quinta-feira, 29 de julho de 2010

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E se contássemos todos os dias em que estivemos sem falar? Sem o movimento do sorriso que se inquieta pela voz. Sem os cigarros que fumamos em cidades diferentes. Eu à janela e tu dentro da tua casa de banho. Ou em casa da R. Se contarmos os dias em que a nudez não aconteceu. ou o sufoco do espaço que se quer inexistente e é cada vez mais forçoso de acontecer? Se contarmos todos os adeus, os até já, os sonhos, as inseguranças, os medos, o desespero, o trajecto que tem sido sempre cortado a meio. também temos as vezes em que nos magoamos. quantos furos têm os nossos corações? quantas vezes foram ditas coisas com o objectivo de nos ferimos. de deixar mágoa. quantas navalhadas ainda conseguimos aguentar?

temos os silêncios agora. presentes. acutilantes. minuto a minuto. hora após hora. e luto para que não cheguem a mais do que um dia. mas chegam. quando o silêncio se fabrica entre nós não passa rapidamente. mói. é uma rasteira nos momentos. um pedregulho que multiplica as saudades. a falta de algo que ainda nem aconteceu.

um dia perguntaste-me se seríamos loucas. por sentirmos tanto. quando ainda falta tanto mais. será castigo. pela loucura desenfreada? ou será um sinal que não podemos acontecer. as vezes perco-me nas hipóteses. e considero ser internada. tu também? queria que me contasses uma história. não a nossa. a nossa a R. está a escrever. mas outra. outra que me embale e me faça reaprender a respirar neste espaço e silêncio. nesta clemência de saudades. neste desassossego interno que me faz ficar como menina-perdida-e-apaixonada.

o silêncio continua. será que se está a encostar como se estivesse no sofá. será que perdura. será que quer ser eterno. será que se fez em adeus em vez de um até já. será que deixaste de saber ver tudo o que já foi passado. será que a cegueira tomou conta dos teus olhos azuis e escapa-te o tempo que é gasto pela distância. será que não sabes já tudo o que trago por dentro. como me ocupas. como te quero e espero. será que ainda te restam dúvidas? de quanto o membro que ocupa o meu lado esquerdo precisa de ti? dobra as diferenças, os pontos de vista opostos, o que nos separa e guarda tudo num roupeiro. o que nos une é mais. é muito mais. se parares por um minuto, consegues percebe-lo? creio que sim. então pára. pára no momento exacto em que me lês. pára, olha para dentro e diz-me o que vês. agora podes começar a agir de encontro com o teu sentir?

e se sim, podes não demorar muito porque o tempo arranha e faz ferida que sangra e eu tenho medo de ir ao médico. só de ti é que não tenho.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

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E depois acontece isto. A vida vira do avesso e deixa-me furiosa. Merdinha. Merdinha. Será que a partir de agora as coisas podem começar a correr bem? Sim? Já chega, não? Ou é preciso mais alguma coisa para este ano ser considerado verdadeiramente infernal? Sim, sim também há coisas boas. Mas porra, e as más podem desaparecer de vez? Eu já nem sei como estou. Eu acho que se conseguisse chorar, chorava todos os dias. Já sinto que me arrasto. Pois vocês, não vêem, pois não? Eu estou sempre pronta para me divertir, para festas e risadas. Verdade. Acho que por vezes consigo mesmo invadir-me de alegria e pensar que as coisas vão melhorar. Na Segunda quando estávamos a chegar à praia (falo com vocês, MJ e R.), só me apetecia chorar. Engoli em seco, apanhei sol e depois sim atirei-me à água e soube bem e o resto do dia foi muito bom. Ando instável. Perdida. Insatisfeita. Revoltada. Fodida. Desiludida. Cansada. Estoirada. Farta. Agressiva. Impaciente. Estou isto tudo. Que ando a fazer para melhorar? Saio da cama todos os dias. Não chega mas é já alguma coisa.

Esta fase está a fazer com que coloque em questão tudo. O coração. Esta cidade. O trabalho. A vida em si. No espaço de um mês e pouco tenho de me orientar e mudar de casa. Já não consigo ver mais anúncios de casas e quartos. O desespero está a chegar e só piora tudo. Depois o trabalho que só me faz pensar que porra estou a fazer aqui se nem consigo pagar as minhas próprias despesas. E o coração. Cheio de riscos, erros, desilusões, tonturas, mágoa. às vezes, nas noites idas, chego a perguntar-lhe se ainda está vivo. Estou, diz ele baixinho sem sorrir e chateado comigo.

Não tem sido fácil arranjar forças. Não tem. Não sinto quase vontade para nada. Só queria fechar os olhos e quando acordasse, estivesse tudo bem. Diferente. Melhor. Feliz. Eu sei que sou eu que tenho que mudar as coisas. Sei que a felicidade parte de nós. Mas às vezes sabe bem o equilíbrio, a ajuda, a compreensão. Aos 26 anos percebi finalmente que por mais que tenhamos forças para tudo e mais alguma coisa, será sempre diferente se a batalha for feita acompanhada.

