quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

.13

Tenho fé. Mesmo que a forma em que a mesma se manifesta não seja a mais clara. e não deixe de ser dúbia. porque até o é. Tenho fé. que este ano de massacre seja relembrado para que não seja repetido. tenho fé. que dentro de mim existe um caminho a percorrer e que vou ser bem sucedida. não sei quando. mas irá acontecer. isso sinto. Tenho fé que esse trajecto se inicie em 2010. é o ano em que deposito as minhas energias. vou fazer para que seja diferente. porque na verdade não tenho outra escolha. Eu preciso de me salvar. Ninguém o fará a não ser eu própria. Sempre fui eu própria a fazer o que quer que fosse. Podemos apreciar os outros na nossa vida. mas só nós podemos agir. só eu me posso curar. salvar. mais ninguém. eu. 2010 será o ano da cura. o ano em que eu irei rejuvenescer. porque isto assim não é vida. é revisitar o passado. é relembrar-me como alguém que falhou perante quem não podia falhar. falhei-me. e isso não pode voltar a acontecer.

(Portanto, não é a pretensão de me fazerem feliz que irá resultar. não é apresentarem-se como alguém que não são. não é prometerem um mundo que não é vosso. não é apresentar o amor como um presente fácil de abrir. como que dado de bandeja. porque ao mínimo sinal de exagero. de superficialidade. de desdenho pelo sentimento. eu fujo. porque eu não acredito. portanto, na verdade não é algo pessoal. mas da incapacidade que eu estou a tentar resolver, que está lado a lado com medo. e o susto. o amor está num pedestal. não é uma coisa qualquer. não é transmissível porque sim. ou porque hoje acordei bem disposta. o amor traz o peso de ser único. é isso que o diferencia relativamente a outros tantos sentimentos. portanto, não ousem impingi-lo com publicidade enganosa. não ousem porque tem o efeito contrário. o amor em mim é um luxo. portanto, parem. em 2010 parem. porque eu não pensarei duas vezes em ir embora. sem olhar para trás.)

Um ano fenomenal. Para mim. e para vocês.


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

15

Não me poderia doer menos. É o que constato.

Não me poderia doer menos, o ter estado a teu lado. Criando um forte para nós. Desfazendo os meus nós em prol de algo maior. Porque tu eras algo maior. Ou pelo menos, era como te via. Ou como te observava. Mesmo quando nada fazias. Sim. Não soube acautelar os danos. Espera. A verdade é outra. Convenci-me que por mais danos que existissem, eu seria capaz de tudo. Por algo maior, repito. Por nós. Pelo Amor. que humedeceste no meu peito. Que fizeste crer verdadeiro. Mais do que a verdade imposta, o que se sente. Em que dia do ano é que paraste de sentir. Em que minuto esquecido paraste o teu coração.

Diz-me.

Ou que de forma leviana me retiraste de ti. Ao ponto, de um caminho a sós contigo ser melhor alternativa (devassa) do que lutar numa batalha que eu iniciei por te acreditar. Por me acreditar capaz de ser a tua pessoa. Aquela que nas noites em que as lágrimas te venciam, dizias ser a única que um dia te poderia fazer feliz.

Que preço teve tudo o que coloquei na tua campa. No dia em que não tive medo de dizer que tinhas morrido. Porque alguém teria de te matar. Enforquei-te eu. Para que te engasgasses com as mentiras que deixaste na minha cama.

Certo dia lembraram-me. Que do amor desperdiçado nasce aquele a quem ninguém ousará cortar as amarras.

E se essa não for a minha resposta?
Se do amor desperdiçado apenas cresce o ranço do que encerrei aqui no dentro.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Parcialmente copiado daqui

10 musicians/bands you love (no order):

1. Rodrigo Leão
2. The XX
3. Fiona Apple
4. Massive Attack
5. Muse
6. Tegan and Sara
7. Florence and the machine
8. Placebo
9. Feist
10. kings of convenience


9 things you do everyday:


1. dormir
2. fumar
3. beber café
4. ouvir música
5. comer
6. tomar banho
7. conversar
8. falar ao telemóvel
9. ver e-mails


8 things you enjoy:

1. esplanadas
2. palavras
3. beijos na boca
4. massagens nas costas
5. café com cheirinho
6. fumar a meio do jantar
7. dormir
8. ouvir música no caminho até casa


7 things that will always win your heart:

1. empadão da avó
2. o melhor bolo de chocolate do mundo
3. brunch numa esplanada em dia de verão
4. sorrisos
5. noites de sábado debaixo da manta a ver filmes
6. amigos
7. eu


6 favourites:

1. I know - Fiona Apple
2. Estação de comboios de Santa Apolónia
3. Londres
4. cheiro da pele depois do banho
5. coca cola com gelo e limão
6. cookies de caramelo do café Nero


5 smells you enjoy:

1. cappucino
2. pipocas
3. waffles
4. gasolina (lol)
5. segurelha queimada


4 places you want to go:

1. Itália
2. Paris
3. Praga
4. Áustria


3 holidays you love:

1. 8 de Dezembro
2. Ano Novo
3. Páscoa


2 people you’d marry on the spot:

1. hmmm. Casamento de conveniência com o C. e com o R. (um de cada vez. pagar-me-iam pensão de alimentos e quando ambos falecessem eu tinha direito à pensão de reforma deles :P)
2. Ou com a J. (quando o casamento foi permitido em Portugal)

(agora a sério: com ninguém.)

1 wish for 2010:

1. Agir com precaução.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Cemitério de Raparigas - 1

"Se vejo uma rapariga a apaixonar-se por mim, tiro logo a conclusão acertada: “Olha que pena – mais uma que deixou de gostar de mim.” Faço tudo para dissuadi-la e fujo, mesmo que não seja preciso. É que as pessoas primeiro apaixonam-se, depois amam e, não tarda nada, começam a querer ser amadas também. Porquê? Que não lhes satisfaça só gostar, ainda percebo. Agora que não lhes chegue amar… é inaceitável. Para este género de pessoas, a ingratidão e a gula não têm limites. Quando sofrem, culpam-nos. E, pior ainda, quando estão felizes, atribuem-nos a responsabilidade. No fundo encostam-nos à parede, como quem diz “Estás a ver? Tudo depende de ti.”
Quanto menos depender de mim, melhor para todas as partes envolvidas. Só há uma coisa preferível a ser independente – é ninguém depender de nós.”


Miguel Esteves Cardoso


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

G




I should have stopped your from walking out the door.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

14


Fechas a porta do quarto à chave. Como se quisesses diminuir o ar que chega do outro lado. Dizes que a janela entreaberta é a única ligação que precisas de ter com o mundo. Porque eu não sou o mundo. Sou mais do que o mundo. Sou um aqueduto antigo que liga uma cidade a outra. Sou especial porque fiquei. Como os monumentos mais antigos.


- É isso, és especial porque de tudo o que partiu, tu ficaste.
- Porque quis ficar.
- Mas nem sempre fazemos o que queremos. E é nisso que eu admiro-te. O teres cumprido até ao fim a tua vontade. De ficares a meu lado.
- Cumpri-me a mim ao permanecer aqui.
- Mas o mundo não morreu. Sabes isso, não sabes?
- Sei. E se morresse e eu não desse conta, faria de mim uma má pessoa?
- Não, não. Podes esquecer-te de coisas importantes. Não podes é desfazeres-te sem delas te recordares.

Vivíamos naquele quarto. Menos horas do que lá fora. Para lá da porta fechada à chave. Saíamos de manhã, como todas as pessoas. Mas só olhávamos em frente. Não reparávamos em mais nada. Nem falávamos. Não. Existiam coisas que só fazíamos dentro daquele quarto. Porquê. Porque escolhemos assim. No trabalho ninguém sabia da outra nossa vida. Do desprezo quase que mecânico pelas restantes coisas. Haviam amigos. Não nos visitavam. Ninguém sabia onde morávamos. Ninguém tinha de saber. Fosse num palacete, fosse numa barraca. A nossa verdadeira morada pode ser secreta. Pode ser o único segredo a viver escondido. Sim, não é fácil de entender. Não o fizemos para ser fácil. ou diferente. aconteceu. Existem coisas que acontecem do nada. sem premeditação. há quem já não acredite nessa possibilidade. nós acreditamos porque foi o que nos aconteceu. foi bonito. por ser algo nosso.

