sábado, 29 de maio de 2010

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Não sei se me recordo muito bem como eram as noites de antes. Não eram tão vazias como a de hoje. Como a de ontem. Não sei. Tenho dormido muito. Porque não sinto vontade de ficar acordada. Não. Essa vontade não existe. Os dias ficam então mais pequenos. Às vezes é bom. Eu gosto. Mas não sei que noites são estas. Já não sei bem como reagir às noites sem ti. Porque de um dia para o outro tu passaste a ser as minhas noites. E agora não estás. Não estás. E eu sei onde estás mas não sei. Porque estás longe. Não em distância. Não. É rápido chegar até ti. Mas não é. Porque de repente tu foste embora. Ou melhor, nunca chegaste ao pé de mim. e ficamos assim, cada qual no seu país e em silêncio. Não sei que fazer deste silêncio que me atira para o vazio que está por debaixo de uma qualquer ponte. não é drama isto. Mas é como me sinto quando fecho os olhos. Como se me tivesse atirado para o vazio. Porque é isso. Estou vazia. Porque de repente era tudo bonito. E agora não. Agora é feio. E dói. E acho que já te disse que estou farta que doa. Não quero mais que doa. Porque há uma dor que me acompanha há tempo a mais. Preciso que entendas isto. É tempo a mais. E eu quero aguentar. Tu dizes que eu sou forte. Mas e se eu não conseguir mais. Porque tu estavas aqui e era diferente. Mas agora não estás. Não consigo parar de repetir que tu não estás aqui. E agora sou eu que tenho medo. Medo de não saber juntar os dias e vivê-los. Sem ti. Porque é assim que eu estou. Sem ti. E choro. Choro enquanto escrevo isto. Choro e oiço a música que postei há minutos. Choro e já nem vejo as letras. Porque é que fizeste isto? Porquê? Não era assim que deveria ter acontecido. Não era. Mas aconteceu. E eu não sei de ti. Tu estás noutra dimensão. E eu não consigo alcançar-te. Não escolhi isto para nós. Não escolhi isto para mim. porque quero combater o cansaço. E não consigo. Mas eu quero. Porque eu sou forte. Eu não sei ser outra coisa que não forte. Não, não sou frágil. Porque não é uma escolha. Nunca foi uma escolha. Entendes? Eu nunca pude ser frágil. Portanto, eu inventei-me. E fiquei assim. E continuo porque tenho que continuar. Porque não me posso ficar. Não posso. E depois as saudades. As saudades podem matar de desgosto. As saudades que tenho. E são tantas que nem sei. Que fazer com elas. Não as posso gritar. E elas corroem. Porque não se vão embora. Eu queria paz, caramba. Era isso. Não este tumulto. Ainda mais quando tu não estás aqui. Que foste tu fazer. Que foste tu fazer. Preciso que me digas se tens consciência do que foste tu fazer. Porque eu acho que tu não sabes. Não podes saber. Senão não farias nada disto. Eu sei que não farias. Mas fizeste algo pior. Deixaste-me com o silêncio nas mãos. E eu agora nem as consigo fechar. Porque é o silêncio e o desespero e as saudades. E não sei lidar com isto. Não sei. Não quero. Não quero. Entendes. Tens de entender. Não quero. Pensei que se podia aprender. Eu pensei que eu poderia aprender a saber lidar com esta ausência que me atira para debaixo da ponte Mas não sei. Então como não sei, vou caminhando. Alguma coisa há-de ser. Não é? Alguma coisa há-de ser.

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