E de ti, especialmente, eu precisava de sentir mais.

terça-feira, 27 de julho de 2010

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O meu pai. Nunca escrevi nada sobre o meu pai. Talvez porque sempre insisti em manter uma distância entre nós. O meu pai ocupa um espaço complicado na minha vida. Foi ele a razão principal para eu ter decidido aos 17 anos tirar um curso fora da Madeira. Foi ele também a razão para quando eu quando terminei o curso, ter permanecido por Lisboa. O objectivo foi sempre não estar de forma permanente no mesmo espaço que ele. Porquê? Porque eu e ele não conseguimos estar em paz mais do que alguns dias seguidos. Porque ele efectivamente não me conhece e penso que tem medo de começar a conhecer. E eu tenho medo de me dar a conhecer, provavelmente por ter uma quase certeza que ele iria condenar e julgar a filha que tem.

Desde sempre que eu sou a menina do meu pai. O meu pai fez e faz tudo por mim. Basta eu pedir. E basta fazê-lo uma vez. A resposta será sempre sim. Tudo para a sua menina. A minha terapeuta disse-me, certa vez, que o meu pai tinha sido o meu primeiro amor. E desta forma, percebeu-se o complexo de Édipo vivenciado por mim durante tenra idade, em que o meu pai era tudo para mim e a minha mãe era rejeitada. Durante anos, foi assim. Depois por uma série de situações, houve uma inversão e a minha mãe ganhou o papel que hoje em dia ainda mantém, o de base estrutural na minha vida. Disse-me a terapeuta que tal como o meu pai foi o primeiro amor, também foi com ele que sofri as primeiras desilusões. Desilusões essas que viriam marcar toda a minha existência até então. Daqui resultaram também algumas conclusões relativamente à minha estrutura emocional, à independência forçada, à fobia pelas relações e a protecção exacerbada que trago por mim mesma.

O meu pai foi um bon vivant, com muitas mulheres e uma vida boémia. Veio para Lisboa com 17 anos e tinha um nome pelo qual era conhecido na noite. Casou-se duas vezes. Uma primeira com a mãe da minha irmã. E uma segunda com a minha mãe. Apaixonaram-me ela era menor. E ele era 17 anos mais velho. Viveram um relacionamento já ele estava separado mas não divorciado da primeira mulher. A minha mãe mudou a sua vida, os seus objectivos por ele. Tinha ela 19 anos na altura. Adaptou-me a uma vida que não era a que ela queria por ele. E ele nunca soube dar-lhe o retorno. Poderia ter sido uma história de amor feliz. Não foi.

Eu acho que aquando do meu nascimento o meu pai mudou. Não sei se para melhor. Não sei mesmo. Tornou-se caseiro, deixou-se de viagens e penso que de outras mulheres. Dedicou-se à sua menina. Ia buscar-me todos os dias à escola. Levava-me a passear. Ensinou-me a andar de bicicleta e a nadar. Levava-me também ao futebol. E dava-me tudo o que eu queria. Lembro-me que almoçávamos todos os dias juntos. Durante anos a nossa relação foi feliz. Depois eu cresci e na minha vida começaram a entrar amigos e amigas. E a entrada na adolescência foi o que nos afastou. Porque eu queria fazer o que os amigos faziam e ele achava que era melhor não. Sempre uma protecção excessiva. Ou não. Porque eu era a sua luz. A sua menina. Nunca o perdoei, confesso. Nunca o perdoei, ter-me impedido de viver. Nunca o perdoei, o facto de durante aquelas anos antes de vir para Lisboa, me ter sentido presa e sufocada. Nunca o perdoei, o não conseguir dizer-lhe as coisas. As que realmente seriam importante para ele saber. E hoje em dia sei que não o perdoo para não me conhecer. Desisti dele há muito tempo. Mas é o meu pai. E eu sinto amor por ele. Um amor-ódio.

Quando eu cheguei a Lisboa, eu fiz tudo o que de "errado" poderia haver. Tudo o que ele condenaria, decerto. Saía todos os dias à noite. Fumei charros atrás de charros. Embebedei-me. Estive com muitas mulheres. Não ia às aulas e dormia imenso. Tudo isto foi feito às escondidas e sem o seu conhecimento. Tudo isto foi feito provavelmente para o chocar. Tudo nas suas costas, porque faltou, como ainda me falta, a coragem para dizer-lhe tudo o que tenho para dizer. Também sei que o mais certo é que ele morra primeiro. E então terei de arranjar outra forma de falar com ele.

Nestes dias que passei com ele, tomei consciência de uma coisa que me aterrorizou. Em certas e determinadas alturas eu comporto-me como o meu pai. O tom de voz muda. as feições alteram-se. O comportamento. A postura. Eu torno-me o meu pai. Tal e qual. Eu torno-me naquela pessoa que eu não perdoo. Que me fez ter sentimentos de revolta e agressividade durante anos. Aquela pessoa que sempre que eu me meto em algo novo, me acusa de desistir. "Vais fazer isso porquê? Já sabes que nunca levas nada ao fim, vais desistir". Isto perseguiu-me durante a vida toda. Quanto às dietas, ao desporto, ao inglês, ao teatro. A tudo. Sim, eu nunca levei nada ao fim. Obrigada pai. Para além de não me conseguir conciliar contigo ainda tenho de te rever em mim. Foda-se.