- Hoje cozinhei.
- O quê?
- Tenho de te vendar os olhos. Hoje sou eu que te alimento.
- Não sei. Não insistas quando te digo que hoje é dia de abrir os olhos.
- Não insisto. Mas preciso que os feches.
- Porquê?
- Para melhor saboreares o que te dou à boca.

Decerto que não esperaria ficar tanto tempo. Foi uma surpresa. O tempo permitiu-se nosso. É raro quando isso acontece. O tempo nunca cede. Não oferece nada a ninguém. Connosco aconteceu. Todos os dias avanço mais um dia no calendário. adio a ida. porque haverá uma. eu só não quero que ocorra já. faltar-me-ia o espaço permanente. os dias dos olhos abertos em que teimosamente me alimentas. ou aqueles em que te ancoras em mim porque só assim consegues caminhar de um dia para o outro.

- No fundo, acredito que já não saberia estar aqui sem ti.
- E eu do outro lado de fora. sem ti.
- Sabes-me bem. mesmo quando não te sinto.
- idem.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

13

A escrita desencaminhou-se dos meus dias. a sensação de "Porra. tu até escrevias coisas engraçadas." assenta no pensamento, sempre que quero escrever. o querer molestou a escrita e abandonou-a num impasse. era o não querer. o ser tão simples o alinhamento das palavras, que me fazia escrever. agora eu quero, logo não o faço. pelo menos de forma a me reconhecer. a encontrar espaço para me sentar no meio das sílabas e fumar um cigarro à espera que o circuito se retomasse geometricamente.

assim, in casu, o melhor é tentar deixar de inventar. ou re-inventar. ou esquecer a força do querer.

Até já.


Sabe o que me tem apetecido? Escrever-lhe. Cartas. Verdadeiras cartas. Claro que teria de primeiro escrever no computador e depois passaria para o papel. deixei de sentir apego a folhas em branco. razão pela qual colecciono cadernos vazios. o vazio faz-me sentir mais completa. como se outras histórias estivessem para acontecer. com a consciência que no fim dos dias, o vazio pode mais facilmente ser o espelho da alma.


Mas sim. Havemos de arranjar uma morada só nossa. Para onde eu possa enviar as cartas. acho que a força deste querer acaba por ser mais facilmente concretizável. do que outros que por aqui andam.





sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ida e volta.



Londres, a cidade escolhida para eu fugir por uns dias. Desencontrar-me e encontrar-me. Dizem que no frio é mais fácil. Eu acredito dentro da pouca fé que ainda existe.

Na inércia da despedida, a ilusão de que tudo estivesse diferente ao meu regresso.

Até já.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

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Pergunto-me: Existiu algum momento em que as coisas foram fáceis?

25 anos. Cheguei ao mundo real aos 16. Já aqui estou há 9 anos. Não me lembro de ter atravessado o que quer que fosse de forma facilitada. Lembro-me bem dos pedregulhos no caminho, dos sinais proibidos, das curvas nauseadas, das palavras invertidas, das vezes em que pensei desistir. Mas não me recordo de alguma coisa ter sido realizada sem o peso. de forma leve, calma, em paz comigo e com quem iniciou algum trajecto comigo.

Estará a chegar ao momento, em que tenho de assumir que a culpa é minha? Que fiz tudo ao contrário? Que dificultei o fácil por menosprezar o que me é dado sem obstáculos? Acaso, a resposta seja afirmativa. Como voltar atrás? Ou melhor, como desenhar novos trajectos. Como aceitar sem questionar? Sem acrescentar nós? Como dar o passo sem pestanejar? Não sei. Nunca o fiz. Duvido da minha capacidade para mudar. Duvido que se assim o fizesse, continuaria a ser a mesma pessoa. Logo eu, que sou quase-perfeita.

Terei perdido eu a capacidade de me deixar surpreender pelas coisas bonitas da vida? Já estive mais longe. Isso eu sinto. E sei-o.


Mas não, de uma forma ou de outra, eu nunca serei um caso perdido. Serei mais como um tesouro daqueles já raros no meio de um oceano qualquer.

Got it?


domingo, 29 de novembro de 2009

F




Enquanto houver estrada para andar...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

.11

Pensamento do dia,
de mim para mim:


Uma vez pode ser engano, ilusão, má percepção das coisas. Duas vezes é burrice.

Devias ter sabido melhor, Narcisa.

Strike two. Agora tens dez anos para não te foderes a ti própria, uma vez mais.


P.S. Para quem acha que eu sou implacável, desumana, insensível - Eu também sinto. Eu também sofro. And fuck you too.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

.10

Os dias tem amanhecido de forma diferente. O cansaço é apenas físico. Já não mói. Já não me faz querer invocar que as horas sejam mais pequenas e que terminem no mesmo instante. Não, os dias agora são outros. O stress fica apenas no trabalho. Mesmo que termine a horas para mim já tardias. As manhãs, as noites e as madrugadas agora têm outra voz, a tua.

É bom ter-te comigo. Mesmo que a nossa teimosia, por vezes, nos faça esquecer o que nos une. O que nos faz querer ficar aqui.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

.9

Existem dias de nevoeiro interior. De frio ancorado nas mãos como que a anestesiar a revelia de passos certos. Das noites de onde nascem estes dias, crescem-me nós. nós de permanência robusta sobre os fios gastos do meu coração.

Já te espero em qualquer lugar desta cidade. No caminho adormecido para o escritório. Enquanto fumo à janela. Nos leves minutos que antecedem o sair da cama, como se o teu corpo baixinho me dissesse para eu não ir ainda. porque a noite não foi suficiente para matares as saudades todas. No final do dia, por ser a altura em que melhor me sabe respirar fundo, procuro chegar até ti. Para que finalmente a minha boca possa confundir-se na tua. E reconheças o espaço em que me situo como imprescindível ao teu bem estar.

Estou a começar a caminhar. Estou quase a chegar.
E tu?




segunda-feira, 19 de outubro de 2009

12

E se um dia eu não souber reconhecer o som inócuo que o coração faz quando se abriga num outro.

Se eu não souber aceitar um gesto teu por achar que todos os gestos estão contaminados e não são puros. Gratuitos. Sentidos.

Se eu duvidar de todas as palavras que encabeças na tua bocas. Por já me dizerem tão pouco. Por tantas vezes, terem sido objecto de repetição e falsidade. Pelo seu uso impróprio. Por estarem de tal forma gastas que me soam a vulgaridade.

Se não souber aceitar quando me pedires em namoro porque estarei convencida que o fim está para breve e não valerá a pena o encetar de algo mais sério. Porque o fim está para breve, entendes?

Se eu tiver um ataque de raiva no momento em que disseres que é amor o que sentes. porque o amor passou a ser apenas um jogo que todas as pessoas, em alguma altura jogam, ou pensam que jogam. sendo apenas um círculo vicioso onde se amontoam os participantes, os gestos, as palavras. tudo se repete. o amor deveria ser aquela estrada que nunca está perto de estar terminada. porque existem sempre pormenores a rever. melhorias a efectuar. mas não. o amor é a IC 19 ou a 2º circular em hora de ponta.

Se todos estes "se" se concretizarem, não me odeies. não desfaças o que valor que tenho. não dramatizes. nem penses que é algo contra ti. ou contra o que dizes que se move por dentro de ti. porque não é. só preciso que saibas que por mais que eu tente combater esta reminiscência do que está para trás, não consigo. moldou-se. aniquilou qualquer semente que o amor poderia fazer nascer em mim. porque o amor deixou de ser o amor. passou a ser uma das estradas que percorro quando preciso de ir ao IKEA.

