terça-feira, 13 de julho de 2010

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hoje estou assim. não sei muito bem dizer como. mas estou assim. não queria repetir-me. eu não gosto de me repetir mas faço-o tantas vezes. faço-o porque acho que só assim conseguirei perceber o que tanto repito. então repito-me e sinto-me como se estivesse a dançar. repetir-me é dançar ao som da música que não sei identificar bem qual. mas danço porque gosto e sinto-me mais livre quando o faço. gosto de madrugadas em que danço e que esqueço que a vida é tão mais pouco do que aquilo que desejamos. não, não estou triste. mas estou assim como quem quer ir a algum lado. ou fechar os olhos e dormir. antes gostava mais de dormir do que agora. sinto que o tempo é tão pequenino que não o podemos congelar. e portanto é como se me esquecesse de dormir. não que me esqueça mas faço por isso. mas não, não estou triste. queria deixar-me estar. só isso. afundar-me numa cadeira e ficar ali sem pensar que o tempo é pequenino e pode acabar. estou doce. hoje estou doce e sensível e menina. hoje estou assim de acordo com os meus vinte-e-cinco-anos-mais-um. acho que se falar, a voz arrasta-se. não seria uma voz quente. mas uma voz de mimo. não queria um abraço. não. talvez festinhas pelos caracóis. e colo. que não é bem colo. é deitar a cabeça na barriga ou no peito e receber festinhas. e silêncio. queria silêncio no meio deste cenário. estaria com o meu vestidinho branco com bolinhas coloridas. (quando fico assim dá-me para os inhos). quando estou assim deito-me e mudo várias vezes de posição. e tapo-me e destapo-me. e ponho o vestido mais para cima. e suspiro. suspiro muito. depois olho para o tecto. gosto muito de olhar para o tecto. e abraço-me. nestes momentos abraço-me e sabe bem. gosto de assim estar. às vezes, também leio. e também, fecho os olhos. e lembro-me de leite com chocolate e um queque. lembro-me quase sempre de coisas bonitas. e de sítios que me encantam. de coisas pequeninas e bonitas. sim. quando estou doce e mimalha, sou assim.

mas não posso estar assim. porque não há tempo ou espaço. e chateia-me. chateia-me não poder fazer ou estar como e quando quero. porque não posso sair daqui. não posso virar costas a isto. e depois tenho de ir comprar outra prenda para a mãe e estar no meio de lojas e pessoas. e chegar a casa e jantar e mudar os lençóis. e fartar-me disto tudo. quando não posso ser doce e mimada e deixar-me ficar assim, inicio-me insuportável e furiosa.

portanto, agora já estou insuportável. merda.

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