O meu pai continua a fazer tudo por mim. Veio a Lisboa este mês e trouxe-me o carro dele para trocar com o meu. Porque o dele supostamente é melhor para eu conduzir (confere). Antes da viagem, levou o carro à oficina e tratou de tudo. Durante alguns dias não andou com o carro. Porque estava todo limpo e queria que eu o visse assim. Se nota que eu preciso de alguma coisa, ele de seguida apenas diz "não te preocupes com nada.". E de certa forma, isso descansa-se e eu consigo respirar fundo. Porque sempre que eu precisei ele estava lá. Isto com as pequenas coisas mas que também podem ser grandes. Depende sempre da importância a que damos às coisas na altura.

A primeira vez que adoeci em Lisboa, liguei-lhe. Disse-lhe que tinha 38 de febre e que me doía a garganta. A resposta foi " O pai vai já apanhar o avião para Lisboa". Não apanhou porque a minha irmã veio buscar-me e durante uma semana cuidou de mim. Foi e é um pai presente, preocupado com as minhas necessidades. Não é um pai que me conheça. Para ele serei sempre aquela pequenina vestida com o equipamento do marítimo e com um cachecol do Porto, não esquecendo a bandeira que eu nem conseguia aguentar. Tinha eu uns dois anos. Lembro-me tão bem disto porque vi muitas fotos. E para ele, haverá sempre a certeza que o que fez e a forma como agiu foi para o meu bem. Sempre para o meu bem. Mesmo que lhe escape as consequências das suas atitudes. Não serei eu a dizer-lhe. Há algum tempo que cheguei à conclusão que ele deve partir deste mundo com a imagem de uma filha quase perfeita. Que teve sempre um comportamento impecável e que nunca o desiludaria. Esta imagem foi criada por mim desde muito nova. Já não me pesa. Quando estou com ele aparentemente sou mesmo perfeita. Aparentemente. Não faz mal. Afinal de contas, ele foi o meu primeiro amor.

às nove no meu blogue - II

Pois é.

"Esta de deixar tudo para lutar por um grande amor. Aquele que acreditamos ser o amor de uma vida. Não é fácil, não é simples, não é linear, não é 1+1=2. Há muita coisa que nos faz pensar e o medo, esse elemento bloqueador de tudo o que é espontâneo, tolhe os movimentos, tolda o raciocínio, não nos deixa agir por impulso, o que às vezes também não é mau de todo, porque alguma ponderação nunca fez mal a ninguém. Mas ficar parado, aterrorizado à espera que a vida se resolva sozinha é que não. Não ajuda ninguém, não resolve nada por ninguém.

Eu acredito que quando duas pessoas gostam, a sério, uma da outra, devem fazer tudo o que puderem para ficarem juntas."

Ver tudo, aqui

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I'm back.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

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Haja sentido de humor. E sorrisos múltiplos. E amigos. E praia. E minis na esplanada. E coisas bonitas que me preencham. E que exista sempre muita força e coragem e vontade de mudar e crescer e ser maissssssssss! (Isto nem pareço eu, não é? Ontem comi muito gelado e hoje acordei com vontade de mudar o mundo.)

Vou fugir e volto daqui a dias. Os telemoveis vão ser postos num saquinho e só os vejo à noite. Mas não se preocupem, eu s estarei a cuidar de mim e a mimar-me terrivelmente muito. :D

See you soon.

terça-feira, 20 de julho de 2010

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Vejam que bonito. Chegamos ao post 69. Devia ter calculado melhor. O número 69 e esta imagem, algo me diz que não tem muito a ver. Mas foi o que calhou. Ao contrário de algumas pessoas, eu estou-me bem a lixar para números.

E com isto, tenho uma pergunta, quem dá mais do que três oportunidades, é o quê? (Podem responder sem qualquer meiguice, eu aguento-me e ainda por cima tenho muito gelado em casa.)

Vou já a correr comprar um chicote, ouvi dizer que estão em saldos numa lojeca.

Foda-se. Foda-se. Foda-se. Foda-se.

(R. eu podia ter nascido na tua terra, pois podia?)

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Eu posso andar furiosa e irritada dias inteiros, pois posso. Eu posso dizer mal disto e daquilo. Eu posso maldizer tudo na minha vida. Por andar com as mãos cheias de frustração e tristeza. Posso subir paredes porque ando com vontade de comer e ser bem comida. (é também acontece estar com uma enorme vontade de chocar susceptibilidades). Eu posso ter insónias ou adormecer em cada segundo mal caía na cama. Eu posso ter vontade de espernear e chorar. Eu posso ser isto tudo, menos ou muito mais. Mas há uma coisa que tenho e devo ressalvar que é a importância que os meus amigos têm na minha vida. E como me conseguem fazer sorrir, rir, e sentir-me mais feliz e especial. Sim, os gestos, os pequenos gestos são o que eu preciso para conseguir dar mais um passo e erguer-me.