Se.


quinta-feira, 15 de outubro de 2009

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"You don't recognize the biggest day of your life not until you're right in the middle of it. The day you commit to something or someone. The day you get your heart broken. The day you meet your soul mate. The day you realize there's not enough time because you wanna live forever. Those are the biggest days.. the perfect days."


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

.7

Desgastei-me neste chão de incoerências. Sou-me de uma violência feroz. Destemida. Quase que eloquente. Sou-me ainda nesta travessia pelo Tejo. Por entre os restos dos dias, no meio de pessoas, processos, aquedutos antigos de palavras.

Ainda me consigo rir como uma criança e aprendi a melhor amar nas pequenas coisas. Nas que por pouco interpretamos como insignificantes. É aí que encontro o meu recobro do amor.

Por vezes, esqueço-me de como é bom ter quem nos dê a mão mesmo que não o peça. Mesmo que me convença que sozinha irei vencer. É bom saber que o bom que guardo é tão devido àqueles que são o meu círculo de aço.

Por me relembrarem o que sou e de que sou feita. A vocês um obrigada.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

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A verdade é que eu vejo-te. Ao contrário de ti, que vês-me a teu lado e não notas. Não notas como eu poderia ser mais na tua vida. Depois de tantos anos, continuas a não notar.

A tua falta de atenção irrita-me. Se tivesses atenta, saberias.

Eu poderia abrir o jogo, claro que sim. Poderia fazer tanta coisa. Mas este é um campeonato que eu vou sempre perder, portanto, não me arrisco.

By the way, és mesmo estúpida.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

11



24 de Abril de 2008

Esqueci-me de te dizer que comprei as passagens para Paris. Esqueci-me de te dizer que era a tua prenda. Que finalmente tinha juntado dinheiro suficiente para concretizar a viagem à tua cidade. Esqueci-me de te dizer que durante meses tive flashes dos nossos dias por lá. As avenidas. A torre. Os museus. As baguetes em sacos de papel. Os capuccinos caríssimos numa esplanada com vista para o Sena. Nesses flashes cheguei a tirar-te imensas fotografias enquanto percorrias com a ponta do dedo, o roteiro que tinhas preparado para quando um dia visitássemos a tua cidade. Repetias o nome dos sítios em voz alta. Sorridente e frenética. Era assim que te imaginava. Era assim que estarias. Porque era o teu sonho. Ou um dos muitos. Mas aquele era especial. Tinhas sido feita em Paris. Com amor ou pouco amor. Num momento de loucura em que o teu pai levou a tua mãe numa viagem de carro pela Europa. Mas foi em Paris que foste feita. De madrugada, num passeio que começou na praça Chatelêt e acabou numa pensão reles da cidade que entretanto já não existe. Um dia disseste-me: antes tinha de lá ir sozinha. Agora é contigo que quero ir. Foi do amor que os meus pais deixaram em Paris que eu nasci. Poderia ter sido em qualquer cidade. Mas foi em paris. Quero levar o nosso amor a passear. Entendes? – e eu dizia que sim. Que entendia tudo o que tu dizias.

Trazer-te Paris numa passagem de avião seria mostrar-te que eu te entendia. Que iria contigo para qualquer lado. Que se não fosse o amor que ficou em Paris tu não terias nascido. E eu não poderia imaginar que um dia teria de atravessar as pontes da minha existência sem ti.

Nos últimos dias dizias-me que não demorarias muito a partir. Que sentias que estava para perto. Que eu teria de aprender a deixar-te ir. Porque a vida e o amor também eram isso. Saber como fazer as despedidas mesmo que o adeus fosse apenas uma palavra que carrega no seu ventre a viagem de quem não regressa. Sempre achei que teríamos tempo. Tempo que desse para encher os que não viveríamos em conjunto. Tempo que desse para eu dizer que não te tive a vida toda mas foi como se tivesse tido. Sempre acreditei que esse tempo existiria para nós.

Tinha as passagens na mão para irmos visitar a tua cidade. Ia entregá-las a ti. E ficaríamos madrugadas inteiras a ler o teu roteiro e a fazer planos. Como se existisse espaço para o fazer dos planos.

Foi nesse dia que recebi a chamada de alguém que ousou dizer:

Ela morreu enquanto esperava por ti.

Tu morreste enquanto esperavas por mim. Porque eu tinha-te dito que tinha uma prenda para ti. Portanto, tu estavas á minha espera. E eu não cheguei a tempo para te levar a Paris.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

10



Acusas-me de já não conversar. De já não te olhar nos olhos e debitar palavras atrás de palavras. Porque é uma das minhas características. O gostar de falar. É coisa que raramente me cansa. Mas agora falo pouco. olho-te pouco nos olhos. e ocorre-te pensar que já não sou eu que estou ali à tua frente. se calhar não sou eu. acontece-me, diversas vezes, no enrolar do meu dia respirar fundo. fechar os olhos e ver-me no meu quarto. de estores fechados. de corpo fechado. de alma erguida pronta a ser esfaqueada. como se qualquer tipo de morte estivesse prestes a recolher-me. para qualquer sítio que não este. porque este já me é demasiado. duro. espesso. acutilante. Não me acresce aqui um tom depressivo. não estou prester a sentar-me na cadeira para fazer psicoterapia. não. eu sei o que a vida é e como ela corre. não quero morrer. não obstante, tantas vezes procuro nos meus olhos a minha presença. a energia. o fogo. a bravura. o desafio. procuro-me incessantemente para me acordar deste escuro que não é meu mas que está em mim.


Prefiro que não me olhes. Que não me vejas. que não tentes decorar os meus movimentos. as minhas angústias. a forma como me encerro nos dias. porque não vale a pena. entendes? por ora, não vale a pena. o teu apoio. a tua companhia. o teu braço colocado sobre os meus ombros. as tuas palavras de conforto. o teu ânimo. o reboliço que fazes quando chegas a casa. ou eu chego a casa e recebes-me cintilante. por isso te digo, não vale a pena. o esforço. a paciência. Esta doença não começou contigo. não é algo teu. ou que eu possa partilhar. nem sei se será algo inteiramente meu. se fui eu que provoquei o diagnóstico. Se desprezei de tal maneira o mundo, que ele acabou de arranjar forma de me esquecer. não é tua esta luta. mesmo que os teus beijos me soem a paz. efémera mas paz. e por tal, significa algo. mas. mas não sei se irá acontecer o dia em que me venhas a reconhecer de novo. como tua. como manhã desprotegida de primavera. ou como manta esquecida pela nossa cama enquanto nua ponderas a roupa do próximo dia.

não sei. e como não sei, não te posso pedir para que fiques.



domingo, 20 de setembro de 2009

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Dear Leonard. To look life in the face. Always to look life in the face and to know it for what it is. At last to know it. To love it for what it is, and then, to put it away. Leonard. Always the years between us. Always the years. Always the love. Always the hours.


Arrepio.
Esta última cena, deixa-me sempre completamente. Ausente de mim. Perdida do mundo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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O meu assunto favorito sou eu. É viciante, arrisco a dizer. Gosto de me expor a limites. Gosto de me ver a vencer. Se perco, arraso-me. Portanto, prefiro sempre as vitórias. Não obstante, nunca me recuso um desafio e uma luta. Tenho sede de me ver a crescer nos dias. Nas pessoas. De conseguir sempre um pouco mais de espaço e de tempo.

Reconheço em mim uma apetecência. Queda. Atracção. Por pessoas comprometidas. Ou melhor, reconhecia. Existia uma razão. Duas. A primeira é óbvia as pessoas comprometidas acabam por ser mais interessantes. E aqui, refiro-me aquelas comprometidas com outras pessoas. Ou com elas próprias. Há dos dois tipos. Ambos cativantes. Mas vamos-nos concentrar no primeiro tipo.
A segunda razão, explica-se com a alergia crónica que durante anos mantive sobre as relações. As amarras. O compromisso. A responsabilidade. A lamechiche. A partilha. Rapidamente cheguei à conclusão (devia ter uns 18 anos) que não era, de todo, vida para uma menina como eu. Durante estes últimos anos, estive quase sempre com alguém. A maioria reconduzem-se a entusiasmos. Uns engraçados. Uns enfadanhos. O prazo limite que se me impunha era de um mês. Era tempo suficiente para me enjoar. Ou para se enjoarem de mim. Entre os entusiasmos contam-se alguns com pessoas comprometidas. E aqui inclui-se os meninos, para dar uso aos meus 2% de bissexualidade. Atenção, bissexualidade e não heterossexualidade. Há que tingir a diferença.


