de encontro com o teu sentir?
e se sim, podes não demorar muito porque o tempo arranha e faz ferida que sangra e eu tenho medo de ir ao médico. só de ti é que não tenho.
temos os silêncios agora. presentes. acutilantes. minuto a minuto. hora após hora. e luto para que não cheguem a mais do que um dia. mas chegam. quando o silêncio se fabrica entre nós não passa rapidamente. mói. é uma rasteira nos momentos. um pedregulho que multiplica as saudades. a falta de algo que ainda nem aconteceu.
um dia perguntaste-me se seríamos loucas. por sentirmos tanto. quando ainda falta tanto mais. será castigo. pela loucura desenfreada? ou será um sinal que não podemos acontecer. as vezes perco-me nas hipóteses. e considero ser internada. tu também? queria que me contasses uma história. não a nossa. a nossa a R. está a escrever. mas outra. outra que me embale e me faça reaprender a respirar neste espaço e silêncio. nesta clemência de saudades. neste desassossego interno que me faz ficar como menina-perdida-e-apaixonada.
o silêncio continua. será que se está a encostar como se estivesse no sofá. será que perdura. será que quer ser eterno. será que se fez em adeus em vez de um até já. será que deixaste de saber ver tudo o que já foi passado. será que a cegueira tomou conta dos teus olhos azuis e escapa-te o tempo que é gasto pela distância. será que não sabes já tudo o que trago por dentro. como me ocupas. como te quero e espero. será que ainda te restam dúvidas? de quanto o membro que ocupa o meu lado esquerdo precisa de ti? dobra as diferenças, os pontos de vista opostos, o que nos separa e guarda tudo num roupeiro. o que nos une é mais. é muito mais. se parares por um minuto, consegues percebe-lo? creio que sim. então pára. pára no momento exacto em que me lês. pára, olha para dentro e diz-me o que vês. agora podes começar a agir de encontro com o teu sentir?
e se sim, podes não demorar muito porque o tempo arranha e faz ferida que sangra e eu tenho medo de ir ao médico. só de ti é que não tenho.