Como sabem, ando desde ontem com um humor de cão e furiosa. Já o disse. Pois bem. Agora sinto-me um pouco melhor, porque a minha Jo, dedicou-me um post, que me fez rir e sorrir e desejar chegar a casa para lhe dar um GRANDE abraço.

Vejam aqui


Obrigada, minha amiga. Não sabes a importância que teve para mim e o quanto me fizeste sorrir.

I love you too. (crede que lamechiche)

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Ando com uma vontade enorme de dizer que o ano de 2011 é que vai ser. Claro que contra mim falo/escrevo já que eu tenho para mim que 2010 é que seria o grande ano. Acho que deve ser de falar antes. Portanto, devo com isto estar a condenar o ano de 2011 que ainda é embrião. Penso que isto será uma tentativa de fazer com o que o tempo passe muito rápido. Não que o depois seja melhor. Mas é por já estar pelos caracóis desta fase. Que raio-de-merda-de-fase. É possível estar saturada de tudo? É. É possível estar há quase um ano a dizer que quero fugir? É. É possível apetecer-me bater-me ao ponto de não sentir mais nada? É. Serei masoquista? Não. Serei completamente louca da cabeça e com os anos ando a perder a capacidade de racionalizar? Pudera. Acho que vou fazer uma reza qualquer. Umas velinhas. Ou se calhar, volto a tornar-me ermita.

A minha querida MJ já por duas vezes que me disse que andava preocupada comigo. Porque eu não páro. Não consigo estar quieta. Estou sempre em movimento, desgastada e stressada. Bebo café a mais. Faço tudo a mais. É a merda dos extremos. Também faço coisas a menos. Durmo pouco. Ando pouco. Descontraio pouco. Enfim. Um dia acho que me dá qualquer coisita e troco-me toda. Também acho que posso considerar esta fase uma crise. É isso. Estou a passar pela crise dos vinte-e-cinco-anos-mais-um. Que é aquela crise que se têm quando nos começamos a sentir adultos. É a porcaria do trabalho. De repente, fazes-te à vida e tens não sei quantas obrigações por dia. Safa-me a minha mãe que é a minha guardiã:

- kiki, já imprimiste não sei quê?
- Kika Já organizaste os teus pápeis? E as facturas para o IRS do próximo ano? E já encontraste isto e aquilo que andas há meses à procura?
- E a tua cabeça, perdeste-a aonde?

Pois é. A minha mãe quando vem cá a Lisboa organiza-me a vida. Vai levantar documentos e papeis que estão à espera há não sei quanto tempo. Organiza-me as gavetas. Faz recados. Vai ao supermercado e à lavandaria. Leva-me a almoçar. E faz-me festinhas ao adormecer. A minha mãe é sem dúvida a organização da minha vida. Mesmo à distância quando me liga diariamente para me lembrar o que eu já tinha esquecido. e enquanto escrevo este texto estou a tentar recordar-me se sei onde está a passagem de avião para amanhã. Acho que quando ela aqui esteve disse-me onde tinha guardado. Provavelmente, aproveito a hora de almoço para discretamente perguntar.

Acho que me sinto impelida a assumir que a minha vida é um caos. Eu sou um caos. Será que perdi o rasto de mim e nem reparei? Tenho dias em que verdadeiramente já não sei quem sou. Perco-me por entre tantos planos e objectivos que acho que não fiz nada e não vou fazer nada. Já nada é desafiante. E confortável é deixar-me estar e tentar não me chatear com nada. E se o tema for pessoas, então o melhor é começar a fugir.

A minha fase actual nomeia-se: eu-não-entendo-os-outros-e-na-sequência-não-me-entendo-a-mim-própria.

Alguém sabe onde se compram balas de fingir? Só para ver se o susto a brincar me acorda para a puta da vida.

Foda-se.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Estou fodida. Verdadeiramente fodida. Adormeci e acordei assim. Fodida da vida. Uma das coisas que me põe completamente fora de mim é quando alguém nos faz uma pergunta, nós insistimos para não responder, e depois quando respondemos, do outro lado existe silêncio, choque, silêncio, julgamento e depois um estado de colapso emocional que faz com que uma ou duas discussões se iniciem.

É que vamos a ver uma coisa, quando se faz uma pergunta existirá sempre uma forte possibilidade de não gostarmos da resposta. Não há como fugir a isto. A possibilidade estará lá. Quando a pessoa a quem é dirigida a pergunta, faz menção que a resposta não será do agrado e mesmo assim do outro lado existe uma insistência, depois não se queixem. É que não se podem queixar, muito menos, ficar chateadas, amuadas, magoadas, o que for. Ainda por cima com um assunto que a elas não diz respeito e muito menos que as envolvam. Num momento temos o paraíso, no outro o inferno. Haja paciência.