O compromisso da outra pessoa era a desculpa ideal. Ser a outra pode ser muito bom. é mais intenso do que ser a amiga colorida. e é menos obrigacional. e mais pecaminoso. Imoral. Tem a sua piada. Chega-se a um ponto em que a nossa consciência corrompe-se. E não se pensa em mais nada. Estamos ali por alguma razão. A minha foi sempre uma. Divertir-me sem amarras. Com alguém que não pudesse sequer exigir o que quer que fosse. O ser infiél. Bem. Esse pode ter várias razões para ter um affair. Eu associo sempre a insegurança e cobardia. Ou talvez também um pouco de falta de consciência. Comer fora de casa pode ter a sua piada. Mas se ajudarmos a fazer o jantar, ficar em casa tem os seus prós. Eu que já me relacionei com diversas pessoas infieis, descrevo-me como alguém completamente contra a infidelidade. Eu não sou infiel. E é por essa razão, que só assumi dois compromissos na minha vida. Relaciona-se com a minha forma de ver as relações. Os sentimentos. A seriedade que me é imputável quando assumo alguém na minha vida. Com a credencial que é alguém para ficar. Para permanecer. E aqui, entram os valores de respeito, de protecção, do cuidar e do Amor sedimentado na paixão. Portanto não, eu não aceito a infidelidade como raiz crescente na minha existência. E muito menos, a deslealdade. Por isso, tantas vezes, me condeno à vivência solitária comigo própria. Não tanto pela segurança que isso traz, ou um chamamento à protecção de mim própria. Não é a solidão que me protege. Ou acautela. Isso sou eu que provoco e concretizo. A solidão aconteceu de forma natural, muito antes de sentir qualquer apelo pela carne ou pela emocionalidade. Hoje permanece pela tão já falada descrência nas pessoas e relações. Pela exigência que os anos me têm trazido. O pouco deixou de me bastar. E o muito que acontece, fica abaixo do que quero para mim. Isto tudo por causa do meu tão escondido romantismo idealista. Se não o tivesse, conseguiria viver melhor em comunidade. em intimidade. os passos seriam mais leves. As pessoas, as escolhidas poderiam não ter tanto peso. E assim sendo, a solidão toma o seu lugar. e eu cada vez gosto mais desse recanto. E talvez então, foi daí que nasceu o vício de mim. O narcisismo com um quê de arrogância.

A apetência por pessoas de outras pessoas e aqui sem qualquer sentido de posse ou propriedade, cessou-se, com todas os seus efeitos e consequências, quando o desejo de ser a principal se protelou na situação fáctica de ser a outra. E como se diz, a outra será sempre a outra. Salvo raras excepções, que existem mas nunca se vislumbram como regra. No meu caso não aconteceu. Embora, existissem sinais (ou melhor, manobras manipuladoras) de que estavamos perante uma história de amantes trocados à nascença. A partir do momento, em que a situação muda. Em que deixa de ser pele, corpo, sexo. E tudo passa a ser povilhado de outros meandros. Uns dias com um cariz mais doce. Outros com um cariz devastador. Esse é o momento em que a situação morreu. E o funeral deveria ser organizado com urgência. Certa altura pensei escrever um livro. Um livro que seria composto por frases clichés entre o ser infiel e a outra. Aqui poderiam-se compilar as seguintes frases:

"Já não sabia o que era ser feliz até te encontrar".
"Tu és a mulher da minha vida. Tu."
"Eu sei que isto é errado mas não consigo fugir."
"O que mais quero é iniciar uma nova vida contigo"
"O meu corpo já só responde ao teu"
"Quero tudo contigo"
"Se te perder, condeno-me a ser infeliz o resto da minha vida"
"Não haverá mais ninguém depois de ti"
"Vamos fugir?"

Estas são as frases típicas dos infieis. E são verdadeiras. São ditas e são ouvidas.

E obviamente, são palavras cobertas de ilusões. Passos calculados para que a outra não desista do sonho de ser a principal.

Sim, é tudo um jogo. E só se safa quem souber as regras. Um dia escrevo um manual. Bastou-me ter perdido o jogo uma vez, para saber todos os caminhos que devem ser evitados. É preciso saber interpretar as jogadas. As palavras. O corpo não. Esse rende-se facilmente. Tudo começa por aí. Pela falta de atenção, pela falta de sexo, pela falta de mimo. Há sempre falta de qualquer coisa. Mas as pessoas não querem falar. Nem dialogar. Nem dar o braço a torcer. Ou assumir um comodismo que tanto tem de rotina como de assombração. Então iniciam uma traição. Porque apesar de tudo começa por ser o caminho mais fácil. E só quando a bomba explode, é que o arrependimento nasce. Ou a negação da traição. Sim, é logo a primeira da lista. E não esquecer, se se nega uma vez nega-se para sempre. Porque os infiéis são sempre as vítimas. Sim, é verdade. São os que sofreram. Sofreram muito. Mesmo no meio de uma foda, de um orgasmo, de um beijo. Sim, sofrem sempre. Mesmo quando compram um perfume à outra que é igual ao delas, tudo para despistar diferentes cheiros quando chegam a casa.

É como digo. Um dia escrevo um manual. Pode ser que ajude alguém. Nem que seja, para que as outras deste país acordem para a vida.

Votem sim, no Partido das outras não reincidentes.

Olé.


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

9

Lembro-me vagamente da nossa história. A sua pouca duração faz-me esquecer como foi uma história bonita. De pouco teve de delicada ou evasiva. Era salpicada pela intensidade e pela noite lisboeta. Recordo-me do espaço que nos acolheu. Da estante ilustrada que se amontava de palavras. Do elevador que me assustava. Da janela decorada com os estores branco sujo. Donde se via a publicidade que era verde e enorme do banco Bes envaidecida com a cara de Ronaldo. Guardo com maior densidade a dança até ao primeiro beijo. A guerra entorpecida entre as nossas mãos e a roupa que teimava em não sair dos nossos corpos. A queda vista com lentidão acentuada entre o desejo e a tua cama prostada sobre o chão de madeira do teu quarto. Havia um chá frio que entretanto deixei de beber. Penso que seria chá verde com limão. Contei-te que guardei a primeira garrafa aberta no nosso primeiro encontro? Talvez não. Entretanto, quando mudei de casa deitei-a fora. Achei que era a altura ideal para fazer um branqueamento do passado. Como se o mesmo pudesse, num piscar de olho, desaparecer porta fora da minha vida.

Do auge da nossa história, recordo-me das madrugadas em que líamos palavras uma à outra. Foi daí que ficou esse gesto. De tão bonito que nasceu, tão ilustre que permaneceu.


Ficaste memória já que o nosso presente não nos acolheu.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

8



Tens dois dias para escolher em que sítio do meu corpo queres permanecer. Não te posso ceder mais tempo para que chegues a uma conclusão. Para que com certeza chegues a uma resposta. Decerto, entenderás que eu urjo nesta vida, não obstante, tantas vezes me pautar pela lentidão dos passos. Portanto, é tempo de nos situarmos num espaço temporal, paupável, sereno.


A indecisão é algo que me aflige. Provoca-me dores que ao não serem físicas por cá ficam mais do que deviam. Não gosto do esboço cinzento quando tudo se apresenta entre a simplicidade de um branco e de um preto. é na aparência da simplicidade que melhor as escolhas se fazem. Se começas a questionar os pormenores então é porque talvez o que desejas e queres não encontrará a satisfação na certeza de uma só escolha. Existirá sempre a ponta inicial de um extravio, de um abrir de outro tipo de oportunidade. Se é neste ponto que te encontras então é porque não estás preparada. E se não estás preparada então a tua escolha deverá ser o cinzento. e então, nesta sequência o meu corpo não poderá estar à tua disposição.

