terça-feira, 6 de julho de 2010

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gosto de manhãs como aquelas em que o edredão é pele e as horas juravam não passar. o frio de âncora que se enternece à borda da cama. são as manhãs. quero manhãs. de sonolência lenta. de espreguiçar de mãos dadas. de pés que se recolhem noutros e permanecem sem sufoco. sentir o tom do cabelo pelas costas sem frio ou vento. como se fossem o pássaro que eu imagino que pousa na minha janela. e do beijo nas manhãs que sabe a pasta de dentes. na corrida que é levantar cinco minutos antes, beber água, lavar os dentes e acordar o corpo que se esconde ainda por debaixo do edredão. são estas as manhãs para onde fujo quando o stress não me deixa respirar. quando penso que o calor me vai engolir. quando penso que já não sei nada das coisas do coração. porque quero fugir. e ficar horas infindáveis nas manhãs. a acordar quem dorme a meu lado. com a tranquilidade que não assusta a intensidade e se deixa corar de timidez. como as mãos que se tocam a medo porque não podem voar mais alto do que lhes é permitido. e as palavras. sim existem as palavras que se seduzem mutuamente em silêncio quando dois olhos procuram dois outros olhos. e sorriem. o sorriso de quem sabe que deveria fugir mas escolhe ficar. porque ficar é descobrir e gostar.

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