Mais, quando a resposta se estende ao passado, única e exclusivamente, ao passado, porque raio têm as pessoas a mania de fazer um grande escândalo ainda mais julgar e pregar a sete pés que não entendem, que não percebem, que não aceitam. O meu passado faz parte de mim, não digo que tenha sido a causa do que sou hoje, mas é o meu passado. Faz parte da minha vida. DA MINHA VIDA. Portanto, faz-me extrema confusão a lata de alguém ousar sequer julgar-me e dizer que não entende. Na verdade, ninguém tem de entender ou sequer dar opinião. É O MEU PASSADO. Posso ter alguma coisa minha, posso? É preciso explicar, justificar? Porquê? O que importa? O que é que muda no presente? O quê? Por amor das deusas, é possível ter paz durante mais do que dois dias seguidos? Qual é que a necessidade que as pessoas têm em foder tudo? Porra!

Acho uma piada. Eu tenho tudo muito bem resolvido no meu passado. Está lá atrás, no tempo em que foi vivido. Não faz parte do meu presente, muito menos do meu futuro. Por isso se chama passado. Foda-se. Se eu tenho tudo resolvido, porque raio é que tu que não fizeste parte do meu passado, mas fazes do meu presente, tens de ficar incomodada ou chocada? Ou tens insónias à conta disso? Não entendes? Já reparei. Não tens de o fazer ou sequer aceitar. Mas tens o dever de resolver isso tudo na tua cabecinha, de forma, a que não me magoes ou julgues com as tuas teorias ou com a tua forma de viver a tua vida. Somos diferentes. E se eu não tenho que opinar ou julgar-te pelo teu passado então agradeço encarecidamente que deixes a porra do meu passado em paz. Bom bom seria se te concentrasses no presente. É onde estamos, no presente. Portanto, perdeste uma fantástica oportunidade para evitares o que se passou ontem à noite e hoje de manhã. Não havia necessidade, entendes? Não havia!

Conclusão: eu estou fodida. tu estás chocada. Por uma coisa que não dá para mudar ou alterar e é um capítulo encerrado. Obrigada pelo fenomenal inicio de semana. Realmente, quando queres abrir uma brecha entre nós, consegues fazê-lo muito bem.

terça-feira, 13 de julho de 2010

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hoje estou assim. não sei muito bem dizer como. mas estou assim. não queria repetir-me. eu não gosto de me repetir mas faço-o tantas vezes. faço-o porque acho que só assim conseguirei perceber o que tanto repito. então repito-me e sinto-me como se estivesse a dançar. repetir-me é dançar ao som da música que não sei identificar bem qual. mas danço porque gosto e sinto-me mais livre quando o faço. gosto de madrugadas em que danço e que esqueço que a vida é tão mais pouco do que aquilo que desejamos. não, não estou triste. mas estou assim como quem quer ir a algum lado. ou fechar os olhos e dormir. antes gostava mais de dormir do que agora. sinto que o tempo é tão pequenino que não o podemos congelar. e portanto é como se me esquecesse de dormir. não que me esqueça mas faço por isso. mas não, não estou triste. queria deixar-me estar. só isso. afundar-me numa cadeira e ficar ali sem pensar que o tempo é pequenino e pode acabar. estou doce. hoje estou doce e sensível e menina. hoje estou assim de acordo com os meus vinte-e-cinco-anos-mais-um. acho que se falar, a voz arrasta-se. não seria uma voz quente. mas uma voz de mimo. não queria um abraço. não. talvez festinhas pelos caracóis. e colo. que não é bem colo. é deitar a cabeça na barriga ou no peito e receber festinhas. e silêncio. queria silêncio no meio deste cenário. estaria com o meu vestidinho branco com bolinhas coloridas. (quando fico assim dá-me para os inhos). quando estou assim deito-me e mudo várias vezes de posição. e tapo-me e destapo-me. e ponho o vestido mais para cima. e suspiro. suspiro muito. depois olho para o tecto. gosto muito de olhar para o tecto. e abraço-me. nestes momentos abraço-me e sabe bem. gosto de assim estar. às vezes, também leio. e também, fecho os olhos. e lembro-me de leite com chocolate e um queque. lembro-me quase sempre de coisas bonitas. e de sítios que me encantam. de coisas pequeninas e bonitas. sim. quando estou doce e mimalha, sou assim.

mas não posso estar assim. porque não há tempo ou espaço. e chateia-me. chateia-me não poder fazer ou estar como e quando quero. porque não posso sair daqui. não posso virar costas a isto. e depois tenho de ir comprar outra prenda para a mãe e estar no meio de lojas e pessoas. e chegar a casa e jantar e mudar os lençóis. e fartar-me disto tudo. quando não posso ser doce e mimada e deixar-me ficar assim, inicio-me insuportável e furiosa.

portanto, agora já estou insuportável. merda.