Tens dois dias. Em dois tanto se pode morrer ou nascer. Se toda uma vida pudesse ser percorrida em apenas dois dias então saberíamos que é muito tempo. e o tempo na escassez de infelicidade que se vive hoje, não pode certamente ser desperdiçado.



quarta-feira, 9 de setembro de 2009

.3



Eu sei. Sou uma chata. Respondo mal. Digo palavrões. Fervo em pouca água. Há sempre alguma altura do dia em que fico insuportável. Sou instável e tenho mau feitio.

Sim, eu tenho plena consciência sobre o que tenho de bom e de mau. Por isso, consigo dar-te razão.

Também sei que discutimos muito e que somos muito diferentes. E que tu és calma e eu sou velocidade. E que tu queres mimo e dás mimo e eu quero mimo e não dou mimo. Sei que tens sido melhor amiga do que eu. Que ofereces-me massagens e festinhas e eu quando tu pedes, digo-te logo que hoje não. Pois, o egoísmo que começa a nascer de novo em mim.

Depois também sei que passamos por fases parecidas. E que crescemos e que gostamos de partilhar o que vivemos. Já é rotina ligarmos uma à outra para dizermos um simples "oá". E se não ligamos ficamos sensíveis e irritadiças. Tanto eu como tu e não vale a pena negar este facto.

Outra das coisas que também sei é que adoro quando cozinhas para mim e quando fazes aquelas expressões de criança espantada com as traquinices do animal de estimação. Eu sou bicho mas não de estimação ou doméstico ou qualquer outra coisa. Ou quando fazes birra e dizes para eu me calar porque já não me podes ouvir. ou simplesmente quando eu digo algo que te envergonha e aí de novo dizes para eu me calar. E também gosto quando ficas chata e eu impaciente mas acabo sempre por te aturar mesmo que rapidamente deixe de te ouvir. O teu problema é que és mesmo boa pessoa e querida. E tu sabes. eu quase sempre sou o oposto das pessoas queridas, embora até seja querida mas não é uma coisa minha. percebes? eu sei que sim.

Claro que isto não é um texto para ti. é mais do tipo, o e-mail de resposta adequado ao teu e-mail de ontem.

és a minha nova melhor amiga e eu gosto de ti.

mesmo quando faço tudo para não o demonstrar. eu sou assim. ou melhor, talvez tenha ficado assim. ainda não sei bem.

Pronto. é isto.



terça-feira, 1 de setembro de 2009

7

Vestes-te de silêncio. Como se fosse o vestido que melhor se adequa a ti. Ao teu corpo que é de Verão mesmo nas manhãs de Inverno.

Disputas a minha atenção, sempre que, por minutos te troco pelas palavras. Ensaias danças com passos incertos em que por gestos leves desnudas um pouco de perna, um pouco de ombro. Se me visses contida no olhar, despias-te e encenavas um amuo suave e discreto.

A partilha entre nós sempre foi hesitante. Não é fácil passear pelo meio de tantos muros e esboços de vidas passadas, não é fácil olhar com atenção e desdém para essa cidade de abandono, com olhos de turista que reparam pela primeira vez em algo inédito.

Por detrás dos ombros, já testemunhamos tantas viagens. Já fomos outras tantas pessoas. Corpos. Mãos. Almas. Corações distorcidos de amor. Não, não é fácil esquecer o cansaço e o desencanto do fatídico passado.

Mas também não será dificil deitar a minha cabeça sobre o teu peito e perceber o que ainda palpita. Do respirar de que se faz um beijo, ainda tão neutro e puro como os primeiros. Não, não é dificil sentir a surpresa do caminhar dos teus dedos pela palma da minha mão e do quão bonito são as nossas mãos entrelaçadas.

Deixei de saber calcular os perímetros ao nosso redor, quanto medem os medos, quantas são as inseguranças que se encadeiam de vazio. De quantas vezes cheguei à entrada da tua casa, pensando ser a minha. Confundo as ruas, os nomes das cidades, confundo tudo até chegar perto de ti. Seja o teu espaço, seja o meu. No encontro da nossa independência, existe um caminho interrupto e privado. Um monte de terra batida pronto a ser habitado por nós.

É isto que te quero dizer hoje.

Veste-te de silêncio que eu fico com o casaco pesado das palavras.
As cortinas são feitas de muros negros pautados por um rasgo de luz que nasceu por nós.
Sou uma aprendiz da vida, ainda. Pudera o cansaço e o desencanto me fazerem mais crua, mas o tempero do que tu me trazes, faz-me ser mais serena nestes dias.

Tens a capacidade de me fazer perder o comboio do passado. E é dessa forma, tão singular e única como uma tela, que me compões a visão do que ainda está para chegar.

E





I am on my feet to find her,
to make sure that she is safe from harm

sábado, 29 de agosto de 2009

III - Não há duas sem três

Durante a tarde de hoje, online:

Eu - olha a X. gostou imenso da Mj. lol
J. - e não gosta de mim :(
Eu - A X. não gosta de ti?
Eu - A X. gosta lol
J. - mas nunca te mandou msg a dizer que gostava de mim
Eu - Oh mulher mas eu também nunca lhe enviei sms a perguntar o que ela tinha achado de ti lol
J. - opa não vês que estou a brincar?
Eu - Sim. Mas gosto de fingir que estamos a ter uma conversa séria...
J. - ...



quinta-feira, 27 de agosto de 2009

6

Espreito Lisboa ao anoitecer pela janela. É um hábito. Uma obrigação que me foi imposta pela vida. Primeiro obriguei-me. Depois habituei-me. Respiramos de outra forma quando aprendemos a olhar o que nos rodeia. Costumo parar mais segundos nas árvores. Gostaria de ter tido uma casa numa árvore. Seria o espaço perfeito para me entregar à solidão. Dificilmente deixaria alguém entrar. Não porque assim o decidisse mas porque a solidão quando aceite por escolha não deixa portas abertas. E eu desde muito cedo que gosto de portas fechadas. Se entreabertas, eu não consigo ficar em paz. São como os livros que não acabo de ler. As folhas que ficaram por ser tocadas não me deixam em paz. É uma tortura. E a minha vida hoje é assim. Cheia de portas abertas. Cheia de páginas escritas por ler. Existe um intermédio em mim que não é vivido. Onde a vida parou. Como se fosse um segredo que não pousasse de ouvido em ouvido.

Há uma ligação entre Lisboa e o que sou. Senão tivesse vindo estudar para Lisboa não seria quem sou. Não sei quem seria. Se calhar, seria melhor pessoa. Lisboa mostrou-me o mundo. Sim, penso ter sido isso. Lisboa é mais mundo que muitas outras cidades. Mas também é mais triste. Tornei-me mais triste em Lisboa mas menos deprimida. Antes de vir para Lisboa achava que todos os dramas do mundo passavam por mim. Eu estava no centro. Anos depois, descobri que era ingenuidade. Anos antes, chamava isso de egocentrismo. Ingénuo é aquele que acha que o mundo corre em seu redor. Era isso que eu era. Ingénua. Lisboa pegou na minha mão e mostrou-me porta à porta. Rua a ruela. Pessoa a pessoa. Desfez-me muitas ilusões. Acordou-me. Essa é a melhor expressão. Antes queria acordar mas foi preciso chegar a Lisboa para acordar. E não acordei logo. Não. Atravessei um percurso. E depois acordei e foi nesse ponto geométrico que me tornei eu. Certo dia, não consigo dizer ao certo quando, senti que esta seria a cidade onde poderia morrer. Não que quisesse morrer já. Mas poderia morrer cá. De olhos no rio. Penso que esta visão seja oriunda do meu romantismo entediado e escondido. Não obstante a certeza da morte, quero viver ainda muito. Talvez porque sinta que na maior parte do tempo eu não vivo, eu sobrevivo. Dentro de mim, é o que tenho vindo a constantar. Há um certo desencanto enraizado em mim que me tem vindo a afastar da vida. Uma sensação de desapego pelas coisas. Não é um drama. Os dramas resolvem-se não nos matam. Por vezes, sentimos que estamos perto do abismo. Mas é um pensamento errado esse. Mais cedo ou mais tarde iremos tomar consciência desse facto. A capacidade de alistarmos dramas na nossa vida é uma das diferenças entre nós e outros animais. Vejamos, basta ter de passar a hora de almoço para que nasça um drama. - Se passou a hora de almoço, as cozinhas dos restaurantes fecharam, os outros clientes comeram a comida toda, não resta nada. Não podemos ir ao Mc Donalds porque faz mal. E agora, como vamos passar o dia sem almoçarmos? Porque é que isto aconteceu? Porque não consegui almoçar? Que quer dizer? Será que é um sinal? De Deus? Do Diabo? Das outras pessoas? Tenho que ler o horóscopo de hoje! Preciso de uma resposta. - Isto somos nós. Ou quase todos. Há quem vá imediatamente ao Mc Donalds. Isto lembra-me o que os outros animais que não nós os humanos fazem. Caçam e alimentam-se. Mesmo que tenha passado a hora de almoço. Existem muitas vantagens em não ter pensamento racional. E outras mais para o ter. Ter ou não ter, eis o drama.