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Da janela vê-se a cidade. Abrupta. Pausada entre outras tantas janelas. Mundos ancestrais que se escondem por outros nomes. Todos temos o nome que nos queremos dar. Somos nós que nos baptizamos. Somos nós que escolhemos o alimento. A raiz que fomenta o nascimento do que precisamos. A criação dos limites a que nos impomos. O controle. Sempre o controle do que damos e a manipulação do que recebemos. Somos marionetas no teatro da vida. Cedemos-nos. Estrangulamos-nos. Somos mais ou menos, dependendo do que queremos causar. Fugimos também. Porque é o que é suposto. Mais do que ficar. Se ficamos, abrem-se novos hábitos. Os hábitos não são feitos de uma escolha. Não. Os hábitos vêm porque não há outra opção. A não ser fugir. Se fugirmos, criámos esse hábito. Apenas esse. Depende apenas de nós. Garanto. Se ficamos, por mais que queiramos, ser apenas nós, isso deixa de acontecer. O alimento será sempre feito por duas pessoas. Com expressa autorização ou não. Mas nunca é uma coisa meramente individual. Isso não existe. A individualidade somos nós. O ser que reage dentro. Que se afunda ou liberta. É isso. A individualidade é o que somos mas não é o que se expressa no mundo. Há sempre qualquer coisa de recíproco. Mesmo que não assumido. Mesmo que superficial. Ou mais do que isso.

O acto de dizer o que somos e o que queremos não invalida os passos dados em sentido contrário. Quase sempre agimos em sentido contrário. O querer controlar não é bem recebido pelo viver. Pelo sentir. Pela intensidade do que se vive. Controlar é também ser ingénuo. Pregar nos outros a nossa filosofia. Viver é também isso, entregar nos outros a nossa própria religião. Servir os crentes é libertar-nos. E quando não conseguimos, a tendência é reagir agressivamente. Mas repare-se que o maior obstáculo não é a racionalidade. É sim o intermédio entre o que queremos e o que sentimos. É essa a batalha. A única verdadeira batalha. E portanto, calculamos os passos até um certo ponto. Depois há um retrocesso natural. Um questionário. E no momento em que se sente que o descontrolo tome posse, retribuímos com uma dose alta de racionalidade. Eu gosto de seres racionais. Mas gosto mais de seres que se descontrolam. Que vivem sempre na corda bamba. Que se violam. Que são capazes de quase cometer suicídio nos seus valores. Com apenas um fundamento: viver mais. querer mais. desejar o que ainda não é possível ter. Querer o tudo, nunca foi um defeito. algo menos bom. Não. Querer o tudo, é a diferença entre sermos isto ou sermos mais. É termos a capacidade de nos elevarmos. Gosto desta ideia. O poder de nos elevarmos a mais.

Do lado de cá da minha janela sou só eu. Na ambiguidade de ser só. de querer ser só. e por vezes, não saber bem o que estou a fazer ou a sentir.

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

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Para a minha R.

Não quis acreditar da primeira vez que me disseram. Não quis. Como é possível? Quero chorar e não consigo. Não posso chorar. Tu choras. Portanto, eu não posso chorar. Até nas amizades, devem existir equilíbrios. É uma das minhas regras. Tu és forte. Tu és uma Mulher Forte. Mas por vezes, choras. E quando tu choras eu não posso fazê-lo por mais que queira. Eu não me importo de ser forte quando tu estás frágil. Porque eu tenho de ser o teu ombro. Como tu és o meu tantas vezes. Não que eu chore. Só aconteceu uma vez, não foi? Que tivesses me sentido mesmo a chorar? Foi ao telemóvel. De resto, viste-me com os olhos molhados. Mas não a chorar. Esta questão é importante. Porque eu sou capaz de me fritar por dentro só para não chorar. Não posso fazê-lo. Não posso. Não agora. Sou o teu ombro. Estou ao teu lado. Sentes? Tens de o sentir. És obrigada a isso. Porque tu não queres precisar. Porque tu não pedes ajuda. Não és capaz disso. És uma Mulher forte, repito. E corajosa. E especial. Também o és. Mas comigo consegues permitir-te a abrir a porta ao que sentes por dentro. E eu nem sempre estou perto. Nem sempre. Nem sempre consigo sentir que posso acolher alguém. É uma tentativa de me libertar de qualquer tipo de amarras. Tenho pavor de amarras. Tenho, confesso-me. Não te choca eu sei. Tu conheces-me. Tu vês-me para além do que quero mostrar. Por isso, sempre que escrevo ligo-te. Para que leias em voz alta. Para que eu sinta que sabes exactamente o que escrevi. Gosto da cumplicidade. Gosto de fumar e beber minis enquanto te obrigo a ler várias vezes os meus textos em voz alta. Sou egocêntrica. E tantas vezes, não deixo espaço para ti. Ocupo o teu tempo todo. Com as minhas coisas. Os meus dramas. Sou egoísta. Sou. Já não sei estar sem o teu mimo. Não sei. Peço-te desculpa. Sei que sou horrível. Não sou assim tão especial como me pintas. Não te iludas. Já te disse isso tantas vezes. Eu sou especial, entendes? Mas tu exageras. Creio que sim. Mas se te faz feliz o engano, continua. Eu sempre gostei da sensação de ter um ego pronto a rebentar. E tu quando me elogias e falas de mim como se eu não estivesse à tua frente, fazes-me sorrir. Captas-me como pouca gente consegue. Captas-me.

Portanto, não podes ir. Não podes. E vais lutar. Gosto de mandar, posso? Se te ordenar que lutes. Que lutes e não pares nunca. Podes obedecer-me? Eu faço beicinho. Eu faço qualquer coisa. Mas não desistas. Não podes. Não sei reter os dias, os outros todos, sem saber que posso estar contigo. Que te posso ligar. Que posso receber as tuas mensagens. Que posso ouvir-te a dizer mal do meu afilhado. Ou como ontem, a mensagem que me enviaste a dizer que quando fui embora, ele ficou sentado à porta, como que à espera que eu voltasse. Não consigo admitir a possibilidade de te perder. Portanto, estou em choque. Estou em choque. E estou eléctrica. Eu não posso perder-te. Não posso. Luta. Fica perto e luta. Eu sei. Eu sei que sentes que não valerá a pena. Porque vai doer. E tu estás farta. Eu sei. Estás farta. Mas vale sim. Valerá sempre. A puta da vida vale sempre a pena. Acredita. Porque tu és feliz, não és? Mesmo com toda a porcaria que tem acontecido. Tu és feliz. Disseste-me há dias. És feliz. Tu és. E eu sou o teu amuleto da sorte. Portanto, vai correr tudo bem. Por favor. Não desistas. Eu estou do teu lado. E o destino será outro. Será outro completamente diferente. Ainda vamos ter muito tempo, Sim? Muitas tardes e muitas noites com muita conversa e muitos sorrisos. E com o Gui a atormentar-te e eu a mandá-lo para cima do sofá sempre que o pego ao colo e ele morde-me os dedos. Muitos dias assim. Durante muito tempo. Não aceito outra coisa. Estás a ler-me com atenção? Não aceito! E podes procurar-me para dizer que estás farta. Que não queres mais lutar. E podes chorar. Podes tudo só não podes partir. És-me imprescindível. És. Em tão pouco tempo assumiste esse lugar na minha vida. Portanto, fica perto como tens estado.

Fica e Vive.

terça-feira, 6 de julho de 2010

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gosto de manhãs como aquelas em que o edredão é pele e as horas juravam não passar. o frio de âncora que se enternece à borda da cama. são as manhãs. quero manhãs. de sonolência lenta. de espreguiçar de mãos dadas. de pés que se recolhem noutros e permanecem sem sufoco. sentir o tom do cabelo pelas costas sem frio ou vento. como se fossem o pássaro que eu imagino que pousa na minha janela. e do beijo nas manhãs que sabe a pasta de dentes. na corrida que é levantar cinco minutos antes, beber água, lavar os dentes e acordar o corpo que se esconde ainda por debaixo do edredão. são estas as manhãs para onde fujo quando o stress não me deixa respirar. quando penso que o calor me vai engolir. quando penso que já não sei nada das coisas do coração. porque quero fugir. e ficar horas infindáveis nas manhãs. a acordar quem dorme a meu lado. com a tranquilidade que não assusta a intensidade e se deixa corar de timidez. como as mãos que se tocam a medo porque não podem voar mais alto do que lhes é permitido. e as palavras. sim existem as palavras que se seduzem mutuamente em silêncio quando dois olhos procuram dois outros olhos. e sorriem. o sorriso de quem sabe que deveria fugir mas escolhe ficar. porque ficar é descobrir e gostar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

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Eu costumo dizer que não faço planos. Profissionalmente, não faço mesmo. Não faço e não procuro. É um erro. Eu acho que é um erro. Mas não faço. Nunca houve um plano, nem quando estudava, nem agora que trabalho. Sei que tudo vai correr bem. É o que sei. Talvez o plano seja isto. Outros não são por mim perfilhados.

No foro da vida particular, já fiz planos. Já. Muitos, aliás. Nunca os fiz sozinha. Aconteceu duas vezes. A primeira pouco séria. A segunda, se bem que os planos fossem por mim partilhados de forma verdadeira, eu no fundo sabia que não acontecia o mesmo do outro lado. No entanto, deixei-me ir. Os planos por vezes são sonhos. E os sonhos são projectos planeados. Enfim. Há uma certa associação, creio.

Uma terceira vez aconteceu. Não devia ter acontecido. Existem histórias que são vividas ao contrário. Começam por onde nunca deveriam ter começado. Não são começos limpos. Os planos nunca podem anteceder o viver de uma história. É errado. Surreal. Estúpido. Primeiro começa-se uma história, uma dia de cada vez. Depois sim, os planos fazem-se, se assim for o pretendido.