terça-feira, 25 de agosto de 2009

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Apetece-me fugir. Fugir como antes. Fugir porque sim. Porque fugir era simplesmente sentir-me protegida.

Tenho saudades de chorar. Chorar a sério. Deixar tudo sair. Fazer o luto dentro. E não o luto que os outros veêm. Esse está feito. O outro será iniciado quando conseguir chorar. Preciso de te chorar. De te assassinar em mim. Uma morte violenta. Contigo, só assim poderia ser.

Enquanto isso, permaneces. Mexes. Atrapalhas. Entopes. Magoas. Estupidamente magoas.

É difícil deixar-te ir. Não porque sejas inesquecível. Bastaria pensar nos teus defeitos para te desejar riscar da minha vida. As tuas qualidades não os superam em nada. A questão foi achar que eras uma mulher frágil bonita. Eu não acho piada a mulheres frágeis. Mas em ti, puxou-me. E viciou-me. Já disse uma vez. O desafio e o achar que consigo tudo, trazem-me cega no dia a dia. E aí, dificilmente consigo discernir quais as lutas em que mereço ser guerreira. Deveria ter percebido que eras o caminho da derrota. Mas custar-me-ia mais resistir-te. Mea culpa.

Deixar-te ir é aceitar o impacto que tiveste em mim. A mudança que imperou. A vulnerabilidade de mim. E isso, não o assumo. Muito menos o aceito.

Tenho saudades da miúda fantástica que eu era contigo. E tenho pena de já não a reconhecer em mim.

Tenho dito.




sexta-feira, 21 de agosto de 2009

.1

O que é que é isto de me sentir a adormecer nesta vida?

Qual o limite do meu cansaço emocional?

Quanto tempo é que passou desde que acordei da ilusão de ti?



Puff. Ás vezes, apetece-me bater-me. A ti, não?

domingo, 16 de agosto de 2009

Luminoso Afogado - 1

"tens de cansar a ideia de que podes suportar o vazio, o aborrecimento deste país.

tranquiliza os dedos passeando-os, ao de leve, pelo abismo dos mapas que se transformam em lagos de treva.

este vácuo, visco de espelhos.

perguntas-te: para quê apavorar-me?
é para lá dos teus olhos fechados que o mundo acorda. mundo que ainda não sabes descrever.

cala-te.

olha a fotografia, nela se perdeu o teu sorriso, amarelece uma ilha.
ausência e culpa sobem-te ao espírito, e violência, violência com que rasgas a fotografia, por não poderes suportar a minha ausência e a tua culpa.

não sei o que isto tem, ou teve, de irreparável que me dá vontade de te chorar.


para que servirá contar-te todas estas histórias?
teu corpo de afogado arrefece algures em mim, dentro da minha infinita paciência de veladora.
nunca conheci outra vida que não fosse a de gastar tempo de porto em porto. vida sem sentido.
em todos os portos acordava com alguém a meu lado. tinha medo, medo de saber de que é que tinha medo.

tento cicatrizar estas chegas de sal reabertas pelo teu naufrágio."



Al Berto.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

5


É porque a fé saiu-te das mãos.

Falávamos de abismos. De dar a ponta dos dedos mas não a mão toda. Falávamos dos anos que existem em nós. Anos que não vivemos. A idade que não temos. A dor que nos atormenta mas que não devia existir. Somos jovens. Deveríamos ser jovens. Não ter a preocupação de querer tudo. Porque deveríamos saber ir devagar. Mas faz muito tempo que não sabemos ir devagar. É no abismo da descrença que estamos. Mas ainda existe a fé. Sim a fé existirá sempre. Não estamos no mesmo barco das pessoas que se acomodam. Que aceitam qualquer pessoa. Que se atiram para partilharem uma vida com uma pessoa que não é a pessoa. Mas foi a melhor que encontraram. E aí pensam que dão um murro na solidão. Engano certo. Fazem planos, promessas, gastam palavras e auto-intitulam-se de felizes. Mas não são. Tu e eu sabemos que não são. Desejam o mediano e foi isso que tiveram. Quem aceita por menos do que o tudo não é feliz. No máximo é quase feliz. Será sempre um quase. Nunca um tudo. Não o pode ser. Não é isso que é a paixão. E de todo não será isso o amor.

Foi pela palavra que me dei. Foi pelo corpo que me assumi. Mas nunca pelo gesto eu enredei. Desculpa. Engano-te. Existiram duas excepções. Em que o gesto implodiu na palavra e o tudo nasceu em mim. Mas tu sabes como é fácil chegar pela palavra às pessoas. Como é fácil abrir um coração dessa forma. O falar. Como é fácil falar. Dizer. Discursar. Amar sem amar pela sílaba. O depois. É no depois da palavra assentar que pode ou não acontecer o momento. O começo. É no reconhecer do gesto que se dá a entrega. Agora diz-me. Quantas pessoas reconheceram os teus gestos? O passo que dás. O salto. A entrega. Quantas? Decerto, não saberás. Ou pelo contrário, tens o número em ti. Porque aí o inefável aconteceu. Sei que sim.


Dizia-te. Não me custa o primeiro passo. A troca de corpos. A presença inocente que se vai criando. Nada disso me assusta. Até gosto. Sim, ainda me acontecem as borboletas no estômago. O que me persegue é a continuação. A presença. A permanência. O estado das coisas e a sua constante mutação. Ou melhor, a estabilidade. A calma. A paz. O início da partilha. Ao fim ao cabo tudo é partilha. Interrogo-me aqui. Porque sinto-me incapaz. Tu entendes. A incapacidade que te prende os músculos, que te amortiza o coração, que desfalece a esperança. Que faz com a tua fé seja apenas um prato desfeito em cacos pelo chão.

Dói-me o desatino que me causa esta lucidez de mim. Mais do que me dói, a desilusão daquele que acreditou na amostra que tu lhe ofereceste.

Quanto tempo demorará este abismo?
Quanto mais tempo levará a nossa entrega?

De quanto mais de nós temos de perder para renovarmos toda a escuridão que nos afasta cada vez mais da vida?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

D




Esta mulher é arte.

sábado, 8 de agosto de 2009

C






I'm trying not to fall apart.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

4

Encontraram-se em Barcelona. Não há recordação expressa do ano. A data nunca foi importante. Vinham ambas de outras viagens. Pararam em Barcelona. Não sabiam a razão. Mas ficaram. E agora dizem que foi o destino. Sim, o destino é a aventura da palavra que carrega esta história. E daí nasceu algo novo. Uma vida em comum. Como se desconhecessem que em matéria de vida, existirá sempre uma vida em comum com outra pessoa qualquer. No entanto, agiam como se não o soubessem. Sim. Aquela era a primeira vida em comum que algum dia havia sido vivida. Nada do anteriormente captado tinha importância. A não ser o treino, a armadura ganha para qualquer obstáculo que ameaçasse, que assombrasse este destino. Este começo de vida. E sorriam. Com a ingenuidade de quem nunca conheceu o revês do mundo. Sorriam porque agora tudo fazia sentido. A resposta a todas as perguntas. Estavam a jogar squash com a ilusão, a ilusão tardia da realidade que cumpria a sua penitência num lugar longínquo.