Da terceira vez, assim não aconteceu. E por tal, mais me convenço que os planos não devem ser feitos. Os planos devem ser realizados sem serem entendidos como planos. Planear é perder tempo. Tempo que poderia ser usado para outras coisas. Portanto, não quero mais planos. Não quero. Ou acontece, ou não. Que coisa. Fazer planos é plantar potenciais desilusões. E eu volto a repetir, que estou cansada. Demasiado. Portanto não quero cá sonhos, planos e outras coisas. Quero viver o que tenho que viver. Sem limitações. De forma partilhada ou não. Ao menos, sozinha sei que as coisas se realizam. Sei que posso contar com a minha coragem, a minha liderança, a minha forma destemida de avançar.

Todavia, não tenho quaisquer dúvidas que o que eu quero será projectado e realizado. Seja algo feito de forma individual, seja de forma conjunta. De uma forma ou de outra, será vivido. Ponto.

Mas a ideia fundamental a reter, é que não vou plantar mais sonhos/planos/desejos. Os que existem, estão interiorizados e não precisam de ser fomentados. Já existem. É o que importa. Não posso é crer na construção de outros. Porque não quero mais desilusões.

Impossível, eu sei.

Eu sempre tive queda para impossíveis. Portanto, é preciso é tentar. Ao menos isso é concretizável.

(R. tu que me conheces tão bem, já deves ter percebido que não era bem isto que eu queria escrever. Controlei-me. Mas consegues ler, não consegues? E entendes? Eu sei que entendes. Não consigo perder mais energia a chatear-me. Não consigo).

quinta-feira, 1 de julho de 2010

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O exame está feito. Talvez não tenha o 16. Se calhar, fico-me pelo 10. Mas enfim, está feito. É o que me interessa. Em Agosto saem as notas. E depois, se tudo correr bem em Outubro serei Advogada. Que posso dizer? Tenho medo. Pavor, aliás. Se há coisa que me enfurece é a possibilidade de falhar. Portanto, não vou falhar. E como combinado em Outubro, esta-fase-maldita-e-chata, terminará. Um futuro brilhante espera-me. É isso. Há que manter esta ideia.

Queria escrever sobre uma coisa que é fundamental em todos nós. E se não é devia ser. Confiança. Ser confiante. Acreditar em nós. Isso e auto-estima. Elevada. Como se fosse explodir. Ou ego. Existem várias expressões. Todas pretendem significar uma única coisa. Acreditar em nós. Mesmo que por vezes, os erros atropelem-se uns aos outros. Mesmo que nem sempre sejamos bem sucedidos. Porque pode acontecer. O confiarmos em nós próprios não vai evitar os erros, os fracassos. Mas no passo seguinte, vamos saber levantar-nos e prosseguir o caminho escolhido. Vai proteger-nos dos outros. E vai impedir que outros tenham em nós um papel mais fundamental do que nós próprios. É isto que é ser confiante. Sim, podem dizer que é como se tivéssemos uma barreira. E que portanto, estamos protegidos do menos bom mas podemos não conseguir receber o bom. Concordo. É verdade. Muitas vezes, isso acontece. E portanto, há que aprender a fazer ginástica. E dar umas cambalhotas. O equilíbrio vai surgir. Não tenho a menor dúvida.

Quando estou perante um momento de stress. Que já está a acontecer ou é eminente. Por exemplo, o exame de ontem. Estava tão mas tão tensa que não sentia os ombros. Não conseguia ouvir ninguém. Isto porque estava comigo. Estava a falar comigo. Em silêncio. (em pequenina treinava expressões em frente do espelho. depois achei que poderiam considerar-me louca e comecei a falar em silêncio). Sou eu que me instigo para a frente do combate. Sou eu que não permito que as pernas tremam. Sou eu que me digo "Tu és capaz. Tu serás sempre capaz. Nada obstará ao teu sucesso. Tu vais em frente e vais conseguir obter o resultado desejado. Eu sei, eu sei que tens medo. Quem não tem? É isso que te vai impedir? Não, não é. Fecha os olhos e segue. Até já". Este é o meu procedimento momentos antes da situação que me põe com os nervos em franja. Seja no foro particular, seja no profissional. Seja o que for, na verdade. Como é que cheguei até aqui? Aprendendo a lidar comigo. Aprendendo as bases da minha pessoa. Estudando-me. Levando-me ao limite. Caindo e subsequentemente levantando-me. Se foi um percurso fácil? Longe disso. Se tem vindo a ser mais fácil? Sim, concerteza. Se é tudo preto no branco? Decerto que não. Se estou preparada? Todos os dias tento estar. E é isto que é crescer em nós próprios. Um dia de cada vez. O dia seguinte com mais segurança do que no anterior. Se acredito que ninguém tem o poder de me deitar abaixo? Acredito. Mas até atingir este patamar, fui duro. Extremamente. Agonizante e ainda hoje aprendo a lidar com a mágoa de diversas situações. Mas consegui. E inevitavelmente o ego está lá em cima. Sou uma Mulher confiante, segura de si e muito bem estruturada. Com a loucura na dose certa e de olhos bem abertos. Fui educada (sobretudo pela minha mãe) e preparei-me durante este tempo todo para Vencer. E portanto, aqui estou eu.