Conto esta história. Por ser bonita. No seu estado mais puro. Conto esta história mesmo tendo deixado de acreditar em histórias. Especialmente as bonitas. Ou de amor. Ou bonitas e cheias de amor. E delas se retiram detalhes. Horizontes cruzados. Primeiras vezes. Tantas primeiras vezes. Mas estas histórias já não me ultrapassam. Por mais que me doa. Dessa ilusão cristalina eu já não me deixo consumir. Basta uma vez. Acreditar uma vez. Caminhar sobre estilhaços de vidro. Para alcançar alguém. E aí percebi, que não é ao alcançar alguém que se alcança o amor. Não. Desenganem-se os tolos. O amor. Essa ideia que fecunda toda a humanidade, não é alimento para quem tem fome. Não é milagre ou oásis. Não é o beijo que se some nos lábios logo pela manhã. Não é a palavra escrita ou a falada no ouvido. Ou a promessa que se faz. O amor. Esse maldito apenas serve para percebermos porque é que a vida, em apenas alguns momentos, é aposta ganha sobre a Morte.


Elas não se alcançaram em Barcelona. Não foi isso que aconteceu. Posso dizer que elas sim foram alcançadas. E aí tudo aconteceu. Sim, tudo.

domingo, 2 de agosto de 2009

A Noiva Judia - 1

"E se mais houvesse não bastaria. A satisfação abre também as suas portas sobre nada. Ficamos quietos e não sabemos. Comemo-nos na boca e no peito. E por detrás de tudo isto há um fundo que é uma paisagem gelada."


Pedro Paixão


terça-feira, 28 de julho de 2009

3

De fugazes se fazem as paixões. Das inesperadas chegadas às fatídicas partidas. Já é tarde para me arrancar do que dei e do que me deram. E este cansaço que leigos, apelidariam de revolta. Satea-me os dias e lapida-me a alma. Não sei. Não sei o que poderá restar de mim. Sei apenas que o tempo me tem feito menos. Tem-me tomado arisca nas entregas e desfalecida nos actos. Sei que a guerra já não se faz pela minha capacidade de luta, resistência e persistência. Foi uma lição dura de aprender. Não bastarão apenas duas mãos para trazerem a vitória ao leito do amor. Da paixão. Do que, quer que seja, que nos puxa para terrenos incertos ou nos alimenta.. E no hoje, sei que pouco vale, o esforço de mim.
Tenho dito.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

B






The way I try to do


quarta-feira, 22 de julho de 2009

2

Há uma espera contida nos meus passos. Mesmo quando pulos de impulsividade os antecedem. Contigo foi assim. Por cada sorriso. Uma espera. Um turbilhão de quase tudo. Sim, contigo foi assim. A paz não seria algo a alcançar. Eu não sei ser paz. Esse ponto de equilibrio é uma raridade. E para coisas raras basto eu. Por cada salto, um sim. Só te soube responder afirmativamente às perguntas que me colocavas. Tantas vezes em silêncio. Tantas vezes nos caminhos perdidos das madrugadas. Deverás entender que certas coisas alteram a substância de outras. Porque quando uma decisão é tomada, o rumo aquieta-se a nós de forma diferente. Como se as cores se transformassem. Como se o rosto ganhasse uma nova expressão. No entanto, esse conhecimento não será automático. Quanto mais garantido. Lembra-me, de que cor é o teu rosto. Que expressão se ambienta na tua face quando estás a dormir? Espera. Se o teu sorriso tiver mudado não me digas. Não me desfaças a imagem que ainda mantenho de ti. De golpes em cheio está o meu coração farto.

Ainda ficaram tantas músicas por dançar.

Palavras de serenata aos nossos ouvidos.


É isso. De tudo o que não sei, saberás tu melhor do que eu.

terça-feira, 21 de julho de 2009

II - Não há duas sem três



Isto há coisas fantásticas. A minha profissão (ai que pareço gente grande a falar) não tem um horário certo. Nunca consigo ter a certeza que vou conseguir sair a horas. Mais vale não ter ilusões a esse respeito.


Ontem eram 21h estava a sair do escritório e o telemóvel toca:

J. - Então amiga?
Eu - Estou a sair agora do escritório. (suspiro)
J. - Então vá até já.
Eu - Até já.


Chegada ao metro, uma nova chamada, agora da S.:

- Bem, é a J. que liga e agora tu??
- Preciso de um favor teu!
- hmmmmm
- Quando chegares a casa, vai estar um papelinho no elevador a dizer que foi encontrada uma capa de edredon no átrio e que está no 1º Esq.
- hmmmm
- Vais lá pedir a capa, ok?
- Pronto, sim eu vou.


A partir do momento em que chego a casa é tudo a correr, trocar de roupa, fumar um cigarro, começar a preparar o jantar, lavar loiça, fumar um cigarro, trocar bitaques com elas as duas, sentar-me, jantar, lavar loiça, falar mais um pouco com elas, preparar almoço do outro dia e atirar-me para o sofá.

Lá em casa, a cozinha tem vários armários e está tudo dividido por nós as três. Numa das divisões encontra-se a minha louça e os meus fantásticos tupperwares. Qual o meu espanto, quando ao procurar um para usar, vejo que todos desapareceram!

S. - já viste a nossa supresa??
Eu - Só vi que as minhas coisas desapareceram!!!!
S. - Faz parte da surpresa, olha!
Eu - Ah Ah está tudo tão arrumado! Wow!

Pois é, as minhas excelentíssimas colegas, decidiram arrumar todos os meus armários da cozinha. Ficou tudo lindinho, arrumado, organizado, coisa que eu nunca teria conseguido fazer. Teria basicamente começado bem e depois atirado tudo lá para dentro num ataque de séria impaciência.

S. - Amanhã se calhar chegas e tens o quarto arrumado, porque aquilo está muito confuso, e aproveitei e abri-te a janela do quarto para arejar. (A minha S. é assim, tudo em mim lhe parece extremamente confuso)
Eu - Ahhhhhh! Estão à vontade. Eu não me oponho. Se quiserem mudar os lençóis e fazer a cama de lavado. Também ando a precisar de uma massagem. Ou se quiserem passear nuas pela casa. Está tudo bem. Eu aceito tudo. A sério que sim.

(errr esta última parte não aconteceu de facto.. mas posso sempre aproveitar o blogue para lhes dar umas dicas inocentes... )

Assim, de facto, é muito bom chegar a casa.

Pronto, J. aqui tens a homenagem que vos prometi ontem.

Quem é um amor, quem?

sábado, 18 de julho de 2009

A manhã de Sábado.

Poderia dizer que quando fosse grande gostaria de ser como as minhas colegas de casa. São cheias de dotes. Arranjam as suas mãos, os pés, tratam da sua própria depilação. Fazem bainhas. Lavam a casa. Tratam da roupa. Tudo perfeito. Tudo bonitinho. Pois bem, eu terei outros dotes mas estes nem de perto. Portanto, há que tratar das lacunas da nossa vida.

Assim, se não sei arranjar as minhas mãos, pés, sobrancelhas, buço (esta é uma daquelas palavras lindas lindas), e todo o resto, vou à minha esteticista que para além de competente é uma giraça e tem sempre bolachinhas para mim.

Depois temos o tema da roupa. Sim, já aprendi a por uma máquina de lavar a funcionar e de facto, não é nada difícil. Mas engomar????? E são os produtos que ajudam a engomar, e depois é preciso montar a tábua?? E depois colocar água no ferro. Hein?? Não. Não tenho paciência. Parece-me tudo muito complicado. E por existirem tantas pessoas como eu, inventaram-se as lavandarias. Yupiiiii! Portanto, vem a senhora da lavandaria buscar a roupa á segunda e devolve na quinta. Quase perfeito.

Mas ainda existe a questão do limpar a casa. E há o aspirador. E a esfregona. E produtos para uma coisa e para outra. E folhas de jornal para os vidros. E pó, Meu deus, tanto pó. E portanto, uma vez por semana a casa tem de ser limpa. Chegou a minha vez de limpar. Pânico. A minha colega S. resolveu enviar-me um mail com tudo explicado passo a passo. Mas não resultou. É complicação a mais. A primeira vez correu muito mal. E comecei logo a imaginar as vezes seguintes. E os suores frios vieram. E liguei á minha mãe a pedir socorro. Até que pling, surgiu a solução: pedir à senhora que faz a limpeza do escritório, para salvar-me desta aventura uma vez por semana. Agora sim perfeito.

Mas hoje o que interessa é a parte da esteticista. Bem, a regra é que todas as manhãs de sábado são reservadas ao cuidar de mim. Umas vezes é doloroso, outras é relaxante. Mas o resultado é sempre bom. É o momento de descarte do stress semanal. Da tensão acumulada nos ombros. Do (tentar) não pensar em nada.

Hoje era dia de ser tratada como uma princesa. Para tal a manhã finalizar-se-ia com uma massagem quase integral. Cria-se o ambiente zen, com música a combinar e muito silêncio. E eu que nem gosto de silêncio.
A massagem começa, eu sinto-me nas nuvens, a pensar como a vida é fantástica e como eu mereço este mimo. Passado uns segundos a minha mente começa a trabalhar:

Ahhh isto é tão bom!! Mas que vou fazer a seguir? Precisava de comprar velas. Talvez devesse ir ao Allegro. Mas deve estar cheio de gente. Se calhar, vou mas é ao chiado com o jornal e as revistas, sentar-me numa esplanada. Ou poderia ir à praia. Iria saber mesmo bem! ahh mas sinto-me tão cansada, se calhar o melhor é ir para casa dormir a sesta. Oh mas que perda de tempo! Já sei vou ligar à amiga x e vamos dar uma volta. Seria tão giro! Talvez ao chiado, ando há tanto a tempo a namorar a máquina da Nespresso. E poderia depois comer um gelado. E apanhar sol e conversar imenso. Não sei. Se calhar não é bem o que me apetece. Ai!

- Narcisa, gostou? Conseguiu descontrair? Estava extremamente tensa.
- Hum? Hum? Já acabou?

E isto é a minha vida. Ter oportunidade para descontrair e já estar a pensar no que irei fazer no depois. Eu até a dormir devo pensar. Se calhar, pensar é como respirar. Sim, deve ser por aí.

Saí irritada da minha manhã perfeita e o que decidi fazer?

Bem, ir para casa e dormir a sesta.






sexta-feira, 17 de julho de 2009

Esta coisa de gostar de alguém.

"Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.

Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?


Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós. "

Fernando Alvim

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A








So be it, I'm your crowbar
If thats what I am so far
Until you get out of this mess


I'll wait by the backstage door
While you try to find the lines to speak your mind



terça-feira, 14 de julho de 2009

I - Não há duas sem três



Lá em casa somos três. Completamente diferentes entre si. Eu irreverente, independente, completamente louca. A J. easy going, com um riso estridente, e a minha companhia das noites em que ambas estamos sozinhas. Depois, a S. a mais conservadora de todas, romântica, lutadora e picuinhas.


Conheço a S. desde os três anos. Já passamos por muito juntas. A amizade viveu sempre em nós. Ainda nos lembramos de quase tudo da nossa infância e adolescência. É a minha amiga mais antiga.

Depois a J., conheci quando me mudei para esta casa. Aos poucos fui entrando e ela foi-me deixando entrar. Agora confessa que tem medo de mim… e eu sinceramente não imagino o porquê. Mas lá que sente medo sente. Se me aproximo muito, ela dá saltinhos. E eu já o faço de propósito. Não consigo resistir.

A J. ficou traumatizada com a morte do MJ. E agora só ouve música dele e canta. Canta muito. E deprime-se. E fala que ele morreu. E então agora todos podemos morrer. Enfim, não há paciência.

J. – Ai amiga isto deixa-me mesmo mal… ele estava vivo e depois morreu!
Eu – (silêncio)
J. – És capaz de falar comigo sobre isto? Mas estás a ouvir-me??
Eu – Opa que queres? Ele estava vivo e agora morreu. E é isso!
J. – Ah! Detesto quando não concordas com o que digo!
Eu – (silêncio)


Na mesma madrugada:

J. – Tenho ali toucinho do céu, vamos comer?
Eu – Simmmmmmmmmmmmmmmmm.
(no entretanto, entre a segunda e a terceira colher de toucinho, pego num cigarro e num isqueiro)
J. – Mas vais fumar?? Tens de comer primeiro!
Eu – Mas eu gosto de comer, fumar e comer. Depois a boca fica docinha…
J. – Mas não pode ser! Tens de comer primeiro! Quem fazia isso era o meu tio, comia e fumava ao mesmo tempo!
Eu – Mas eu como e depois páro de comer. A fumar e a terminar de fumar. E depois é que volto a comer…
Ela – Oh! Ele também não comia e fumava ao mesmo tempo!
Eu – hmm…
Ela – E ele também morreu…
Eu - ??????

Acho que devíamos ter um big brother lá em casa. É que sinceramente…


Ontem ao final do dia:

Eu – Olha eu e a J. estamos com desejo de hambúrguer e hoje vamos ao pé de casa comer um. Queres vir?
S. – hmmmm… mas eu hoje ia fazer raviolis com atum e bechamel e queijo no forno…
Eu – Mas eu não consigo comer mais bechamel que enjoo imenso…
S. – Eu ponho pouco….
Eu – Mas eu e a J. queremos hambúrguer e pizza … é o nosso desejo…
S. – Os raviolis iam ficar mesmo bons…
Eu – mas nós queremos hambúrguer…
S. – Mas vamos lá buscar os hambúrguers e vimos comer para casa?
Eu – Não! Qual vir para casa! É para se comer lá, que eu preciso de ver gente!!
S. – Mas aquele sítio é horrível… Podíamos comer em casa!
Eu – Não! Comemos lá, S.!
S. – E tu chegas tão tarde…
Eu – Ai! Não me enerves…! Até logo
S. – Pronto. Até logo.

E é isto. Se estou chateada ou fodida tenho-as a bater à porta do meu quarto a perguntarem o que tenho. E porque estou assim. E não vens jantar connosco. E não tiraste o tapete do estendal. E lavas hoje a loiça. E porque fumas tanto. E vais beber álcool agora? E isto. E aquilo.

Ou seja, um ménage à trois sem a parte do prazer. Só as chatices que podem vir antes ou depois. Santa Maria!

Mas sim. Adoro-as. E pronto. Durante os tempos não o volto a dizer. Já sabem como sou.



1



Existe um tempo de escuridão dentro de mim. Um tempo de clausura. De sentir amordaçado. Incumbência de solidão. Ração interdita aos sonhos. Muros esguios que traçam o limite do espaço a ocupar. Sim. Existem em mim óvulos crescentes de negritude. De sufoco extremo. De dor irremediável. Existe um poço incurável de contraditório. Um mundo selvagem inconquistável.


Portanto não me peças que me dispa. Que te mostre a matéria de que sou feita. Não me peças que te disponibilize. Que te deixe folhear o que tento adormecer. O que pretendo alienar.

Não o farei. Não o permitirei.

Não queiras explorar o que de menos bonito trago. Sequestrado no peito.

Mas senta-te. Tenho duas almofadas que podem ser tuas. Um abraço que não foge e se molda ao teu corpo.

E tens a minha janela que assedia a noite pela cidade. O esboço tardio da lua sobre o meu corpo. Tens-me a mim como testemunha. Já o sou. Sei-o melhor do que tu. Há tanto que sei melhor do que tu. Sou os olhos que disputam a cegueira. Que embatem o muro e ultrapassam-no.

Não, não tenhas dúvidas.

Querendo, eu sou o tudo.

Serei o teu tudo.